Ambiente. Porque andam a morrer tantas baleias?

Ambiente. Porque andam a morrer tantas baleias?


Nas últimas semanas, várias baleias têm dado à costa nas praias portuguesas. E os plásticos têm vindo a contribuir para isso, alerta a Quercus.


Não foi uma. Nem duas. Nem três. Nas últimas semanas, houve pelo menos quatro baleias a dar à costa em Portugal. A primeira, em 18 de abril: com 16 metros, apareceu na praia do Burrinho, em Porto Covo (Santiago do Cacém). No dia 25 de abril, uma semana depois, foi a vez de um espécime de baleia-comum, com 19 metros, ter dado à costa na praia das Areias Brancas, em Vila Nova de Santo André (Santiago do Cacém). No mesmo dia, mais a norte, uma baleia- -anã em decomposição, com cerca de cinco metros, foi avistada na freguesia de Mar São Bartolomeu, em Esposende. Em 29 de abril, uma outra carcaça foi encontrada na praia da Raposa, em Grândola.

As notícias divulgadas são breves e não dão conta das possíveis causas de morte nem revelam, por exemplo, se os animais foram autopsiados depois de removidos das praias. Porque têm andado a dar à costa baleias com tal frequência? É um fenómeno normal? Ao i, o ambientalista João Branco, da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, avança com uma explicação sobre a qual não tem dúvidas: por detrás da aparente tendência está o flagelo dos plásticos.

“Aparentemente, estas baleias terão morrido de morte natural. Contudo, nos dias de hoje, morte de baleia, por si só, já é uma coisa duvidosa, por causa do problema dos plásticos nos oceanos, que é verdadeiramente grave”, começa por explicar. “Além do próprio plástico em si, sabemos que à medida que se fragmenta, acumula materiais venenosos na sua superfície, e quanto mais pequena é a partícula de plástico maior é essa acumulação e maior é a toxicidade do plástico, que inclui diversos componentes”, continua. Por isso, acredita, “quando se diz hoje que uma baleia morreu de morte natural é de duvidar. É como dizer que uma pessoa também morre de morte natural numa determinada idade, mas entretanto tinha uma má alimentação”. É que as baleias, aponta, nadam sempre com a boca aberta, não filtrando exatamente o que ingerem.

Relativamente ao número de baleias que têm vindo a ser encontradas mortas, João Branco considera que “não se pode dizer que seja normal ou costume”, ainda que “provavelmente, em anos anteriores, também se tenha verificado um cenário deste género, mas também não é possível dizê-lo porque não há grandes registos disso”, lamenta, indicando que só é possível ir acompanhando o fenómeno através das notícias que vão saindo. E alerta: “O mar está mais perigoso para os animais marinhos e, nomeadamente, para as baleias”, não só por confundirem o plástico com alimento, como as outras espécies marinhas, mas também, como já referido, por não filtrarem aquilo que ingerem. “Há vários tipos de baleia, mas a maior parte, à medida que se movimenta, vai com a boca aberta para apanhar comida. O que acontece é que, quando o mar está repleto de partículas de plástico, essas partículas estão dispersas, em suspensão na água, bem como no fundo do mar. E essas partículas, principalmente as mais pequenas – há, aliás, muitas, as nanopartículas, que nem se conseguem ver –, acabam por ser ingeridas, vão para o estômago e segue-se um processo de envenenamento”. Como resultado, a saúde vai-se deteriorando, não só pelo plástico propriamente dito como pelas toxinas que dele se apoderam à medida que se vai fragmentando no mar.

E como explicar que três delas tenham morrido na Costa Vicentina? “Não há uma explicação propriamente dita. O acaso também terá aqui o seu papel, bem como as rotas e as correntes”. Para terem dado à costa, esclarece João Branco, as baleias foram arrastadas por uma corrente, o que sugere que o seu estado, provavelmente, já não lhes permitia nadar por forma a contrariá-las. “Também podiam já estar mortas quando a corrente as arrastou”, admite ainda o responsável.

O futuro, acredita o ambientalista, será ainda mais negro: “Esta situação vai ser cada vez mais comum”, acredita, incitando a uma pesquisa online por casos idênticos um pouco por todo o mundo. “É recorrente o aparecimento de animais marinhos mortos nas praias”.

Um problema que afeta todos os animais marinhos É certo que nas últimas semanas têm sido as baleias as protagonistas das notícias, mas a invasão dos mares pelo plástico não escolhe espécies e afeta todos os animais que os habitam. E, mais do que afetá-los, João Branco não duvida que os plásticos, no caso de algumas espécies, venham mesmo a ser a causa primeira da sua extinção. “As tartarugas, por exemplo: vai ser muito difícil salvá-las da extinção, não só por causa do plástico mas também devido às redes fantasma, que andam à deriva no mar porque caíram dos barcos ou foram largadas pelos pescadores e ninguém as apanhou. E isso é uma questão complicada, porque os animais acabam por ficar enrolados nas redes, em particular as tartarugas. Mas as baleias, especialmente as mais novas, também não escapam”, lamenta.