Sporting. O misterioso fenómeno sem igual  dos Violinos Assassinos

Sporting. O misterioso fenómeno sem igual dos Violinos Assassinos


123 golos num campeonato à média de 4,73 por jogo???!!! Eis números impossíveis de voltar a atingir. O que aconteceu no Nacional de 1946-47 ficará para sempre a dourado e verde nas vitrinas do futebol em Portugal.


A época chegou ao fim, o Benfica cometeu a proeza de marcar mais de cem golos no Campeonato Nacional, o Sporting ainda festeja os restos da Taça de Portugal, e nós vamos ao baú sem fundo da memória recordar um feito que, apostaria aqui singelo contra dobrado, como nos livros do Texas Jack, jamais se repetirá. Os 123 golos apontado pelo Sporting dos Cinco Violinos na prova de 1946-47. E olhem que o Benfica ainda foi até aos 99.

A entrada do leão na prova foi de apavorar hipopótamos: Famalicão, 5 – Sporting, 9; Sporting, 9 – Atlético, 2. Golos e golos e golos e golos e golos e golos.

No Campo do Freião, em Vila Nova de Famalicão, no dia 24 de novembro de 1946, a equipa jogou: Valentim; Cardoso, Barrosa e Manuel Marques; Canário e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano; Peyroteo. A mesma da semana anterior, excepto o lesionado Azevedo. 1 minuto: 1-0, por Álvaro Pereira; 8: 1-1, por Peyroteo; 21: 2-1, por Pires; 23: 2-2, por Travassos; 27: 2-3, por Vasques; 42: 3-3, por Pires; 43: 3-4, por Peyroteo; 54: 3-5, por Peyroteo; 64: 3-6, por Peyroteo; 68: 4-6, por Ferrão, de penálti; 70: 5-6, por Álvaro Pereira; 85: 5-7, por Peyroteo; 86: 5-8, por Peyroteo; 89: 5-9, por Vasques. Coisa de loucos!

Um furacão tinha passado por Famalicão. Peyroteo fizera 7 golos!

Mas a imprensa recordava, em parangonas: “A cinco minutos do fim, os leões ganhavam apenas por um tento de diferença!” A forma como o Famalicão se batera num terreno encharcado contra adversário tão poderoso merecia palavras de apreço.

Mas o leão não saciara ainda a sua fome de golos. No domingo seguinte, no Campo do Lumiar A, destruiu o Atlético.

“Exibição fulgurante do ataque leonino em tarde de jogo vistoso e prático”.

Os Cinco Violinos, como lhes chamou o grande cronista Tavares da Silva, eram já uma máquina trituradora quase perfeita.

A lenda dava os seus primeiros passos.

Esse campeonato ficaria para sempre desenhado a letras verdes e douradas. E sobretudo a números. Cruéis números.

A notícia espalhava-se: o futebol do Sporting era bonito e avassalador.

Por todo o país as pessoas aprendiam a recitar de cor a linha avançada dos leões: Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano; Peyroteo.

Ou como dizia mais popularmente o bom adepto: Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Hábitos do velho WM ainda sem aquele toque inovador de Cândido de Oliveira.

Derrota. À terceira jornada desse Campeonato Nacional de 1946-47, o Sporting dos Cinco Violinos visitava o campeão nacional, o Belenenses.

Ah! Jogo grande, grande, nas Salésias!

Mas o Belenenses era o campeão. E venceu. A máquina dos golos perdeu fulgor? Na jornada seguinte, o Sporting bate o FC Porto, de aflitos: 3-2.

A quebra de forma do jovem Vasques valeu-lhe a saída do onze. Os restantes Quatro Violinos têm agora Armando Ferreira no lugar de interior direito. Aposta acertada: o leão volta a dar chapa 9, desta vez à Académica.

O castigo de Vasques mantém-se no início do novo ano. Nos dois jogos seguintes, Robert Kelly, o treinador, mantém a mesma equipa, com Reis no lugar do lesionado Azevedo.

O Sporting bate O Elvas em Elvas por 5-3 (golos de Peyroteo (4) e Jesus Correia e, depois, o V. Setúbal, no Lumiar, por 3-0 (golos de Travassos, Armando Ferreira e Peyroteo).

Peyroteo lesiona-se e falha a deslocação ao Porto, para defrontar o Boavista. O Sporting venceu por 4-2 (golos de Jesus Correia (3) e Armando Marques).

Receber o Benfica não passou de uma tarde agradável: os adeptos leoninos gritam: “Só mais um…” Mas esse golo 7 não chega para vingar a derrota da época anterior (2-7). Contentaram-se com 6-1.

Já nada poderá afastar os Cinco Violinos do título de campeões nacionais.

O campeonato do Sporting de Robert Kelly foi impressionante. Um total (casa e fora) de 123 golos marcados a uma média de 4,73 por jogo!!!!!!!!!!!!

Nunca mais ninguém seria capaz de tal proeza. O recorde dura até hoje. E irá durar. Provavelmente para sempre. Certamente para sempre!