Braga-Sporting. Uma autêntica final no “campeonato mais equilibrado”

Braga-Sporting. Uma autêntica final no “campeonato mais equilibrado”


Guerreiras e leoas discutem no domingo o título feminino 2018/19, na época com “maior competição” até agora: palavras de Edite Fernandes, nome histórico da modalidade.


É um cenário habitual nos últimos três anos: desde que aderiram à modalidade, entrando diretamente para o primeiro escalão do campeonato nacional, Braga e Sporting discutem entre si o título até à última. Este ano, porém, há uma diferença: se nas duas épocas anteriores foram as leoas a levar a melhor, vencendo sempre com uma diferença de três pontos, agora são as guerreiras do Minho que seguem na frente com essa mesma vantagem pontual, quando faltam duas jornadas para o fim da prova.

Na ronda que se disputa este domingo, de resto, terá lugar o encontro que pode decidir tudo – seja para um lado ou para o outro. O Estádio Municipal 1.º de Maio será palco de um Braga-Sporting que pode confirmar o primeiro título da história das bracarenses, adiar tudo para a última ronda ou, pelo contrário, testemunhar uma incrível reviravolta que poderia culminar com as celebrações do tricampeonato por parte das verdes-e-brancas naquela que é a época “mais equilibrada” dos últimos anos, segundo um nome histórico da modalidade.

“O Braga parte como favorito, até porque, além dos três pontos a mais, tem também vantagem de dois golos no confronto direto”, lembra ao i Edite Fernandes, referindo-se ao triunfo conquistado pelas bracarenses em Alcochete na primeira volta (0-2). Edite, de 39 anos, mudou-se este ano para o Futebol Benfica, depois de dois anos a representar o Braga, e assegura que no horizonte das bracarenses esteve sempre o título nacional desde a criação da modalidade: “Claro que sim, sempre foi esse o desejo e o objetivo. E estivemos muito perto, na época passada nos jogos com o Sporting fomos a equipa que melhor jogou, mas elas foram mais eficazes”.

 

Favorito? Braga, claro

Na antevisão do encontro deste domingo, Miguel Santos, treinador do Braga, assumiu o favoritismo, lembrando que basta um empate à sua equipa para festejar o tão desejado título. “O Braga, nesta fase, na forma em que está, é favorito, claro. Estamos em primeiro, temos mais três pontos e a vantagem do confronto direto, de lá ter ganho 2-0. Vamos jogar em casa e tudo fazer para ganhar e dar esta alegria aos adeptos”, disse o técnico minhoto, prometendo uma entrada forte, embora frisando que “quem tem de arriscar é o Sporting”.

Apesar do recente desaire caseiro com o Benfica (2-4, depois de ter ganho em Lisboa por 2-1), que ditou o afastamento nas meias-finais da Taça de Portugal, Miguel Santos garante que a confiança abunda na equipa. “O que aconteceu com o Benfica, naqueles primeiros 10 minutos [nos quais ficou a perder por 3-0], foi algo de anormal. A lição que retirámos foi que não podemos cometer aqueles erros e na quantidade que cometemos, saiu-nos caro. A equipa aprendeu bem a lição, até porque no jogo seguinte já não sofremos golos. Isso foi debatido internamente e a equipa percebeu onde esteve menos bem, serviu para crescermos, fez-nos olhar mais para nós e tornou-nos mais fortes e com o Sporting esses erros não vão ser cometidos”, prometeu, terminando com uma pergunta… sugestiva: “Quem não quer ser campeã nacional?”.

Do lado leonino, porém, o tom não é tão animado. Nuno Cristóvão, treinador com longo historial na modalidade, deixou críticas às arbitragens dos últimos jogos do Braga, considerando que as vitórias das guerreiras do Minho “não mereciam ser ensombradas por detalhes que resolveram os jogos a seu favor”. “Acho mal que, dos três jogos anteriores entre as duas melhores equipas do país, nenhum tenha sido apitado por árbitros internacionais”, disparou, assumindo que o Braga é o favorito “porque está na frente e com grande vantagem em todos os critérios de desempate”.

 

Grandes trouxeram visibilidade

Também Edite Fernandes (que soma 132 jogos e 39 golos pela seleção nacional) acredita que a festa poderá mesmo ser das bracarenses. Ainda que, salienta, a recuperação do Sporting não seja de todo impossível. “O Sporting é bicampeão e também é uma equipa bastante forte, que vai encarar este jogo como uma verdadeira final. Tem de marcar três golos, é verdade: é uma missão difícil, mas não é impossível”, salienta a atacante, que esta época defrontou as duas equipas logo ao início da temporada, antes de sofrer uma lesão que ainda a mantém afastada dos relvados.

“São duas equipas bastante diferentes, mas que obviamente criam ambas bastantes dificuldades a qualquer uma das outras. A discrepância entre as equipas profissionais e as amadoras é enorme. Ainda assim, e tirando o primeiro jogo com o Braga, em que perdemos 3-0, demos sempre muita luta e perdemos sempre pela margem mínima e nos minutos finais”, lembra a avançada, estabelecendo as principais diferenças entre Braga e Sporting: “O Braga tem mais poder físico, é uma equipa mais forte nesse aspeto e tem também uma frente atacante de muita qualidade e que marca muitos golos [é o melhor ataque do campeonato, com 103 golos em 20 jogos, tendo também a melhor marcadora: Vanessa Marques, com 26]. O Sporting joga um futebol mais técnico, mais elaborado, não estando tão à vontade nos confrontos físicos. No nosso caso, encaixámos melhor na forma de jogar delas; contra o Braga foi mais complicado”.

Edite, que se estreou na I divisão na já longínqua época de 96/97, ao serviço do Boavista, acredita que a entrada das equipas profissionais (no caso, Sporting e Braga) no futebol feminino contribuiu para uma melhoria significativa da modalidade em Portugal. “Tinha de ser assim, para a modalidade crescer. Houve clubes mais pequenos que não gostaram que eles entrassem diretamente na I Liga, mas foi o que tinha de ser feito. Hoje, o futebol feminino tem muito mais visibilidade e mediatismo, e para a próxima época, com a subida do Benfica, será ainda mais competitivo”, salienta a atacante, que em Portugal jogou ainda no 1.º de Dezembro e no Valadares Gaia, passando também pelo futebol espanhol, norueguês e norte-americano.

“O Braga tem mais poder físico, o Sporting joga um futebol mais técnico”