O Turismo tem vindo a ganhar peso sobre a economia nacional. O montante criado pela atividade turística representa uma fatia cada vez maior do valor acrescentado bruto (VAB), ou seja, a produção de riqueza em cada um dos sectores subtraído dos bens e serviços consumidos.
Estes números têm vindo a crescer continuadamente desde 2014. Não é apenas de hoje ou agora, cresce há seis verões de forma contínua.
O Turismo é claramente a atividade estratégica dominante para o desenvolvimento sócio-económico de Portugal, nomeadamente para o emprego e para o crescimento das exportações. No emprego, aproximadamente um em cada dez trabalhadores portugueses estão em atividades ligadas ao turismo e há cada vez mais trabalhadores por conta própria na área da hotelaria, com um peso significativo do Alojamento Local em tempos recentes. Nas exportações já é possível afirmar que este setor representa a maior atividade do país. Basta ver que em 2018 foi responsável por 51,5% das exportações de serviços e por 18,6% das exportações totais, tendo as receitas turísticas registado um contributo de 8,2% no PIB português. É obra!
Mas a valorização económica do país em função do Turismo também se vê de outras formas, algumas delas bem recentes e para regozijo do nosso ego lusitano.
Há poucos dias Portugal voltou a ser eleito o Melhor Destino Turístico Europeu, já são três anos consecutivos a arrebatar o melhor prémio para o “Velho Continente” nos World Travel Awards. Recorde-se ainda que, em 2017 e também 2018, Portugal foi eleito o Melhor Destino do Mundo… aguardamos ansiosamente o “tri-campeonato” mundial em 2019.
Mas Portugal tem várias qualidades únicas e reconhecidas em todos os Continentes. Podemos falar do Algarve que recebeu também por estes dias o prémio de “Melhor Destino de Praia da Europa” atribuído para 2019 mas, sem esquecer que esta distinção já ocorre pela sétima vez (!) e que mais nenhum destino no mundo alcançou este número de galardões dourados. E a Madeira? Seis vezes o melhor destino insular europeu com o recente prémio alcançado em 2019. Para terminar este bom momento, assinalar ainda o “Óscar” para melhor destino para “escapadelas” – city break – atribuído a Lisboa.
Foram 41 prémios que Portugal arrecadou na passada semana. Incrível!
Mas, de forma sumária e sem conseguir assinalar todos os magníficos registos de potencialidade que temos – de norte a sul e sem esquecer as ilhas -recordemos parte da potência que temos.
Começando por ver o caso religioso de Fátima, que é verdadeiramente um fenómeno internacional. Vejamos ainda o Turismo Rural nas margens do Douro e assinalar os milhares que nos visitam no Porto para conhecer os seus Vinhos. Recordemos que somos há cinco anos o melhor destino de Golf do Mundo e que anualmente são já mais de 300 mil turistas que visitam Portugal para praticar as suas tacadas nos nossos greens gerando receitas diretas avaliadas em 120 milhões de euros. Dá orgulho e responsabilidade, não dá?
Faltaria falar de muitos outros motivos de pujança turística. Da Gastronomia portuguesa, cada vez mais procurada, à beleza natural e ecossistemas dos Açores e da Madeira ou das paisagens de tantos distritos e regiões como os magníficos “postais” reais que são possíveis ver cada vez que cruzamos o Alentejo.
Embora estes números e galardões permitam sonhar, tem de haver consciência de que há um conjunto de aspetos que permitem a estabilidade do turismo nacional. A localização privilegiada que temos como porta de entrada da Europa, as condições climatéricas favoráveis e a segurança que se vive e respira são fundamentais no comparativo com outros países concorrentes.
Porém, e para poder trabalhar todos os meses do ano de forma a criar condições de mitigar a sazonalidade há que inovar e perceber como o mundo muda e como se conquista o Turista de hoje.
A sazonalidade turística não é uma fatalidade e tem de ser trabalhada por todos os quadrantes políticos e económicos, desde o turismo que atrai o surf na costa vicentina até aos históricos Caretos de Podence.
Já ser uma tradição chegarmos a esta época do ano e rimarmos Turismo com “Sazonalidade”, demonstra que este fenómeno de intermitência continua a ser uma matéria latente e presente na vida de todos os agentes turísticos.
O mundo é dinâmico e estes números, prémios e exemplos positivos não nos permitem relaxar à sombra do nosso sol.
Vejamos um exemplo vindo de Itália, da Ilha de Elba, que demonstra a forma agressiva com que hoje Portugal compete para continuar a ser dos maiores do Mundo no Turismo. Na ilha de Elba se chover o turista não paga. É isso mesmo, leu bem. Diversos agentes turísticos, em colaboração com as entidades locais italianas, decidiram levar por diante uma agressiva campanha de markting “anti-previsões meteorológicas” para os fins de semana chuvosos. Cientes dos números que assinalavam quebras de procura até 20% nas reservas, nas alturas de mau tempo e previsão de aguaceiros, garantiram os italianos que as unidades hoteleiras não cobrariam 1€ aos turistas se chovesse durante as suas estadias.
Mas isto é apenas um exemplo de como é agressiva a concorrência. Não resolve a sazonalidade, não deve ser exemplo para Portugal e não potencia o Turismo de forma equilibrada ou sustentável.
O crescimento da atividade económica do Turismo tem vindo a contribuir para atenuar os efeitos sazonais mas, obviamente, pode este fenómeno apenas ser diminuído e nunca erradicado. Teremos sempre as diferentes estações do ano, os calendários escolares e laborais ou ainda a força do binómio Sol/Mar a atuar na oferta turística. É normal ser impossível extinguir este fenómeno.
Devemos então dinamizar as economias locais e regionais, principalmente nos meses de inverno, para continuar a criar riqueza, manter o emprego e eliminar as discrepâncias que existem entre a “época alta” e a “época baixa”.
Não há soluções infalíveis. Mas há algo que falhará sempre: Nada pensar e nada fazer.
Para projetar um futuro que atenue este fenómeno da sazonalidade, acredito que devemos pensar em quatro grandes pilares: Mobilidade, Sustentabilidade, Atratividade e Competitividade.
Todos os quatro interligados e indissociáveis.
Sobre Mobilidade, à escala nacional, é expetável que os próximos anos tragam a conclusão de anos de estudos sobre um novo complemento ao Aeroporto de Lisboa – ou mesmo novo aeroporto – para pensar a rentabilidade anual das companhias aéreas que connosco operam. O Ar continua a ser a melhor forma de fazer chegar turistas e, dessa forma, só repensando e aumentando a oferta é que nos podemos superar. Prioritário e sem grandes conversas, tal não é a evidência, urge requalificar a decadente ferrovia nacional. É inconcebível um país que joga a “Champions League” do Turismo receber turistas com comboios e apeadeiros que jogam dos mais fracos “Campeonatos Distritais” sobre ferrovias. Tem de ser vista a mobilidade como um todo. E automóveis? Em Portugal existem 550 postos de carregamento normal e 61 postos de carregamento rápido, todos de acesso público. Destes, perto de 20% estão sem comunicação com o sistema, segundo a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, quando estamos a poucos meses de começarem a ser cobrados os carregamentos nos postos de carga normal, até 22 Kw/h. Não pode ser esquecido.
Pegando neste ponto, há necessidade de defender e promover a Sustentabilidade ambiental e, sem dúvidas, melhor será o Turismo se melhor for a sua adaptação aos transportes mais ecológicos de acordo com os padrões dos consumidores atuais à escala global.
O 3º pilar, a Atratividade. Vivemos em função das palavras de dinamização territorial mas carece a capacidade de interligar da melhor forma todos os nossos distritos. História, Cultura, Tradições, Património natural, edificado e monumental, Gastronomia e Vinhos, Saúde e bem-estar, tudo potenciado de forma interligada, compreendendo os calendários de cada momento e assimilando como A pode não ofuscar o turista que procura B. Só assim, criando forma e modelo de decisão política, devemos conseguir preencher o interior sem desprimorar o litoral que representa 70% da zona habitável continental.
O 4º pilar, a Competitividade. Só se fortalece com mais qualificação e capacitação dos recursos humanos para elevar os serviços prestados. Mas não podemos ignorar a carga fiscal aplicada aos produtos. Vejamos o exemplo da dedutibilidade do IVA nas despesas de Transporte para fins profissionais, assim como no Alojamento, porque não repensar? Ou ainda, porque referi anteriormente o seu sucesso e impacto, o “IVA do Golf” que poderá regressar à taxa mínima para auxiliar a dinâmica turística portuguesa. Porque não?
Podem, e seguramente existem, até outros pilares que mitiguem os efeitos da sazonalidade e potenciem o Turismo a tempo inteiro. No entanto, há algo evidente: Tem de existir uma conjugação de esforços e muita criatividade.
Dizia recentemente Zurab Pololikashvili, secretário-geral da Organização Mundial de Turismo que o setor que coordena "é hoje um dos motores mais poderosos de crescimento económico e desenvolvimento global". Portugal e nós portugueses sabemos disso não de agora mas, estruturalmente e nos moldes atuais, desde da década de sessenta do século passado aquando da incursão de britânicos e europeus em massa à “descoberta” do nosso Algarve.
Em tempos modernos, já são 60 anos como referência Turística. Saibamos evoluir ainda mais, perpetuar os galardões e os números positivos que isso representa para todo um país. Ganharemos todos.