O presidente do PSD já começou a fazer contactos para preparar a lista para as eleições legislativas (tem a prerrogativa de escolher todos os cabeças-de-lista), mas, internamente, as contas começam a ser feitas para o dia seguinte às eleições legislativas de 6 de outubro. O Manifesto X, apresentado ontem pelo antigo secretário de Estado da Juventude, Pedro Duarte, é mais um sinal de que há sociais-democratas a prepararem o futuro após as eleições, ou seja, num cenário de disputa interna e de derrota eleitoral. Mesmo que ninguém o assuma ou até recuse tal ideia nesta fase da vida política.
Ontem, Pedro Duarte contou com uma presença inesperada na apresentação formal das linhas fundamentais do documento: Luís Montenegro, o challenger de Rui Rio que, no passado mês de janeiro, pediu eleições diretas para o partido mudar de liderança. O antigo líder parlamentar do PSD chegou no momento em que o rosto principal do Manifesto X se preparava para discursar, segundo a Lusa – um apoio ao amigo e colega de curso simbólico mas discreto, porque Montenegro nem falou aos jornalistas. O convite tinha sido feito por Pedro Duarte para o momento da divulgação de um documento com cem medidas para servir de contributo “complementar” ao trabalho dos partidos.
Mais, o antigo secretário de Estado fez questão de esclarecer que o cenário de candidaturas alternativas no PSD “não se coloca”. O objetivo, assegurou, é a unidade dos sociais-democratas e o futuro da liderança só será discutido em congresso, algures no início de 2020.
“Esta é uma fase de unidade dentro do PSD, é uma fase em que considero que há espaço para dar contributos positivos e construtivos”, declarou Pedro Duarte aos jornalistas.
Contudo, no espaço de duas semanas começaram também a posicionar-se várias figuras, como o antigo vice-presidente do partido Jorge Moreira da Silva. Luís Montenegro tem alguma vantagem na corrida não só porque desafiou o líder para diretas em janeiro deste ano, mas também porque vai fazer um curso intensivo sobre liderança em França já a partir de julho (noticiado pelo Expresso), sinalizando que está a preparar a sua entrada em cena após as legislativas. Tudo estudado ao milímetro, segundo adiantou ao i um destacado militante do partido.
Na lista de posicionamentos internos existem outros nomes que farão o seu caminho também a partir de 7 de outubro. Miguel Pinto Luz, antigo líder da distrital do PSD/Lisboa, é um deles, mesmo que o próprio tenha garantido lealdade a Rio numa entrevista recente ao DN e à TSF.
Se o PSD tiver uma derrota eleitoral, o seu nome é apontado no partido como potencial candidato. Mas, até lá, a ordem é a de não atacar Rio e mostrar disponibilidade para colaborar. Na lista de potenciais candidaturas há quem aponte no PSD mais alguns nomes, como o do comissário europeu Carlos Moedas, a personalidade que foi mandatária de Paulo Rangel nas eleições europeias e tem sido colocada como hipótese para vir a encabeçar a lista do PSD nas legislativas pelo círculo eleitoral de Lisboa.
Propostas Ontem, Pedro Duarte apresentou cem metas para aplicar num prazo de dez anos, com outro apoio de peso, o do general Ramalho Eanes. Em relação ao Manifesto X, Pedro Duarte considerou que é um contributo cívico, “um espaço complementar” ao dos partidos, sem ser “contraditório e muito menos concorrente”. Dito de outra forma, o ex-deputado quis afastar a ideia de uma espécie de programa alternativo ao do PSD. Na lista de propostas preparadas pela plataforma cívica destacam-se, por exemplo, rendimento básico universal ou a flexibilização laboral, com contratos sem termo, mas com porta aberta ao despedimento caso a empresa enfrente dificuldades financeiras. Além disso, existem metas como a redução da dívida para 75% do PIB ou baixar o índice de pobreza – tudo com um discurso e uma mensagem ao centro, porque é no centro que está o bem-estar das pessoas.
Quase à mesma hora, o presidente do partido, Rui Rio, esteve em Viana do Castelo na apresentação do livro E agora, Portugal, do ex-deputado Eduardo Teixeira. À margem do evento, Rio quebrou o silêncio de dias para falar dos dois anos da tragédia de Pedrógão Grande e do seu dirigente nacional Álvaro Amaro (ver peça ao lado). Mas não só. Aproveitou o momento para criticar os aumentos da função pública previstos no programa eleitoral do PS. “Não concordo porque os aumentos da função pública não devem estar no programa eleitoral, [mas depender] do crescimento económico”, disse Rio, citado pela RTP1.
O líder do PSD falou 24 horas depois de o comentador televisivo e antigo presidente social–democrata Marques Mendes ter afirmado, na SIC, que o PSD “é um enigma. Está desaparecido em combate. É um vazio de ideias”.
Apesar das críticas, entre os sociais-democratas apoiantes de Rio, a mensagem é simples: a direção está a preparar o programa eleitoral e deverá ter tudo a postos nas próximas semanas.
Ângelo Correia, membro do conselho estratégico nacional, assegura ao i que “ está para muito breve a apresentação do programa” e, por isso, “não faz sentido a crítica de Marques Mendes”.