Sporting-FC Porto. Dois senhores com a mania das cerimónias…

Sporting-FC Porto. Dois senhores com a mania das cerimónias…


Das sete finais disputadas entre Sporting e FC Porto (entre Campeonato e Taça de Portugal), apenas duas não obrigaram a prolongamento. No momento de levarem o troféu para casa, algo parece obstar a que uns e outros se despachem a resolver a questão.


Para quem é de apostas talvez valesse apostar num empate ao minuto 90 da final de amanhã entre Sporting e FC Porto, no Jamor. Vendo bem, são dois senhores cheios de cerimónias que nas sete finais que disputaram – tanto sob o nome de Campeonato de Portugal como sob o nome de Taça de Portugal, como ficou decidido a partir da época de 1938-39 – cinco obrigaram a prolongamentos e até a jogos de desempate no tempo em que os regulamentos os ordenavam.

Sinal de equilíbrio? Pois sim, entendamo-lo dessa forma. Desde a primeira vez, em 1922, edição inaugural do Campeonato de Portugal. A organização federativa era tão insuficiente, tão medíocre, que resolveu nem sequer se dar ao trabalho de montar uma competição que se visse. Pegou no campeão de Lisboa (Sporting) e no campeão do Porto (FC Porto) e tratou de os pôr frente a frente em sistema de casa e fora. Na Constituição, vitória portista por 2-1, golos de Tavares Bastos (2) para os anfitriões e de Emílio Ramos para os sportinguistas. No Campo Grande, vitória do Sporting – 2-0, golos de Henrique Portela e Torres Pereira. Como essa coisa dos golos fora não contava ainda, houve lugar a finalíssima. Sorteou-se o campo e ficou marcada a peleja para o Campo do Bessa, no Porto. Balbino Silva, João Nunes e João Brito decidiram o confronto para os portistas contra o golo único de Emílio Ramos.

Em 1924-25 – FC Porto, 2 – Sporting, 1 – e 1936-37 – FC Porto, 3 – Sporting, 2 – não houve necessidade de prolongamentos. Mas, a partir daí, todas as finais que se seguiram não voltaram a ter um vencedor no espaço de 90 minutos. Todas!

Curiosamente, e já sob a nomenclatura de Taça de Portugal, Sporting e FC Porto demoraram nada menos de 40 anos a reencontrarem-se no jogo derradeiro. Curiosamente, como é óbvio, pela força com que os dois clubes se apresentam no universo do futebol nacional. Mas são assim, também, os caprichos dos sorteios.

Mais quatro. Ora, temos então de rodar os ponteiros do relógio num esforço supremo para chegarmos ao dia 17 de Junho de 1978. No Jamor, há golpe e contra golpe. Fernando Gomes faz 1-0 para o FC Porto; Meneses faz 1-1. Minutos? 48 e 49. O jogo torna-se duro, Ademir (FC Porto) é expulso), e nada muda até ao bater dos 120 minutos. O Sporting tinha pressa. Uma digressão agendada para a China. Mas as ordens vêm de cima: novo jogo marcado para dia 24. Vítor Gomes e Manuel Fernandes resolvem. Seninho marca o golo nortenho à beira do fim.

Nova final entre os dois só em 1994. Num jogo pejado de cartões amarelos, o Sporting de Carlos Queiroz e o FC Porto de Bobby Robson empatam 0-0. Cinco dias mais tarde, os golos de Rui Jorge (FC Porto) e Vujacic (Sporting) obrigam a novo prolongamento. Aloísio, de penalti, dá a taça aos portistas no primeiro minuto do tempo suplementar. A tradição cerimonial não acaba aqui.

Em 2000, Jardel faz um golo logo aos 4 minutos, mas Pedro Barbosa empata na segunda parte. O prolongamento não traz golos. Traz, isso sim, novo jogo, quatro dias depois. O FC Porto é superior e vence por 2-0, com golos de Cleyton e de Deco. A tradição continua a ser o que sempre foi. O último episódio demora oito anos a chegar, mas chega inevitavelmente como as contas da pensão da vida.

O Sporting de Paulo Bento e o FC Porto de Jesualdo Ferreira fecham-se num teimoso zero-a-zero durante 90 minutos. Os 30 que se seguem dão ao futebol português um nome improvável: Rodrigo Tiuí, natural de Taboão da Serra, São Paulo. Marca dois golos e é herói dos leões. Agora, é à moda do Mário Zambujal: amanhã logo se vê…