“Não há memória coletiva de uma subida do nível do mar como a que vamos ter”

“Não há memória coletiva de uma subida do nível do mar como a que vamos ter”


Investigador avisa que nível do mar vai subir um metro neste século e que será preciso elevar marginais e construir diques para travar inundações.


Carlos Antunes, professor e investigador da Faculdade de Ciências de Lisboa e do Instituto Dom Luiz, é um dos autores dos mapas que permitem pela primeira vez ter a perceção das áreas mais vulneráveis no país à subida do nível médio do mar. Das cotas e marés mergulhou no estudo das variáveis das alterações climáticas e assume que a inquietação é grande. Para evitar o “colapso”, acredita que a única solução passa por aceitar que a prosperidade tem limites e que é preciso refrear o consumo. Em abril, a aplicação snmportugal.pt, que desenvolveu em conjunto com Cristina Catita e Carolina Rocha, também da FCUL – e onde é possível visualizar os cenários de subida do mar em Portugal – foi distinguida pela Ordem dos Engenheiros. Esperam que ajude a dar visibilidade a uma área em que é preciso investir já, para haver menos surpresas nas próximas décadas.

O que dizem os vossos cenários sobre a subida do mar por exemplo em Lisboa?

Temos cenários submersão frequente com a subida do nível médio do mar e cenários de inundação extrema, que é o que pode acontecer quando a maré atinge picos máximos em preia-mar (maré cheia) e sobretudo quando estamos nas marés vivas equinociais de março e setembro, as que têm maior amplitude. Olhando para a maré em Lisboa, no Cais Sodré, hoje chega à cota máxima de 2,48 metros, ali onde temos os estrangeiros a ver os rios e os barcos. Em 2050, com a subida do nível médio do mar, os cenários apontam para um máximo de 2,62 metros.

Que efeitos serão visíveis?

Começamos a ter períodos do ano com duas, três, quatro horas com 20 centímetros de água.

Em que não dá para circular de carro?

Se a avenida não subir, pode não dar para circular. Mas isto sem nenhum efeito adicional de haver uma tempestade.

Vai ser preciso subir a marginal?

Não só em Lisboa. Vai ser preciso um conjunto de intervenções nas zonas costeiras e nas zonas de águas interiores, nomeadamente na ria de Aveiro e na ria Formosa. Voltando ao Cais Sodré, se em 2050 temos este problema sobretudo nas marés vivas de março e setembro, em 2100 todas as marés vivas em preia-mar podem gerar uma coluna de água de 90 centímetros e aí seria uma imobilização completa. As marés vivas são de 15 em 15 dias, na lua nova e na lua cheia.

Em Lisboa quais serão as zonas mais problemáticas?

É possível fazer essa projeção detalhada, mas temos a zona do Cais Sodré, Santos, Alcântara, Belém, Algés.

Leia a entrevista na íntegra na edição impressa de fim de semana do i, já nas bancas