Prémio da Airbus. CDS vai questionar acionista da TAP e PCP pede que se retirem consequências

Prémio da Airbus. CDS vai questionar acionista da TAP e PCP pede que se retirem consequências


Deputado Hélder Amaral diz que CDS vai questionar investidores com notícias do Sol e do i. Para o PCP, Governo ignorou o assunto até hoje.


O CDS vai questionar o acionista privado da TAP sobre a forma como comprou a companhia aérea portuguesa, dizendo ser preocupante a possibilidade de terem sido usadas engenharias financeiras. Já o PCP diz que o Governo nunca quis discutir a forma como a TAP foi comprada por ter a postura de que era um mal menor, num cenário em que se conseguiu recuperar o controlo da companhia aérea. O semanário Sol noticiou na última edição que, com a troca da encomenda de 12 aviões A350, cujo valor da pré-encomenda já tinha sido pago pela companhia portuguesa, por outra de meia centena de aviões dos modelos A320 neo e A330 neo, David Neeleman conseguiu encaixar um prémio de cerca de 70 milhões de euros – dinheiro que usou depois para comprar a TAP. Ou seja, este “prémio” dado pela Airbus contou como investimento privado.

A Atlantic Gateway – de David Neeleman, dono da companhia aérea brasileira Azul, e de Humberto Pedrosa, o patrão do Grupo Barraqueiro – pagou 354 milhões por 61% da empresa (dos quais só 10 milhões foram parar ao Estado).

Ao Sol, a TAP disse não poder “comentar os investimentos realizados pelos seus acionistas na privatização mas que, evidentemente, são do conhecimento do Governo Português e da Parpública”. E a Atlantic Gateway afirmou que as partes cumpriram “todas as obrigações de capitalização da TAP que resultaram do processo de privatização”.

Pretende-se um parceiro sério e responsável, diz CDS Em declarações ao i, Hélder Amaral, deputado do CDS, reagiu à notícia referindo que é “preciso perceber as verdadeiras intenções do acionista privado, a origem de recursos, desde logo os prémios, e ainda perceber se estavam no contrato e acordados com quem”.

“Obviamente, mesmo privatizada, o que nós sempre defendemos, pressupunha-se que o investidor privado, o parceiro, fosse uma pessoa do setor, interessada em fazer crescer a TAP, séria e responsável”, acrescentou.

Hélder Amaral afirma ainda que não se pode “ignorar todos estes sinais, este ruído e a aparente desagregação entre a TAP pública e a TAP privada”, deixando claro que o CDS nunca teve conhecimento do prémio concedido pela Airbus: “Em nenhum momento ficou a dúvida sequer de que haveria este bónus”.

“Para nós é surpreendente, preocupante, que esse bónus não tenha revertido para a República e para os cofres do Estado e possa eventualmente ter revertido para o privado, permitindo uma engenharia financeira. Vamos obviamente querer saber se foi assim”, adiantou ainda, explicando que serão colocadas todas estas questões à administração da TAP, que irá ao Parlamento no dia 25.

Daquilo que se recorda, “houve uma carta que circulou no Ministério da Economia, e que à data chegou até à comissão dos Transportes, em que a própria Airbus perguntava ao governo como é que era, porque estava disponível para estudar um conjunto de compensações pela compra dos aviões, o que era normal”. Não se recorda, porém, se o Governo respondeu às questões da comissão.

PCP pede que se retirem consequências “A 20 de janeiro de 2016, numa reunião da comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, talvez a primeira vez que Pedro Marques foi à AR, o PCP questionou a situação da TAP e a encruzilhada em que estava no cenário de privatização, que entretanto teve um compasso de espera com o novo Governo”, começou por lembrar o deputado Bruno Dias, acrescentando que já na altura adiantou alguns detalhes relativos à questão dos bónus concedidos com a troca de encomendas.

“O Governo escusou-se na altura a entrar nestes detalhes, que pareciam um bocadinho estranhos para alguns, estas coisas dos A330 neo e dos A350 pareciam japonês para alguns. E o Governo, durante estes anos, nada disse – Pedro Marques tomou posse, deixou de ser ministro, e nunca esta questão foi respondida”, esclareceu.

Considerando que da parte do Executivo houve “a postura do mal menor”, dado que conseguiu retomar uma posição de maioria do capital, Bruno Dias diz que, para o PCP, esta nunca foi a “solução mais equilibrada”: “Achamos que devem ser retiradas consequências do que parece ser claro”. E conclui: A TAP “deve regressar ao controlo público concreto, efetivo”.