Um estudo recente realizado pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) em parceria com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial revelou que os advogados negros são menos de 1% nos grandes escritórios do Brasil.
No estudo participaram 3.624 pessoas que trabalham em nove escritórios de São Paulo: BMA, Demarest, Lefosse, Machado Meyer, Mattos Filho, Pinheiro Neto, TozziniFreire, Trench Rossi Watanabe e Veirano.
Segundo os resultados, apenas 9,4% dos inquiridos são de ascendência africana. Esta percentagem diz respeito a advogados estagiários e, apesar de existirem casos de negros em cargos de maior importânciaeste número é estatisticamente irrelevante, porque nessas posições são menos de 1% na pesquisa, explicou o coordenador de projetos do CEERT, Daniel Teixeira.
Dos profissionais que foram promovidos desde a admissão no escritório, a pesquisa revelou que 50,2% são brancos e 39,0% são negros.
Porquê um número tão baixo?
Um dos fatores apontados para um número tão reduzido de advogados negros é a percentagem pequena de negros nas faculdades. Sobre este problema o professor Tiago Amparo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirmou que “é preciso ter uma atitude ativa para que a diversidade aconteça. O automático é excludente”.
Já na opinião do professor Sílvio Luiz de Almeida, do Mackenzie e da FGV, a pesquisa revela que os escritórios de advocacia não fogem ao que ocorre no Brasil: “Eles estão numa sociedade que ainda se move por parâmetros racistas, em que a desigualdade naturalizou-se de tal forma que as pessoas acostumaram-se a entrar em certos ambientes e não encontrar uma pessoa negra”.
Robson de Oliveira, advogado do Demarest, é prova viva das conclusões. O advogado conta que já passou por situações constrangedoras por ser negro no exercício da função.“Em reuniões externas, percebo que muitas vezes causa espanto quando chego e veem que sou eu o advogado”, afirma.
Renata Shaw, também advogada, revelou ter vivido casos semelhantes. A advogada especialista em propriedade intelectual disse que muitas vezes é confundida com uma secretária na sua própria sala. “Olá, tudo bem? Gostaria de falar com a doutora Renata Shaw”, conta. E acrescenta: “Muitas pessoas não esperam encontrar uma pessoa como eu na minha posição”.
Segundo Marina Dias, do Instituto de Defesa do Direto de Defesa (IDDD), o próprio IDDD carece de uma sub-representatividade de negros. “A clientela do sistema de justiça criminal são os negros, ao passo que o sistema de justiça é formado na maior parte por defensores, promotores e juízes brancos”, disse ela.
O Presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) e sócio do escritório Machado Meyer, Carlos José Santos da Silva, contou que começou a pensar sobre o assunto após uma pergunta feita por um colega do Trench Rossi Watanabe: “Quantos negros existem no teu escritório?”. “Hoje, quando vou a um restaurante ou a uma palestra, é a primeira coisa que eu penso: tem negros aqui?”, completa.