Portugal já acolheu mais de 1500 refugiados desde 2015

Portugal já acolheu mais de 1500 refugiados desde 2015


Governo fala em sucesso, mas o balanço não é consensual.


O número de refugiados no mundo bateu recordes e ultrapassou os 70 milhões de pessoas, em 2018, avançaram as Nações Unidas ontem, véspera do Dia Mundial do Refugiado.

Em Portugal, o Governo diz que o país tem feito a sua parte, tendo acolhido nos últimos quatro anos 1552 refugiados, maioritariamente vindos da Grécia e de Itália. O Ministério da Administração Interna assegura que Portugal é o “6.º país da União Europeia que mais refugiados acolheu” ao abrigo do programa de recolocação e que tem “respondido sempre positivamente a todas as situações de emergência que têm sido colocadas nos últimos meses”, pode ler-se num comunicado enviado às redações.

Mas Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, tem uma opinião diferente. “Os refugiados que vieram para Portugal foram poucos, não foram nem de perto os números anunciados”, garante ao i o representante em Portugal da organização não governamental.

“Se compararmos a população dos países com a percentagem equivalente de refugiados, Portugal foi o país da Europa que menos refugiados recebeu”, acrescenta.

Pedro Neto explica que Portugal escolheu um modelo de acolhimento demasiado centrado nas soluções e propostas dos municípios: “Este acolhimento foi feito de uma forma um pouco desorganizada. Deixou muito a desejar a capacitação destas organizações, que por vezes pouco mais tinham do que a sua boa vontade ou a sua solidariedade para acolher estes refugiados. E isso, infelizmente, não basta”. 

Na centena de municípios que acolheram refugiados, há casos mais felizes que outros. Mas, de um modo geral, o espírito de solidariedade parece conseguir face face aos obstáculos.

Casos de sucesso ou de boa vontade?

O município de Alvito, no distrito de Beja, aceitou o desafio e recebeu, no final de dezembro do ano passado, um casal com dois filhos jovens do Egito, através do Programa Voluntário de Reinstalação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Ana Caeiro, responsável pela comunicação da Câmara Municipal do Alvito, confirma ao i que os refugiados ainda se encontram a viver no “coração do Alentejo” e que “não houve quaisquer constrangimentos na sua integração na comunidade”. “O processo tem sido muito tranquilo. E existe um espírito de missão de todos, não é um processo ‘técnico’ mas um processo de afetos”, considera.

Segundo a responsável, as diferenças culturais entre os portugueses e os recém-chegados não constituem um obstáculo e todo o processo de integração tem sido pacífico. Para ajudar a adaptação, a família está desde o início a ter aulas de português. 

Esta não é a primeira vez que o Alvito acolhe refugiados. Em maio de 2016, três jovens sírios foram recebidos “de braços abertos” na localidade e ainda hoje vivem no concelho. “Apesar das dificuldades de acolhimento dos três jovens sírios é gratificante que a sua integração tenha sido um sucesso e que os três residam ainda no nosso concelho e se encontrem a iniciar os seus projetos de vida. Receber uma nova família é um sinal de que uma comunidade com uma pequena dimensão assume uma responsabilidade global e contribui na medida das suas possibilidades. Estamos todos a dar o nosso melhor”, diz ao i o presidente da Câmara de Alvito, António João Feio Valério.

A cerca de 450 quilómetros de Alvito, também Gondomar tem recebido refugiados nos últimos tempos. Em janeiro deste ano, o município acolheu uma família oriunda do Sudão – uma mãe e quatro filhas; em abril chegaram dois homens da Nigéria e da Crimeia; e, mais recentemente, em maio, um casal com uma filha menor de nacionalidade angolana. Ao todo, Gondomar acrescentou 10 refugiados à sua população, confirmou ao i Cláudia Vieira, adjunta do presidente da autarquia e responsável pela área social. Por enquanto, o desafio ainda tem sido conseguir que os refugiados sejam autónomos – que se integrem na sociedade e não dependam das instituições que os apoiam, neste caso da Cruz Vermelha. “Estes refugiados chegaram a Gondomar ao abrigo de um programa da Cruz Vermelha financiado pelo Alto Comissariado para as migrações”, explica a responsável. Contacto pelo i, Adão Moreira, responsável pela delegação da Cruz Vermelha de Gondomar e Valongo, refere que esta autonomização deve ser feita até aos 18 meses, momento em que termina o apoio financeiro. “O maior desafio é a língua e como para abrir uma turma para o curso de português é preciso 25 pessoas, foi preciso conseguir uma professora voluntária”.

Ainda com o desfecho em aberto, para já o balanço é positivo. “O processo está a correr bem mas só vamos ter efetivamente a certeza de que cumprimos os objetivos quando as novas famílias forem completamente autónomas”, reforça Cláudia Vieira. 

De acordo com dados do Governo, há motivos para estar otimista:todos os refugiados têm tido acesso à saúde, 100% das crianças e jovens em idade escolar frequentam o sistema de ensino e 92% das pessoas acederam à aprendizagem da língua portuguesas.

Além do programa de recolocação e reinstalação, Portugal tem acolhido alguns dos migrantes resgatados do Mediterrâneo por barcos de ajuda humanitária. Ao todo, foi oferecido asilo a 122 pessoas  retiradas do mar pelos navios Lifeline, Aquarius I, Diciotti, Aquarius II, Sea Watch III, Alan Kurdi, além de outras pequenas embarcações.