Gap Year. A pausa que nasceu na década da liberdade e que está na moda no séc. XXI

Gap Year. A pausa que nasceu na década da liberdade e que está na moda no séc. XXI


Desde os anos 60 que os anos sabáticos têm marcado pessoas de todas as idades, algumas bem conhecidas. De William e Harry a Benedict Cumberbatch, passando pela temporada de J. K. Rowling no Porto, eis alguns exemplos.


O ano sabático, apesar de ser cada vez mais habitual, começou a ser popular há meio século. Embora na altura se apresentasse de uma forma bastante diferente, o começo do gap year remonta aos anos 60.

Os anos 60 são associados à liberdade de expressão e à independência. Foram um período de revolução cultural e social em que muitos jovens começaram a valorizar o que se passava fora das suas fronteiras, à medida que havia acesso a mais informação.

A defesa de um projeto de paz e cooperação global foi um dos motores do conceito. Em 1967, Nicholas Maclean- -Bristol criou a empresa Project Trust, no Reino Unido, destinada a apoiar o voluntariado internacional. Três voluntários foram enviados para Adis Abeba, na Etiópia, onde conheceram uma nova cultura, aprenderam competências emocionais e ganharam um maior sentido de independência.

Nos anos 70, o ano sabático começou a ganhar cada vez mais popularidade. Apesar de as deslocações aéreas ainda serem muito caras, a vontade de viajar e conhecer o mundo era tanta que os jovens começaram a utilizar os autocarros para se deslocarem.

A primeira associação para ajudar os jovens a fazer um gap year nasceu em 1972. A GAP Activity Projects surgiu em Inglaterra para apoiar jovens que pretendiam fazer um ano de pausa entre o ensino secundário e o ensino universitário e, na mesma linha, ajudou-os a encontrar oportunidades de voluntariado internacionais e estágios profissionais.

Nas últimas décadas, milhares de pessoas agarraram a ideia. Se muitas histórias acabam por ficar no círculo de amigos e da família, algumas figuras públicas têm mostrado como os motivos para parar podem ser muito diferentes. A verdade é que um gap year pode ser feito em qualquer lugar, por qualquer pessoa e durante o período de tempo desejado. Desde ensinar inglês a crianças na Tailândia ou fazer um retiro pessoal pela Índia a interromper a atividade profissional para uma temporada de estudo ou a escrita de um capítulo de um futuro bestseller, a determinação é meio caminho andado.

William, Duque de Cambridge

Fazer um gap year é algo bastante normal na família real britânica. Depois de terminar o ensino secundário, em 2000, o príncipe William decidiu parar um ano antes de entrar na universidade. Começou a sua viagem no Chile, onde ajudou a construir casas e parques infantis durante dez semanas. William viajou por vários países de África e trabalhou em atividades que visavam a conservação de animais selvagens. No final da viagem, o príncipe esteve no Belize a fazer treinos com a guarda galesa.

The Beatles

Antes de serem uma das bandas mais famosas do mundo, os cinco jovens de Liverpool que faziam covers de músicas de outros artistas e sonhavam alcançar o sucesso um dia decidiram fazer um ano de pausa depois de terminar o ensino secundário. A banda partiu para a cidade de Hamburgo, na Alemanha, para aprender mais sobre música. Ao falar do ano de pausa, John Lennon admitiu durante uma entrevista que, apesar de ter nascido em Liverpool, “foi em Hamburgo que cresceu”.

Príncipe Harry

Depois de terminar o secundário, Harry viajou para Queensland, na Austrália, onde trabalhou num rancho, encarregado de tarefas com os animais e agrícolas.Depois foi para o Lesoto, na África do Sul, onde trabalhou num orfanato que apoiava crianças com sida. No Lesoto, Harry ajudou a população na construção de clínicas e pontes. O príncipe convidou um dos rapazes que conheceu no orfanato para estar presente no seu casamento com Meghan Markle e já visitou a cidade várias vezes depois do regresso a casa.

Benedit Cumberbatch

Aos 19 anos, o ator que interpreta Sherlock Holmes decidiu mudar a sua rotina e foi morar com uma família nepalesa. Cumberbatch viajou pelos Himalaias e teve a oportunidade de ensinar inglês a monges tibetanos. “Ensinaram-me muito mais do que eu algum dia poderia ensinar-lhes. Ensinaram-me a simplicidade da natureza humana, mas também a humanidade dela, e o sentido de humor ridículo que é preciso para viver uma vida espiritual completa”.

Malia Obama

A filha do ex-Presidente americano Malia Obama fez um gap year depois de terminar o ensino secundário, antes de entrar na Universidade de Harvard. Para melhorar o espanhol, uma língua em que tinha bastante interesse, a jovem fez um estágio de verão na embaixada dos EUA em Espanha e juntou-se a um projeto de três meses na Bolívia e no Peru, onde explorou temas como a importância da proteção do meio ambiente e da reforma social.

J.K. Rowling

A escritora que trouxe a magia de Harry Potter ao mundo também costuma falar do seu gap year. A escolha foi Portugal. Depois da morte da mãe, a autora britânica sentiu necessidade de partir e mudar a sua rotina. Ao descobrir uma vaga como professora de inglês no Porto, J. K. Rowling candidatou-se e conseguiu ser aceite. Foi durante o seu ano sabático em terras lusas que a escritora diz ter escrito o seu capítulo favorito do livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, “O Espelho de Erise”.