Um 10 de Junho que custou a engolir


Portugal é uma aldeia e isso tem coisas muito boas. As aldeias, por norma, são mais seguras, limpas e acolhedoras, e esse é também o retrato do nosso país. No entanto, nas aldeias, todos se conhecem, criam grupos fechados e protegem-se entre si. Esse é o lado mau de sermos uma aldeia. Esse é o…


Nunca no 10 de Junho, que me lembre, um discurso tinha sido tão partilhado, debatido, elogiado e criticado. Tal como o próprio João Miguel Tavares (JMT) refere, há um “nós” e um “eles”. Mas não se enganem, esta divisão não é entre esquerda e direita, mas sim entre quem se reviu nas constatações de JMT e quem, ao rever-se, ficou irritado porque se sentiu atingido por uma verdade que custa a engolir. 

Aliás, as reações foram incríveis. Por um lado, víamos as pessoas anónimas, que votam do BE ao Basta, a elogiar e partilhar palavra por palavra. Por outro lado, víamos a elite citadina, que vota do BE ao Basta, preocupada em escrutinar e destruir palavra por palavra de JMT. 

A verdade é que existe uma elite, nalguns casos com pouco, noutros com algum e em muitos sem nenhum mérito por ter chegado onde chegou. A verdade é que isto custa a engolir. Custa a engolir que nascer no sítio certo, na família certa, estudar no colégio certo e ter acesso aos contactos certos facilita em muito a vida profissional. A verdade é que esta constatação irrita tanto a jornalista de esquerda filha do intelectual conhecido como o empresário de direita que diz ter muito mérito, mas que em miúdo já andava no colégio com os filhos, sobrinhos e primos dos seus atuais clientes, sócios e parceiros. 

Portugal é uma aldeia e isso tem coisas muito boas. As aldeias, por norma, são mais seguras, limpas e acolhedoras, e esse é também o retrato do nosso país. No entanto, nas aldeias, todos se conhecem, criam grupos fechados e protegem-se entre si. Esse é o lado mau de sermos uma aldeia. Esse é o lado que torna a ascensão social mais difícil. 

Mas alguém tem culpa de nascer numa boa família? Óbvio que não. Nem esse deve ser o tema. O tema é o reverso da medalha. O que estamos nós a fazer, enquanto sociedade, para dar oportunidades a quem não nasce na família certa para vingar na vida? Existe mesmo mobilidade social ou o jogo está demasiado viciado? É a estas perguntas que os políticos, da esquerda à direita, têm de responder.

Uma última nota para os que atacaram o discurso de JMT. Os ciúmes e a inveja assentam mal em pessoas adultas. Principalmente em pessoas que fazem mais parte do problema do que propriamente da solução.

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Um 10 de Junho que custou a engolir


Portugal é uma aldeia e isso tem coisas muito boas. As aldeias, por norma, são mais seguras, limpas e acolhedoras, e esse é também o retrato do nosso país. No entanto, nas aldeias, todos se conhecem, criam grupos fechados e protegem-se entre si. Esse é o lado mau de sermos uma aldeia. Esse é o…


Nunca no 10 de Junho, que me lembre, um discurso tinha sido tão partilhado, debatido, elogiado e criticado. Tal como o próprio João Miguel Tavares (JMT) refere, há um “nós” e um “eles”. Mas não se enganem, esta divisão não é entre esquerda e direita, mas sim entre quem se reviu nas constatações de JMT e quem, ao rever-se, ficou irritado porque se sentiu atingido por uma verdade que custa a engolir. 

Aliás, as reações foram incríveis. Por um lado, víamos as pessoas anónimas, que votam do BE ao Basta, a elogiar e partilhar palavra por palavra. Por outro lado, víamos a elite citadina, que vota do BE ao Basta, preocupada em escrutinar e destruir palavra por palavra de JMT. 

A verdade é que existe uma elite, nalguns casos com pouco, noutros com algum e em muitos sem nenhum mérito por ter chegado onde chegou. A verdade é que isto custa a engolir. Custa a engolir que nascer no sítio certo, na família certa, estudar no colégio certo e ter acesso aos contactos certos facilita em muito a vida profissional. A verdade é que esta constatação irrita tanto a jornalista de esquerda filha do intelectual conhecido como o empresário de direita que diz ter muito mérito, mas que em miúdo já andava no colégio com os filhos, sobrinhos e primos dos seus atuais clientes, sócios e parceiros. 

Portugal é uma aldeia e isso tem coisas muito boas. As aldeias, por norma, são mais seguras, limpas e acolhedoras, e esse é também o retrato do nosso país. No entanto, nas aldeias, todos se conhecem, criam grupos fechados e protegem-se entre si. Esse é o lado mau de sermos uma aldeia. Esse é o lado que torna a ascensão social mais difícil. 

Mas alguém tem culpa de nascer numa boa família? Óbvio que não. Nem esse deve ser o tema. O tema é o reverso da medalha. O que estamos nós a fazer, enquanto sociedade, para dar oportunidades a quem não nasce na família certa para vingar na vida? Existe mesmo mobilidade social ou o jogo está demasiado viciado? É a estas perguntas que os políticos, da esquerda à direita, têm de responder.

Uma última nota para os que atacaram o discurso de JMT. Os ciúmes e a inveja assentam mal em pessoas adultas. Principalmente em pessoas que fazem mais parte do problema do que propriamente da solução.

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