Sete maneiras  de recordar Zeffirelli

Sete maneiras de recordar Zeffirelli


Nascido nos arredores de Florença entre guerras mundiais, criado entre a comunidade de expatriados ingleses, acredita-se que tenha sido descendente de Leonardo da Vinci. Durante a guerra, juntou-se  à resistência; depois, um amigo apresentou-o a Visconti, que o chamou para assistente em La Terra Trema. Na história do cinema, ficará a sua obsessão com Shakespeare.…


1. La Bohème (1981)

Se obrigasse o exercício a eleger apenas uma das óperas de Franco Zeffirelli, a sua versão de La Bohème de Puccini não poderia ser posta de parte. Quanto mais não seja pelo facto de a Metropolitan Opera de Nova Iorque continuar a apresentá-la exatamente como a estreou, em 1981 (em Milão, o Teatro alla Scala mantém-se fiel a uma versão ainda mais antiga, a de 1963, para a qual desenhou o cenário). Em 2017, o New York Times perguntava a Peter Gelb, que há mais de dez anos assumiu a direção da sala de Nova Iorque com a ideia de atualizar uma lista de produções (incluindo esta), que reação achava que o público teria ao fim de La Bohème como Zeffirelli a pensou. E a resposta foi perentória: “Não vou querer descobrir”.

2. A Fera Amansada (1967)

 Ainda não tinha chegado Romeu e Julieta, viria no ano seguinte, mas nesta que era ainda a sua segunda longa- -metragem já Zeffirelli mostrava ao que vinha. Afinal, eram Elizabeth Taylor e Richard Burton os protagonistas para esta que foi a primeira das várias adaptações de Shakespeare (The Taming of the Shrew) pelas quais foi desdobrando a sua obra no cinema. 

3. Jesus de Nazaré (1977)

Do imaginário coletivo será já impossível apagar a minissérie televisiva ao longo da qual Zeffirelli se dedicou a contar a vida de Jesus de Nazaré, desde antes do seu nascimento até à sua morte (e ressurreição). Com Robert Powell no papel de Jesus Cristo, teve (além do realizador) como argumentistas (um inesperado) Anthony Burgess, autor de  A Laranja Mecânica, que por essa altura já Kubrick tinha adaptado ao cinema, e ainda Suso Cecchi d’Amico. Uma produção entre o Reino Unido e Itália que teve a sua primeira transmissão televisiva na Rai 1 (Itália), na ITV (Reino Unido) e na NBC (Estados Unidos) entre 27 de março e 24 de abril de 1977. E não seria esta a única produção televisiva dirigida por ele, que se estreou no cinema como assistente de Visconti em La Terra Trema (1948).

4. La Traviata (1982)

A história de Violetta e Alfredo, ou a história de dois amantes que decidem fugir juntos, uma história em que tudo há de correr bem até que tudo comece a correr – e acabe – mal. La Traviata foi adaptada por Zeffirelli ao cinema a partir do libreto de Francesco Maria Piave para a ópera de Verdi com Teresa Stratas e Plácido Domingo como protagonistas. Mas isso foi em 1982. Muito antes disso, ainda em 1958, já o realizador a havia levado à ópera, com a soprano Maria Callas (a quem deixaria a sua última longa-metragem, Callas Forever, de 2002), numa mítica produção estreada em Dallas (abaixo, a gravação de um ensaio). Tal como aconteceria na adaptação ao cinema, a começar pela morte da heroína e a desenrolar-se depois num flashback.

5. Romeu e Julieta (1968)

Adaptações de Romeu e Julieta são incontáveis na história do cinema – é a peça de teatro mais adaptada ao grande ecrã. Entre as mais aclamadas (na opinião de vários críticos, a melhor de todas) está a do realizador que não se cansou de filmar Shakespeare, vencedora de dois Óscares. Protagonizada pelos então inexperientes  Leonard Whiting e Olivia Hussey – e pela polémica cena de nudez da atriz que tinha à data apenas 15 anos.

6. Irmão Sol, Irmã Lua (1973)

Longe de estar entre as obras mais celebradas de Franco Zeffirelli, um filme a que vale apesar de tudo a pena atentar quando se olha para a obra do italiano. Um biopic muito do seu tempo (o tempo do flower power) sobre São Francisco de Assis, com banda sonora da então estrela folk Donovan, autor da música que, no final, dá o título ao filme. Isto depois de tanto Leonard Bernstein como Leonard Cohen terem declinado os convites para colaborarem com Zeffireli no filme sobre o qual, na época, escreveu a crítica, no New York Times: “O tipo de filme que tenta fazer a pobreza parecer chique e que quase vai a falência na tentativa”.  

7. Chá Com Mussolini (1999)

Ficou como um dos seus últimos  filmes,  antes de Callas Forever,  a sua derradeira  longa-metragem. Tea With Mussolini,  no seu título original, vencedor de um  BAFTA, conta a história (em parte  autobiográfica) de um rapaz italiano  que cresce entre mulheres britânicas  e americanas na Itália de Benito  Mussolini, nos anos que antecederam  e durante a II Guerra Mundial.  O argumento foi assinado por John  Mortimer, a partir das memórias  de Franco Zeffirelli.