Marion Stokes gravou noticiários durante 33 anos com medo de que os acontecimentos se perdessem

Marion Stokes gravou noticiários durante 33 anos com medo de que os acontecimentos se perdessem


“Existiam demasiados detalhes que corriam o risco de desaparecer para sempre” e Marion Stokes quis certificar-se de não se perdiam. Três décadas de História foram guardadas por Stokes em cassetes VHS.


Marion Stokes morreu em 2012, aos 83 anos, enquanto assistia à transmissão do tiroteio na escola primária de Sandy Hook. Deixou um legado incomum: uma coleção de 70 mil cassetes. O conteúdo? Todos os noticiários que gravou entre 1979 e a data da sua morte. De acordo com a BBC, este poderá ser o maior arquivo pessoal de notícias do mundo.

A produtora de televisão, ativista, bibliotecária e arquivista era natural de Philadelphia, nos EUA. Stokes detinha uma coleção que consistia em noticiários da FOX, MSNBC, CNN, C-SPAN, CNBC e outras estações. As gravações eram feitas através de oito gravadores de cassetes que estavam espalhados pela casa da octogenária.

“Ela preocupava-se muito com a forma como as histórias eram feitas, como eram contadas e como se transformavam ao longo do tempo”, indicou o filho de Marion, Michael Metelits, citado pela revista Atlas Obscura. A verdade é que o quotidiano de Stokes era planeado de acordo com os noticiários. Até mesmo jantar fora constituía uma tarefa árdua, pois as cassetes terminavam a cada seis horas e a produtora e o marido trocavam-nas após esse período de tempo.

Segundo o filho de Stokes, existiram eventos como a cobertura da crise dos reféns americanos no Irão, que fizeram a mãe entender que “existiam demasiados detalhes que corriam o risco de desaparecer para sempre”. Antes de morrer, Stokes deixou instruções para que o filho doasse as cassetes a uma instituição de caridade à sua escolha.

Em 2013, um ano após o desaparecimento de Stokes, o seu arquivo viajou até à The Internet Archive – a mudança para a organização sem fins lucrativos dedicada a manter um arquivo de recursos multimédia custou 16 mil dólares (aproximadamente 14 mil e 326 euros). A biblioteca digital decidiu digitalizar todas as cassetes, um processo que custou 2 milhões de dólares (1.790.751 euros). Em 2014, o projeto ainda estava em andamento.

A produtora televisiva inspirou o cineasta Matt Wolf, que criou o documentário “Recorder: The Marion Stokes Project” acerca da sua vida. A produção estreou no Tribeca Film Festival, em abril.