Entre a esquerda  e a extrema-direita espanholas

Entre a esquerda e a extrema-direita espanholas


As diferentes forças políticas parlamentares espanholas estão a movimentar-se para formar acordos nunca antes feitos.


Esta terça-feira, no rescaldo das eleições nacionais e regionais espanholas deste ano, o Podemos e o PSOE anunciaram os primeiros passos de uma coligação para o Governo central. Enquanto isso, na comunidade de Madrid, surgia a perspetiva de um governo local das direitas, com Vox, Ciudadanos e Partido Popular (PP). A polarização entre esquerda e a direita ficou bem marcada com estas coligações inauditas, que parecem pôr de lado, por agora, quaisquer possibilidade de acordos ao centro, entre o Ciudadanos e o PSOE.

governo central O líder do PSOE, Pedro Sanchéz, e Pablo Iglesias, que encabeça a coligação Unidas Podemos, anunciaram um princípio de acordo para um “Governo de cooperação”. Não será um Governo de coligação como pretendia Iglesias, nem um Governo minoritário, como advogava Sanchéz.

A intenção é ter um Governo “aberto” e plural, o que implica a escolha de ministros independentes previamente acordados entre os líderes dos dois partidos. “Trabalharemos para um Governo progressista o quanto antes. Um Governo de cooperação, plural, aberto e integrador, para cumprir o mandato da maioria social do nosso país”, disse o líder do PSOE pelo Twitter. Algo que vai contra a ideia que o socialista tinha passado nas últimas semanas, quando afirmava que o grupo Unidas Podemos nem era o parceiro prioritário.

Não obstante, Iglesias e Sanchéz prometeram começar reuniões “discretas” para formar um programa de Governo “fundamentado na justiça social”, como disse o secretário-geral do Podemos, chegando mesmo a afirmar que “o programa do PSOE é um bom início de partida”, depois de ter insistido numa coligação entre as duas forças após as eleições. Nenhum dos líderes falou de possíveis nomes para o Governo, nem de prazos para a formação do Executivo, mas prometeram ser inovadores.

 

Madrid

O PP e o Vox, um partido de extrema-direita, firmaram um pré-acordo bilateral para apoiar a investidura de Isabel Díaz Ayuso, candidata do PP, como presidente da Região Autónoma de Madrid. O acordo prevê a entrada do Vox no governo da capital e dá 15 dias ao Ciudadanos para decidir se quer fazer parte da coligação, foi anunciado por Rocío Monasterio, a presidente do Vox em Madrid. A decisão segue o precedente aberto na Comunidade Autónoma da Andaluzia – onde o Vox surgiu em força pela primeira vez – e poderá marcar uma viragem à direita das restantes forças da direita espanhola.

Depois do Vox, do Ciudadanos e do PP terem anunciado que votariam em Juan Trinidad (Ciudadanos) para presidente da Mesa da Assembleia de Madrid, Monasterio anunciou numa entrevista à rádio Cope, que este era “o passo prévio” para se acordarem pontos “para uma investidura que inclua as três partes: Ciudadanos, PP e Vox”. Recorde-se que o vencedor das eleições autonómicas de Madrid foi o PSOE com 28% dos votos.

Embora o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, tenha admitido antes das eleições que poderia, eventualmente, fazer acordos com o Vox com o intuito de impedir o PSOE de governar, certas forças dentro do partido não parecem estar inclinadas para que tal aconteça. Mesmo antes do anúncio de Monasterio, Ignacio Aguado, candidato do Ciudadanos ao governo autonómico, insistiu que apenas estaria disposto a firmar um acordo de governo exclusivamente com o PP. Outro exemplo é o de Manuel Valls, antigo primeiro-ministro de França que se candidatou à Câmara de Barcelona pelo Ciudadanos, que deixou duras críticas à política de alianças do PP, acusando-os de normalizar a extrema-direita.