Domingo, dia de trabalho


Não foi fácil, não foi daqueles dias que se diga que sim senhor, venham mais destes.. Diríamos mesmo mais, foi daqueles dias em que pouquinho mesmo saiu bem. Ele há dias assim: por mais que se tente por um lado, se arrisque por outro, chegamos ao fim do exercício e a equação mantém a incógnita.…


Não foi fácil, não foi daqueles dias que se diga que sim senhor, venham mais destes..

Diríamos mesmo mais, foi daqueles dias em que pouquinho mesmo saiu bem.

Ele há dias assim: por mais que se tente por um lado, se arrisque por outro, chegamos ao fim do exercício e a equação mantém a incógnita.

Terá sido Jerez então um mau dia no escritório?

Não. Não terá.

Nada mesmo.

A romaria de milhares, de milhares largos, vindos de todo o lado onde há um português, e esses lados são muitos e tantos, essa romaria adivinhada e sabida pelo nosso Miguel e pelo seu Clube de Fãs, transformou estes três dias de menos fulgor nas tabelas de tempos em dias de compensação.

Compensando o Falcão, que consigo arrasta já uma multidão grande, imensa, enorme, dando-lhe um porto de abrigo mais para dias assim, dias de labuta e insistência em busca de novas fórmulas para que se descubra o caminho de novos degraus.

E compensando todos aqueles que guardam as manhãs de sexta- -feira e do fim de semana para assistir a treinos livres, treinos de qualificação, sessões de aquecimento e corridas a fundo.

E em Jerez de la Frontera, entre as curvas 10 e 11, a curva Peluqui e Alex Crivillé, sabe Miguel que acelerará junto dos seus, sabem os seus que levantarão as bandeiras para o empurrar com a alma mais cheia.

Poucos pilotos terão uma mancha nas bancadas tão bem desenhada e colorida.

Poucos pilotos terão esta dose extra de reconhecimento naqueles momentos de louca bravura e solidão.

Poucos pilotos terão tido de conquistar em terreno tão árido essa mesma colheita de gente e apoio.

Miguel, como outros, infelizmente, batalhou contra uma lógica e uma tradição em que parece apenas haver bola no país Portugal.

E não se trata, não se pense, de coisa ao acaso.

Há pouca, muito pouca, há quase nenhuma informação acerca desta gente em sua infância de desportistas, num mundo em que para se ser rapaz e homem há que ser o mais forte por entre os mais fortes de um mundo de muito fortes.

Hoje por hoje, sabe-se quando corre o Falcão e onde, consegue-se até ver uns diretos de treinos e corridas.

Mas consegue-se isso tudo porque Miguel Oliveira chegou ao Olimpo.

E de todos estes que hoje em dia vão ganhando coragem de divulgar e noticiar para além da bola, quantos estavam naqueles dias de chuva, vento e frio em que, num mundo de oportunidades desiguais, Miguel crescia para se fazer divino?

Pois é .. parece haver pouca gente nesse mundo de quem fala, escreve, patrocina e chega à multidão, parece haver pouca gente com a perceção de que há um filão de seguidores fiéis a explorar.

Um filão que gera magotes que se fazem às estradas para apoiar estes gloriosos voadores de duas rodas.

Um filão que gera retorno, assim saiba alguém gritar “estamos aqui e vamos apoiar”.

E se ontem, numa tarde de sol com temperaturas frias na classificação possível, se ontem o nosso Falcão sabia ter o seu aconchego quando passava junto à Chicane Senna, não deixa de ser curioso perguntar… e no Estoril, alguém sabe o que se passou?

Por entre outros dados curiosos, por entre vários vencedores em suas apostas, Kiko Maria, o KM4 de quem falámos há pouco tempo, estabeleceu novo recorde daquela pista em Pré Moto 3, ganhando uma corrida em que cavou uma eternidade para o segundo classificado.

Pois é, talvez não fosse má ideia criarmos este hábito de perseguir e apoiar quem tanto sonha e mais ainda trabalha.

Ontem foi, afinal, um dia bom no escritório.

Uns porque ganharam.

Outros porque lutaram.

E nós?

Trazemos mais gente?