Aos treze anos, naquela idade em que a adolescência aparece em sua força bruta, com um cardápio interminável de ofertas e tentações, existe um mundo paralelo com uma proposta tentadora e ao mesmo tempo de difícil escolha. Oferece muito, dá quase tudo mesmo para quem no sangue transporte o bichinho de rectas a velocidades alucinantes e curvas quase deitado, mas cobra uma maturidade que não se compadece com devaneios.
Vila Nova de Santo André.
Dizem os números que por lá vivem cerca de onze mil pessoas .
Nesta cidade tem um Fragoso de primeiro nome Pedro e de nickname Bala para quem o acompanha de perto na sua sonhada trajetória.
E se gigante se apresenta o objectivo, um mais a chegar ao mega restrito universo do MotoGP, menor não será o mundo que o apoia, um pelotão de gente, uma equipa inteira de afectos, celebrando conquistas e almofadando os dias menos bons, ele é o pai, a mãe e o irmão, são os tios, os avós, primos, fora os amigos, transformando os fins-de-semana das corridas numa logística familiar com base na velocidade.
Na esperança.
No querer e no crer.
Durante a semana a rotina inclui ginásio e corrida, testes na escola que implicam estudo, treinos de mota que incluem umas investidas no enduro, tudo isto transportando-nos ao início desta prosa onde abordamos uma adolescência que acena com o brilho das luzes e a carga que se exige a quem quiser ser Hércules, ou neste caso um novo Falcão, quem sabe um novo Rossi.
O mais curioso é que à medida que vai crescendo o interesse de um novo público por este fenómeno velocipédico, vamos ainda encontrando alguma escuridão no que diz respeito aos nomes de quem, em Portugal, se aventura por um terreno tão íngreme, tão difícil, quanto aparentemente viciante.
Pedro Fragoso, ou Bala # 10, como um dia desejaremos ler através daquela GoPro que grava as imagens televisivas a partir da traseira da mota, anda por estes dias batalhando entre o CNV na categoria SS300, com a equipa Stand Os Putos Racing Team e a R3 bLU cRU Cup Switzerland, onde discute com um pelotão internacional a supremacia em cima de uma Yamaha.
Ao vasculharmos o seu currículo, em passado recente, vamos descobri-lo na Oliveira Cup, no CNV com a Miguel Oliveira Racing Team, no apuramento para a European Talent Cup, vamos encontrá-lo ainda numa prova do Nacional de Enduro.
Se nos lembrarmos que tem dezasseis anos e que começou aos treze, percebe-se então porque certos adolescentes terão de crescer ‘ com juizinho’ bem mais rápido que outros.
Ora bem sabendo que isto é para quem nasce e não para quem quer, não deixa de ser uma escolha e que no início dá dividendos bem visíveis, pelo prazer de pilotar em ritmos e condições que trazem uma certa loucura sã e algum espírito selvagem, assim como quem voa sendo proibido voar. Mas depois, rapidamente depois, chega a dureza e a solidão de quem curva com esperança e acaba sem bandeira de xadrez.
Quando um instante se torna mais solitário que nunca.
Talvez seja aqui que todos entramos, ao juntarmo-nos ao bando, inicialmente composto por família e amigos, acabando por incluir seguidores que chegam do mais inesperado lugar que Pedro Fragoso, o #Bala 10, se aperceba que correndo como corre, acreditando como acredita, um dia olhe para o lado e tenha dificuldade em distinguir a família por entre uma multidão que já não lhe perde uma corrida.
E não é tarefa por ora complicada, basta aceder aqui ou pesquisar Pedro Fragoso nas redes sociais.
Será certamente nesse momento que todos nós, olhando para a pista, entenderemos que um pouco de nós corre ali também.
Tal qual fazemos com o Falcão.