Cambalhotas e acrobacias


Absolutamente impressionantes são as incautas posições induzidas por Mário Nogueira no CDS e no PSD.


Que os professores se organizam e ruidosamente defendem as suas causas, já não é novidade. Nunca o foi, embora, em Portugal, as contestações e demonstrações de poder tenham sido, e muito bem, sempre ordeiras e pacíficas.

Que têm uma invejável capacidade de mobilização e enchem praças e avenidas, também não é novidade.

A novidade é que ficámos a saber que também têm uma exemplar capacidade de movimentação nos bastidores para incutir o espírito circense nos mais insuspeitos partidos políticos nacionais.

Nas últimas semanas, Mário Nogueira desvendou a sua capacidade de polvo e exímio lobista, de faro apurado e elevada astúcia, que levou PSD e CDS a efetuar as mais célebres acrobacias de que há memória na política portuguesa.

À esquerda, com PCP e BE, nada de novo, e perfeitamente coerente a sua postura. A habitual posição, sempre bastante responsável, do “logo se vê”. Eleições à porta, contagem de espingardas e um vale-tudo para amealhar apoios no espetro da classe dos professores.

Como se paga? Isso logo se vê, até porque, como não deverão ser governo, é indiferente, e ao mesmo tempo criam, como por antecipação, argumentos e munições para no futuro poderem arremessar a um qualquer Governo que tenha de resolver o problema.

Agora, absolutamente impressionantes são as incautas posições induzidas por Mário Nogueira no CDS e no PSD.

Comecemos pelo PSD: há muito perdido numa liderança desafiada desde a primeira hora, tenta sobreviver à borrasca eleitoral que se aproxima. Não dá uma para a caixa, e Rio, político que tenho em altíssima conta mas cuja postura e princípios não se enquadram na política real, não tem qualquer pulso nas suas bases.

Resta saber se sobrevive às europeias ou se terá de enfrentar novo escrutínio interno antes das legislativas. A vida de Rio com António Costa à frente do PS nunca seria possível. São estirpes tão diferentes e incompatíveis que nem amizade nem estima pessoal conseguem promover uma coabitação. Com Seguro, acredito que talvez se pudessem entender, mas aí seriam as bases a minar todo e qualquer processo de entendimento entre os dois.

E o CDS? Bem, o CDS é um caso perdido. Tão perdido quanto a sua líder. Se Adelino Amaro da Costa fosse vivo estaria certamente a descabelar-se. A Sra. D. Cristas cada vez mais demonstra a sua inépcia e é um espelho de um partido acantonado à espera do momento ideal para acabar com a novela em que a própria é a principal protagonista.

Para além da cambalhota dada em sede de comissão, assistimos a um impressionante número de contorcionismo para dentro do partido. Entre declarações e cartas, Cristas demonstrou apenas uma coisa: presta um péssimo serviço ao partido e, consequentemente, ao país.

O CDS, já aqui o afirmei, é provavelmente o partido pequeno com mais quadros qualificados do nosso espetro político e, concorde-se ou não com a sua linha ideológica, sempre deu mostras de responsabilidade e fidelidade à sua matriz. O que ficamos a saber é que afinal, com esta liderança, o CDS demonstra uma conduta idêntica a um partido irresponsável que se foca apenas na sobrevivência política e na caça ao voto. No caso, parece-me extraordinário achar que umas cambalhotas pudessem atrair os votos de uma classe que maioritariamente está incrustada numa esquerda mais radical.

No meio de tudo isto, a meu ver, os vencedores são Mário Nogueira e António Costa. O primeiro, porque revela uma capacidade de influência até agora desconhecida e cimenta a sua incontestável posição de grande líder sindical. O segundo não espanta pela astúcia política e capacidade de leitura, mas a posição que tomou demonstra total responsabilidade, transparência e fica a convicção de que está aqui para durar.

Mais do que nunca, estas eleições europeias têm tudo para ser um enorme espetáculo ao estilo do Circo Chen!

Escreve à quinta-feira