A direita está em choque com o resultado das europeias. PSD e CDS tiveram os piores resultados de sempre e nos dois partidos é muita a preocupação com a proximidade das eleições legislativas, que se realizam no dia 6 de outubro.
Rui Rio assumiu que não cumpriu os “objetivos pretendidos”, mas, nas redes sociais, o vice-presidente do partido Salvador Malheiro foi ainda mais longe e falou numa grande derrota. “A vida é feita de altos e baixos. De vitórias e derrotas. Ontem foi dia de uma grande derrota. O povo é quem manda. É quem mais ordena”, escreveu Salvador Malheiro.
A Comissão Política do PSD vai reunir-se amanhã para avaliar os resultados. Ninguém questiona, porém, a liderança de Rui Rio e os críticos com mais peso no partido estão até agora em silêncio.
Na noite eleitoral, Rui Rio garantiu que não abandona a liderança, apesar de só ter conseguido 21,9% dos votos. “Seria uma irresponsabilidade promover uma disputa interna a quatro meses das legislativas”, diz ao i Guilherme Silva. O histórico do PSD assume, porém, que o resultado foi “penoso” e que é preocupante que o PSD ainda não tenha encontrado uma forma adequada para passar “a mensagem com consistência”.
O ex-líder parlamentar foi apoiante de Rui Rio desde a primeira hora e alerta os críticos de que “todos devem aprender com os erros”, porque as “divergências internas não ajudam a confrontar os adversários”.
Luís Filipe Menezes também garante que vai continuar a dar o seu “voto de confiança a Rio”, mas aconselha o presidente do PSD a “tomar medidas rápidas e drásticas para cortar com um passado que nos honra muito, mas que não conduzirá a qualquer vitória”.
Ao i, o ex-líder do PSD diz que Rui Rio tem a vantagem de ter “uma imagem de seriedade e rigor”, mas “deve rapidamente acrescentar-lhe propostas inovadoras e rostos novos ou velhos, mas combativos e qualificados”. Para Luís Filipe Menezes, estas eleições mostram que “o PS conseguiu afastar-se totalmente da herança da governação Sócrates e o PSD não conseguiu descolar da imagem com que ficou após quatro anos de forte contenção e dois de oposição que seguiu o mesmo guião”.
Este foi o primeiro teste eleitoral de Rui Rio e falhou os dois objetivos: crescer em relação a 2014 ou vencer as eleições. O politólogo António Costa Pinto admite que o episódio dos professores possa ter prejudicado a direita. “Tanto quanto percebemos há alguma passagem para a abstenção do eleitorado do PSD. Os estudos que foram feitos revelam que a crise dos professores não beneficiou particularmente o PS e poderá ter provocado a passagem à abstenção de alguns setores que votam à direita”, diz ao i o investigador.
CDS em choque
Do lado do CDS, os mais críticos não ficaram calados. O partido liderado por Assunção Cristas tinha como objetivos eleger dois eurodeputados e ultrapassar a esquerda, mas falhou os dois.
O dirigente centrista Filipe Lobo d’Ávila admitiu à agência Lusa que ficou “em choque” e apelou ao partido para que faça uma reflexão profunda sobre estes resultados. “O CDS deveria voltar a reposicionar-se como partido de valores, como o partido de direita, não querer agradar a todos, gregos e troianos, e depois acabar, no fim, sem gregos nem troianos”, disse o ex-deputado.
O ex-deputado Raúl Almeida foi mais longe e questiona a capacidade de Assunção Cristas para liderar o CDS. “Sem palavras. No meu íntimo, nunca quis ter razão nas suspeitas que hoje se confirmam sobre a capacidade de Cristas e da atual direcção do CDS para mobilizar os portugueses. O CDS voltará quando acabar esta alienação de grupo que o domina desde a saída de Paulo Portas. O filme da sala do Caldas, que tão bem conheço, lembra outro, mas não há Di Caprio que o salve”, escreveu, nas redes sociais, o ex-deputado CDS.
O CDS foi o quinto partido mais votado com 6,2% dos votos. Assunção Cristas, na noite eleitoral, assumiu que ficou “aquém dos objetivos” traçados. “Compreendemos bem o sinal que os eleitores nos quiseram dar”, disse. O CDS vai avaliar os resultados das europeias nesta quinta-feira numa reunião extraordinária do conselho nacional.