Arábia. O que é nacional é bom – e de Riade a Doha, já todos sabem disso

Arábia. O que é nacional é bom – e de Riade a Doha, já todos sabem disso


Campeonatos, Taças do Rei e do Emir e até uma liga de sub-20: na época que agora está a terminar, os treinadores portugueses foram os verdadeiros donos do futebol na Arábia Saudita e no Catar.


“Obrigado, Pedro. Desejávamos que ficasse e trabalhámos para isso, mas é a sua escolha”. Foi assim que Mohamed Al- -Qasim, presidente do Al-Taawon, se despediu de Pedro Emanuel, o treinador português que fez história no clube sediado em Buraidah, Arábia Saudita. O antigo central de Boavista e FC Porto, e que em Portugal treinou Académica, Arouca e Estoril, levou o modesto conjunto à conquista da Taça daquele país – denominada Taça do Rei –, a primeira do seu historial, e acabou a época a ser eleito Treinador do Ano no país árabe.

Um feito assinalável, tendo em conta que concorria, por exemplo, com Rui Vitória, outro treinador luso que acaba a época de barriga cheia. Demitido do comando técnico do Benfica no início de janeiro, o treinador ribatejano não demorou muito a arranjar clube: juntou-se de imediato ao Al-Nassr, de Riade, um dos grandes do país mas que andava arredado dos títulos há quatro anos. A tarefa era o mais feroz possível: o Al-Nassr seguia em segundo, atrás do eterno rival, o Al-Hilal… orientado por Jorge Jesus – que já havia vencido a Supertaça no início da temporada.

A verdade é que o ex-treinador de Benfica e Sporting, em desacordo com a direção do clube (queria ficar apenas até ao fim da época, enquanto o presidente pretendia que fizesse toda a Liga dos Campeões asiática, que só termina em novembro), acabou por deixar o Al-Hilal em janeiro. A partir daí, o Al-Nassr somou pontos e mais pontos, culminando na conquista do campeonato na última quinta-feira.

Um título para o qual ainda contribuiu Hélder Cristóvão. O ex-internacional português deixou a equipa B do Benfica no fim da última temporada e aceitou o convite para ser coordenador técnico do Al–Nassr. No decorrer da época, porém, acabou por assumir as funções de técnico interino, que deixou precisamente para ceder o cargo a Rui Vitória. Já a meio de abril aceitou o risco de orientar o Al-Ettifaq e, apesar das três derrotas noutros tantos jogos, acabou por garantir a permanência na liga saudita.

Jesualdo, faria e o milagre à capela Portanto, caro leitor, façamos um ponto de situação: na Arábia Saudita, em 2018/19, Rui Vitória ganhou o campeonato, Pedro Emanuel a Taça e Jorge Jesus a Supertaça. Ah, e ainda há o mais desconhecido Bruno Marinho, técnico de 38 anos que em Portugal colecionou passagens por vários clubes da zona do Porto (entre os quais o Salgueiros, que orientou no Campeonato de Portugal) e que venceu o campeonato de sub-20 pelo Al–Faisaly.

É tempo de rumar ao Catar e também aí observar como o jugo dos técnicos lusos se impôs aos adversários. À quarta temporada ao comando do Al-Sadd, Jesualdo Ferreira conseguiu finalmente o troféu que lhe faltava – e precisamente o mais importante: o campeonato. O veterano treinador português, nascido há 72 anos em Mirandela, levou a melhor sobre o Al-Duhail, que a meio da temporada também passou a falar a língua de Camões.

Aliás, a despedida de Jesualdo do Al- -Sadd (vai passar a pasta a Xavi, o lendário médio espanhol que capitaneou a equipa nestas quatro temporadas e que agora se estreará como treinador) só não é perfeita precisamente devido à influência desse outro português que chegou a Doha com a época a decorrer, de seu nome Rui Faria. O antigo adjunto de José Mourinho escolheu o Catar como primeiro país para trabalhar como técnico principal e, se o título nacional lhe fugiu – ficou a sete pontos do campeão –, a Taça (que naquele país é “do Emir”) foi agarrada com unhas e dentes: 4-1 na final ao Al-Sadd de Jesualdo, precisamente.

É preciso ainda relevar o trabalho de Rui Capela, técnico de 50 anos, natural de Beja, que orientava a equipa secundária do Al-Khor desde 2015 e que em fevereiro aceitou a missão de, em conjunto com o nativo Omar Najhi, evitar a despromoção. Uma tarefa que na altura parecia hercúlea – o Al-Khor estava a sete pontos da zona de salvação e sem ganhar há cinco jogos – mas que o treinador alentejano superou em pleno, terminando o campeonato quatro pontos acima da zona perigosa e regressando depois à formação secundária para a deixar em terceiro, a sua melhor classificação de sempre. Afinal, o que é nacional… Ora bem.