De Madonna à Disney. A linha ténue entre estar in e ofender outras culturas

De Madonna à Disney. A linha ténue entre estar in e ofender outras culturas


A Carolina Herrera não foi a única marca acusada de se apropriar do património de outra cultura. A Victoria’s Secret, a Disney e até a Inditex – empresa que gere lojas como Bershka, Zara e Pull & Bear – já foram condenadas por colocarem à venda peças de roupa idênticas às de outras culturas, sem…


As Rastas da Ministra Da Cultura Sueca A ministra da Cultura e da Democracia da Suécia e líder do partido ambientalista Os Verdes, Amanda Lind, foi recentemente criticada por utilizar rastas no cabelo, um penteado associado à comunidade africana. “Como ministra, não se representa a si mesma. Mas sim à Suécia. E eu não acho correto usar aquele penteado”, escreveu a política de direita Rebecca Weidmo Uve, na sua conta de Twitter. Outra reação veio de Nisrit Ghebil, um jovem artista negro, que escreveu um artigo no jornal Aftonbladet onde afirma que uma mulher branca, principalmente numa posição de poder, “não deveria usar um penteado afro-americano”, especialmente quando jovens negros continuam a ser expulsos das escolas norte-americanas por usarem rastas”.

Victorias's Secert: Penas de índios e estampados chineses A Victoria’s Secret é uma das marcas que recebe mais acusações de apropriação cultural e o palco principal é o seu desfile anual, protagonizado por caras conhecidas. Em 2012, a modelo Karlie Kloss desfilou com uma coroa de penas na cabeça como as utilizadas pelos índios e foi instantaneamente criticada. A presença da modelo na passerele seria mesmo eliminada das transmissões televisivas e a marca pediu desculpa publicamente pelo sucedido. Em 2016, as modelos utilizaram lingeries com padrões inspirados em estampados tradicionais chineses, destacando-se um dragão utilizado pela modelo Elsa Hosk. Telespectadores e críticos não demoraram a condenar a atitude da marca, por ter vestidos mulheres ocidentais com os padrões tradicionais chineses.

A túnica polémica de Isabel Marant Em 2015, uma túnica e uma blusa da marca francesa Isabel Marant geraram polémica nas redes sociais. Os desenhos presentes nas roupas plagiavam, segundo os críticos, as vestes das mulheres Mixe, da cidade de Santa Maria Tlahuitoltepec, em Oxaca (México). Depois de a comunidade se ter mostrado indignada com a atitude de Marant e ter ameaçado levar o caso a tribunal, a designer apresentou um pedido de desculpas, admitiu ter-se inspirado no povo mexicano e reconheceu não ser a autora original das duas peças.

Disney – Tatuagens e pele Castanha causam mal estar Em 2016 a Disney foi atacada nas redes sociais por vender um fato de Halloween para crianças inspirado na personagem Maui, do filme de animação Moana. O fato, além de apresentar um colar de corda e uma saia com folhas de árvores, imitava a pele castanha da personagem coberta de tatuagens que, de acordo com as crenças do povo, devem apenas ser utilizadas por semi-deuses. Alguns protestos diziam que “a pele castanha não é um traje de Carnaval”. Depois das críticas, o fato acabou por ser retirado das lojas. “A equipa por trás de Moana tentou ao máximo respeitar as culturas das ilhas do Pacífico que inspiraram o filme, e lamentamos que a fantasia de Maui tenha ofendido alguns”, disse na altura um representante da Disney.

Quando Miley Cyrus dançou e cantou hip-hop Após a sua atuação durante a entrega de prémios, Video Music Awards, em 2015, a cantora Miley Cyrus foi acusada de apropriação cultural não pelas suas roupas, mas pela sua mudança musical para o mundo do hip-hop. Muitos fãs consideraram a mudança de Miley um truque para subir na carreira. A cantora e dançarina Nicki Minaj, por exemplo, disse que Cyrus não pode viver apenas a parte positiva da cultura africana. “Se queres desfrutar da nossa cultura e do nosso estilo de vida, dançar conosco, divertires-te conosco, dançar o twerk e cantar rap conosco, também deverias quer saber o que nos afeta, o que nos incomoda e o que achamos que é injusto”.

Artesãs mexicanas contra a Zara Tal como a designer Carolina Herrera, também a Inditex – empresa que abrange as lojas Zara, Pull & Bear e Bershka, entre outras – foi acusada de plágio pelo uso de desenhos inspirados nos povos mexicanos. Em 2018, uma camisola com bordados vendida nas lojas Zara foi apontada como uma apropriação indevida dos padrões das mulheres de Aguacatenango, no município de Venustiano Carranza, Chiapas. As mulheres processaram a Zara afirmando que a venda das peças mostrava desrespeito pelos seus antepassados. E María Mendez, uma artesã, disse mesmo que as cópias pela Zara estavam a afetar a venda dos bordados da comunidade, que são uma fonte de receitas vital para a sua sustentabilidade financeira.

O modelo paquistanês dez vezes mais caro Em 2014, o estilista britânico Paul Smith lançou uma sandália semelhante a um modelo que é vendido no Paquistão há mais de 200 anos. Os sapatos foram colocados à venda por 300 libras (336 euros), apesar de o seu equivalente no Paquistão ser vendido por apenas cerca de 30 euros. Muitos acusaram paul Smith de apropriação da cultura paquistanesa e de fazer dinheiro com algo que não lhe pertencia, sem sequer dar créditos à sua fonte de inspiração. Depois das críticas e da polémica gerada, a marca reconheceu publicamente a inspiração nas sandálias Peshawari Chappal.

Indiana, gueixas e berbere: as muitas faces de Madonna A rainha da pop foi acusada diversas vezes, ao longo dos anos, de se apropriar de outras culturas. Em 1998, Madonna posou para a revista Rolling Stone utilizando roupas indianas e no ano seguinte participou numa sessão de fotos para a revista Harper’s Bazaar inspirada nas gueixas japonesas. No ano passado, a cantora apareceu no palco dos Video Music Awards com um traje tradicional típico da comunidade Berbere de Marrocos, tornando-se mais uma vez o centro das atenções pela negativa. Os críticos acusam a cantora de, ao usar trajes tradicionais fora de contexto, estar a desrespeitar as diferentes culturas.