Vencida a muito pouco neutra e muitíssimo chata Suíça, que mais uma vez deu água pela barba ao engenheiro Fernando Santos, eis Portugal na terceira final da sua história, a segunda em casa depois da de Lisboa de 2004, a segunda no espaço de três anos após a de Paris em 2016. Nesse aspeto, missão cumprida, com o brilhantismo natural e quase inevitável de Ronaldo e o apagamento dececionante de Bruno Fernandes e João Félix. Domingo haverá mais, há uma taça à espera, ainda sem história, ainda sem passado, mas que tem tudo para que seja a seleção nacional a começá-la.
Se, antes do jogo de quarta-feira, a discussão sobre a presença conjunta de Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e João Félix no mesmo onze tinha dado pano para mangas e mais um ou dois colarinhos, depois, a tendência acentuou-se. Já tinha escrito aqui que não gosto de dar para esse peditório do deve meter este ou deve meter aquele, é mais conversa de café do que tema de jornal, mas não deixei de considerar a opção perfeitamente compreensível perante aquilo que é a atual realidade dos maiores talentos do futebol português. Quanto a mim, os quatro estão destinados a entenderem-se, mais cedo ou mais tarde, porque se uma seleção é a escolha dos melhores, melhor não vislumbro. Três mosqueteiros – praticamente certos para todos -, Ronaldo, Bernardo e Fernandes, e o jovem D’Artagnan João Félix, supranumerário como manda a escrita de Alexandre Dumas.
Obviamente que ninguém saiu das Antas encantado com o que fizeram, sobretudo pela pouca produção de Bruno Fernandes, que já me pareceu muito depauperado em termos físicos na final da Taça de Portugal, e de João Félix, que não pode deixar de sentir, na frescura dos seus 19 anitos e uns meses, uma diferença muito grande entre correr pela relva com a camisola da seleção nacional vestida pela primeira vez ou andar por aí, nos campos deste país, a jogar contra as equipas do nosso campeonatozito, por muito respeitáveis que sejam, como se apanhasse papoilas num prado de gipsófila. Mas não se resuma ao físico e à responsabilidade a sua inoperância frente aos suíços. A verdade é que, se quiser levar avante a ideia de um losango ofensivo assim quase em roda-viva, com Bruno Fernandes mais fixo na intersecção do ângulo recuado e os outros três mais em carrossel, Fernando Santos vai ter de ser suficientemente engenhoso para, em determinados momentos dos jogos, obrigar a um respeito mais absoluto das posições iniciais – quer dizer, Bernardo e Félix começando lateralmente em relação a Ronaldo -, sobretudo nas fases defensivas, aquelas em que a disciplina passa de necessária a fundamental.
A bola e a falta dela Do meu ponto de vista, foi sobretudo aí que se notou a falta de cimento da construção que o engenheiro começou a erguer: no início do ciclo defensivo, pois com a tendência de Bernardo e Félix se aproximarem do centro, do qual Ronaldo teima em fugir, na minha opinião em excesso, desde que tenha a bola e laterais com qualidade, qualquer adversário se sentirá à vontade, mesmo à vontadinha, para ir por ali fora provocar comichões no sangue aos dois fixos do meio-campo, neste caso Rúben Neves e William Carvalho, e obrigando os defesas esquerdo e direito a ficarem numa expetativa que, em seguida, desequilibra o contragolpe mal Portugal recupera a bola.
Tudo isto é muito fácil de dizer e de escrever no conforto de uma bancada de imprensa. Como sempre, no futebol, uma boa ideia nem sempre corresponde a bons resultados. Quero com isto sublinhar que a ideia de Fernando Santos é boa (o resultado também foi), mas esfumou-se por diversas razões além das aqui apontadas e que estarão a ser consideradas pelo selecionador, que já tem de banco anos suficientes para não se deixar influenciar pelo que se diz e escreve um milímetro que seja. Esperemos por domingo para perceber se a sua crença se mantém. Ou se terá de deixar para outra ocasião mais propícia aquilo que me parece entrar pelos olhos dentro como inevitável, até porque, apesar de todas as esperanças, não há jogadores daquela qualidade a caírem das árvores como bananas na Madeira. Terra que já nos deu aquele que, no entretanto, resolve o que os outros não conseguem do alto da sua condição de atleta fenomenal. A final está aí, à porta. Que comece depressa e as dúvidas se dissipem. Também não temos finais todos os dias…