“SE A CREDIBILIDADE fosse muito importante para os jornais, os jornais desportivos já tinham acabado” – dizia-me um dia um dos meus filhos.
De facto, nesta época chamada do defeso, as notícias sobre transferências ultrapassam todos os limites do razoável. Um dia há propostas milionárias por um jogador, no dia seguinte as propostas já têm valores diferentes, depois o clube interessado já não é aquele mas outro. Isto, no que respeita às vendas. No que toca às compras, a situação é igual. Numa edição diz-se que o Benfica ou o Porto estão em negociações adiantadas por um jogador, na edição seguinte as negociações afinal ainda não se iniciaram, uns dias mais tarde sabe-se que nunca houve interesse nesse jogador.
E isto repete-se ano após ano.
ESTE VERÃO, o folhetim das vendas centra-se em dois nomes: Bruno Fernandes e João Félix. Sobre o primeiro, já se falou e ‘desfalou’ do interesse do Manchester City, da oferta de 55 milhões do Manchester United recusada pelo Sporting e transformada em… 45 milhões!
Mas a jogada principal relaciona-se com a venda de João Félix. Primeiro não era para vender, depois já era – e até já havia 3 colossos na corrida, com propostas de 120 milhões em cima da mesa.
Ora, já escrevi que, se o Benfica o vender por 70 milhões, é muito bem vendido. E se algum clube der por ele os 120 milhões, ou é um ato de má gestão ou envolve alguma coisa escondida.
RECORDE-SE que Eden Hazard custou 100 milhões ao Real Madrid e trata-se de um jogador consagradíssimo, com experiência competitiva ao mais alto nível, tanto em clubes como em seleções. E correspondeu sempre. É um daqueles jogadores que, como disse Florentino Pérez numa expressão feliz, “transformam o futebol”.
Ora o currículo de Félix é curtíssimo. Jogou meio campeonato na 1.ª divisão, foi uma vez titular na seleção e não jogou nada. É um jogador que parece ter muito talento mas que nunca deu provas a alto nível. Vieira diz que pode ganhar a Bola de Ouro. Pudera! Vieira quer valorizá-lo ao máximo para o vender caríssimo.
MAS AGORA, entre os teóricos do futebol, surge outra teoria: os grandes clubes estão a apostar não nas provas dadas mas sim no ‘potencial dos jogadores’. E aí Félix impõe-se: tem muito poucas provas dadas mas um grande potencial. Portanto, vale muito.
Ora, esta teoria não é verdadeira. Porquê? Porque, por esse caminho, os grandes clubes gastariam milhares de milhões em pura perda.
Esse é o papel dos clubes médios como o Benfica, o Porto ou o Sporting. É descobrir talentos em mercados periféricos, comprá-los baratinhos, rodá-los na Europa – e depois vendê-los aos grandes clubes já como ‘meias certezas’.
Os grandes clubes não podem andar a fazer experiências nem a brincar às centenas de milhões, como os apostadores nos casinos. Por esse caminho, rapidamente se arruinariam.