No passado dia 19, como é habitual, na página 3 do Expresso publicou o seu trabalho, escolhendo desta vez o Presidente norte-americano e o primeiro-ministro israelita como tema. Trump aparece retratado como um cego com quipá, a touca que os judeus usam, e pela trela leva um cão cuja cara é a de Benjamin Netanyahu, acrescentando-se a estrela de David à corda que o conduz.
O New York Times, sem autorização do autor, decidiu publicar o cartoon na sua secção internacional da passada quinta-feira. Tudo normal, se excetuarmos os direitos de autor. O problema surgiu com as críticas do filho de Donald Trump e de outras mentes mais sensíveis, acusando o jornal de antissemita, levando os responsáveis do grupo a pedirem desculpa, retirando o trabalho do seu site.
Esta história passa-se com um dos jornais de referência a nível mundial, que entendeu que a liberdade de expressão tem limites. Não me recordo do que escreveram e publicaram aquando da polémica com os cartoons do Charlie Hebdo, que acabou com um ataque terrorista depois de o jornal satírico francês ter impresso um cartoon de Maomé com uma bomba na cabeça, mas não condenaram, seguramente, os cartoonistas envolvidos.
Outros casos houve, envolvendo sátiras ao mundo islâmico, que chocaram o mundo com a reação fundamentalista dos muçulmanos pouco dados à liberdade de imprensa. Nessas ocasiões, o New York Times gastou, seguramente, muita tinta a criticar o fundamentalismo, algo que aceitou agora como correto. Mas por que carga de água é que um cartoonista não pode satirizar Trump e Netanyahu? Será assim tão forte o lóbi judeu? E não percebem que é (também) a liberdade de imprensa que distingue os países civilizados das ditaduras?
Quando António, na década de 90, fez o cartoon com o Papa João Paulo ii com um preservativo no nariz, criticando a mensagem do Vaticano a proibir o uso do preservativo, os católicos chocaram-se, mas a contestação ficou-se por aí. Certo é que o NYT prestou um péssimo serviço à democracia. Quem diria?