Euro 2020. Meia-dúzia de atrevidos à boleia dos livres-trânsitos

Euro 2020. Meia-dúzia de atrevidos à boleia dos livres-trânsitos


Os favoritos ao apuramento têm justificado o estatuto, mas pelo meio surge um ou outro “infiltrado”, numa qualificação que se conjuga ainda com a Liga das Nações.


A mais recente janela do calendário futebolístico para compromissos internacionais ficou dominada no nosso país pelo frenesim criado à volta da participação da seleção nacional na final four da Liga das Nações – e respetiva organização. E justificada, refira-se, dada a resposta de Fernando Santos e seus comandados, que no espaço de cinco dias lograram duas vitórias e assim garantiram a obtenção de mais um ceptro para o museu da Federação Portuguesa de Futebol, três anos depois do tal Europeu de França.

Mas a verdade é que houve mais futebol de seleções por estes dias. E a doer, que isto agora já não é tempo de amigáveis. Enquanto Portugal, Holanda, Inglaterra e Suíça decidiam os seus lugares na mais jovem criação da UEFA, os restantes conjuntos nacionais competiam na fase de apuramento para o Euro 2020, aquele que terá lugar já no próximo verão e pela primeira vez com caráter itinerante: jogar-se-há em 12 cidades de 12 países europeus diferentes.

 

O caso Moraes e o playoff

Portugal, recorde-se, também já entrou nesta competição. E com o pé esquerdo, somando dois empates a zero nas receções a Ucrânia e Sérvia, em março passado. Neste momento são precisamente os ucranianos, orientados pela lenda Andriy Shevchenko, a liderar o grupo B, com dez pontos em quatro jogos. Seguem-se Luxemburgo e Sérvia com quatro, sendo que os sérvios têm menos um jogo – e Portugal menos dois.

Não sendo ainda decisiva, a partida de 7 de setembro em Belgrado reveste-se de especial importância para a seleção nacional, que tem de arrepiar caminho de modo a não deixar fugir o comboio do apuramento. A classificação do grupo, diga-se, pode ainda vir a sofrer alterações: tudo depende do Comité de Recursos da UEFA, que na próxima terça-feira irá ouvir as federações de Portugal e do Luxemburgo a respeito do “caso Junior Moraes”, atleta alegadamente utilizado de forma irregular pelos ucranianos nos dois primeiros jogos da fase de qualificação. A decisão do Comité de Disciplina após a primeira queixa de portugueses e luxemburgueses foi a favor dos ucranianos, mas ambos os países recorreram, sendo que ainda há a possibilidade de pedir recurso para o TAD (Tribunal Arbitral do Desporto).

Portugal tem ainda um trunfo que poderá utilizar em caso de não conseguir terminar o apuramento num dos dois primeiros lugares do grupo: a vitória na Liga das Nações, que lhe garante um lugar no playoff a quatro com mais três equipas da Liga A. Neste momento, esses lugares estão reservados pelos quatro finalistas da prova, que só virão a ser substituídos por outros países caso consigam o apuramento pela via tradicional. O mesmo é válido para a Ucrânia, que tem lugar garantido no playoff da Liga B, e para a Sérvia, no C.

Na generalidade dos grupos em contenda, os favoritos estão a fazer valer esse estatuto. Inglaterra (mesmo só com dois jogos efetuados) e República Checa lideram o grupo A; a Alemanha soma três vitórias noutras tantas partidas no C; Espanha e Suécia ocupam os dois primeiros lugares no F (embora a Roménia tenha os mesmos sete pontos que os suecos); Polónia é rainha no G; a campeã mundial França, apesar do inesperado desaire na Turquia (2-0), lidera o H, embora com os mesmos nove pontos dos turcos e da Islândia; Bélgica e Rússia dominam no I; e a Itália conta quatro vitórias em quatro jogos no J.

 

Sem remates?

Apanhem aí o golo 100 O grande destaque até agora vai para a Irlanda do Norte, que com quatro triunfos em igual número de partidas vai liderando o grupo C, à frente de Alemanha e Holanda. É preciso referir, todavia, que as quatro vitórias chegaram nos dois jogos com Bielorrússia e Estónia, as equipas mais fracas do grupo: faltam os dois embates com a Alemanha e a Holanda…

No grupo D, liderado pela outra Irlanda, tem de se salientar também o facto de a Suíça, terceira atrás dos irlandeses e da Dinamarca (esta com lugar garantido no playoff da Liga B), ter apenas dois jogos, fruto da participação na final four da Liga das Nações. No E, quiçá o mais nivelado desta fase de apuramento, a Hungria lidera fruto do triunfo sobre a Croácia, mas Eslováquia e País de Gales – que tem desiludido bastante, tendo sofrido nesta dupla jornada dois desaires (2-1 na Croácia e 1-0 na Hungria) – têm potencial para baralhar as contas.

O grupo H, como já foi referido anteriormente, ficou marcado pela derrota em Konya, agravada pelo facto de os campeões do mundo não terem feito qualquer remate enquadrado com a baliza turca. Mbappé, um dos elementos mais criticados nesse encontro, viria a redimir-se abrindo a goleada em Andorra (0-4), no que foi o centésimo golo da sua carreira sénior com apenas 20 anos – superou os registos de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi e Cristiano Ronaldo (ambos aos 22 anos), entre muitas outras lendas do jogo.

Excelente prova também a da Finlândia, no grupo J, com três vitórias e apenas uma derrota, sofrida logo a abrir em Itália. Um percurso de elogiar para uma seleção que tem garantida a presença no playoff da Liga C, a contrastar com os de Grécia e Bósnia no mesmo grupo: apenas quatro pontos em igual número de jogos, atrás até da Arménia. Os bósnios, ainda assim, têm a garantia de estar no playoff da Liga B caso não consigam terminar num dos primeiros dois lugares no seu grupo.

Essa questão dos playoffs é, de resto, a grande novidade neste apuramento para o Euro 2020. Desta feita, essa última esperança para os países não surge por via da fase de qualificação, mas sim da prestação na Liga das Nações, com as quatro melhores seleções de cada divisão a ter pelo menos a certeza de uma última oportunidade para chegar à fase final. No fim, o vencedor de cada um dos playoffs garantirá o acesso à fase final do Europeu – uma formalidade no caso dos países da Liga A e da maioria dos da B, mas um verdadeiro privilégio para os integrandes das Ligas C e D: é muito improvável que Geórgia, Bielorrússia, Kosovo ou Macedónia consigam o apuramento pelos meios tradicionais, mas com este formato é certo que um destes países estará no Euro 2020. São os novos tempos, meus senhores.