O Cardiff City veio por aí abaixo aos trambolhões na tabela da classificação da Premier League e, com o antepenúltimo lugar derradeiro, condenou-se a descer de divisão e deixar, novamente, a principal liga inglesa sem representantes do País de Gales. Ainda por cima sendo os galeses os únicos dos povos da Grã-Bretanha a disputarem as competições inglesas, e era o que faltava que escoceses ou norte-irlandeses o fizessem, a despeito de já terem existido algumas tentativas de aproximação em relação à matéria.
Para quem conhece o País de Gales, sabe que há sempre um ligeiro problema de entendimento direto, pois o galês que eles fazem questão de utilizar mete tantas consoantes que, no mínimo, provocam cãibras na língua. Não acreditam? Ora tomem lá, para amostra, a forma como eles insistem em tratar o clube mais significativo da região: Clwb Pêl- -droed Dinas Caerdydd.
Certo! Para nós, não deixa de ser o Cardiff. Agora despromovido mas, ainda assim, eternamente orgulhoso por ter sido o único clube galês a vencer a Taça de Inglaterra e, vamos e venhamos, é tarefa meritória.
Foi no ano de 1920 que os dirigentes do Cardiff desistiram de participar na pobrezinha Southern Football League e se candidataram à inglesa. Esta época de 2018-19 ficou marcada como a 17.a em que conviveram com os grandes da Inglaterra. Veremos para quando o regresso.
Nascido como Riverside Football Club em 1899, foi por causa do rei Eduardo vii e da sua decisão de conceder a Cardiff foral de cidade que o Cardiff passou a Cardiff. Pode dizer-se que nasceu feliz. Triunfos sonoros em jogos particulares contra equipas inglesas prometiam glórias vindouras. A década de 1920 seria imorredoira. Num ano apenas, asseguraram o acesso à i Divisão de Inglaterra e atingiram as meias-finais da Taça. O mundo era azul para os azuis da cidade do Castelo Vermelho. Na época seguinte foram segundos classificados na tabela final. Quem diria? Seria autêntica a crença de que um clube de Gales pudesse vir um dia a ser campeão inglês?
Fantástico! Se julgam que o sonho acabou aqui, estão muito enganados. Mais uma época, mais uma surpresa: o Cardiff City chegou à final da Taça de Inglaterra e perdeu à tangente para o Shef-field United (0-1). O aviso estava dado: “Take us seriously!”
1926-27. Nunca o Cardiff tinha ficado tão mal classificado desde que chegara ao topo do futebol inglês: 14.o posto. Mas a carreira na Taça de Inglaterra faria esquecer o deslize.
Na primeira eliminatória em que participaram clubes do escalão principal, ou seja, a terceira, a vítima foi o Aston Villa (2-1). Seguiu-se uma deslocação a Darlington e uma nova vitória (2-0). Tudo corria bem até então. Vem o Bolton Wanderers e o resultado repete-se, mesmo no campo do Bolton. Tudo fica mais difícil perante o Chelsea. Ao empate no primeiro jogo (0-0) segue-se o encontro de desempate. Aí sim, resolução a favor dos galeses (3-2). A meia-final, disputada no Molineux, em Wolverhampton, é um pró-forma: 3-0 ao Reading.
A final da Taça de Inglaterra de 1927 teve lugar em Wembley no dia 23 de abril, dia de São Jorge. O Arsenal era seguramente favorito, mas Hughie Ferguson, um escocês, um dos únicos membros do clube dos sete jogadores que marcaram mais de 350 golos na liga inglesa, recebeu um passe do colega Ernie Curtis e, com um pontapé violento, bateu o guarda-redes Dan Lewis que, ainda assim, se embrulhou com a bola como se procurasse apanhar uma galinha pelo rabo. Fred Keenor, o capitão, recebeu a Taça das mãos do rei Jorge v e o Cardiff entrava pelos portões dourados da história do futebol da Grande Ilha que fica para lá da Mancha.
No dia seguinte, mais de 150 mil pessoas juntaram-se nas ruas de Cardiff para aplaudir os seus heróis. Não contentes com o feito, os jogadores do Cardiff City venceram também a final da Taça do País de Gales, que se jogava em simultâneo, batendo o Ryhl por 2-0. A festa foi de arromba, mas dias negros acumulavam-se como nuvens no horizonte. No ano seguinte estavam na ii Divisão. Tal como agora…