Estão a nascer mais dez crianças por dia em Portugal do que no mesmo período do ano passado. Dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, responsável pelo teste do pezinho que é feito aos recém-nascidos nos primeiros dias de vida, apontam para um baby boom nos primeiros três meses do ano: nasceram 21 348 crianças no país, mais 984 do que no mesmo período de 2018. É o número mais elevado desde 2012, ano em que foram estudados 21 750 recém-nascidos no primeiro trimestre.
As estatísticas, a que o i teve acesso, sugerem mais um ano de aumento da natalidade – mantendo-se a tendência, seria a terceira subida anual consecutiva. Os nascimentos têm vindo a baixar sucessivamente nas últimas décadas mas, a partir de 2011, num período que coincidiu com o ajustamento financeiro, houve uma queda acentuada. Em 2014 verificou-se o mínimo histórico de 82 367 nascimentos – em termos comparativos, naquele ano nasceram apenas 16 mil crianças nos primeiros meses do ano. Desde então, houve alguma recuperação, mas ainda não se regressou aos números pré–crise. Em 2011 nasceram 96 856 crianças e no ano passado, segundo ano de aumento após uma quebra da tendência em 2016, foram registados 87 325 nascimentos.
Os dados do Instituto Ricardo Jorge ainda não são números fechados, uma vez que o teste do pezinho, a cargo da Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética do Departamento de Genética Humana, não é obrigatório. Ainda assim, trata-se de um teste de rastreio de doenças genéticas aconselhado a todas as famílias e tem uma cobertura de quase 100%, pelo que é considerado um bom indicador da evolução da natalidade em tempo quase real, uma vez que os dados do Instituto Nacional de Estatística não estão disponíveis com a mesma rapidez. Neste momento só está disponível no INE informação relativa aos nascimentos no mês de janeiro.
Lisboa, Porto e Setúbal lideram nascimentos, mas há surpresas Como é habitual, dada a concentração da população, Lisboa e Porto dominam no número de nascimentos: no distrito de Lisboa nasceram 6419 crianças, e no Porto 3814. O terceiro lugar tem sido disputado entre Braga e Setúbal e este ano dominam as crianças nascidas no distrito na margem sul do Tejo (1596).
Comparando o número de nascimentos com os dados do ano passado, há algumas surpresas. Os maiores aumentos na natalidade verificam-se nos distritos de Évora – em 2018 nasceram, nos primeiros três meses do ano, 256 crianças e este ano houve 296 nascimentos, uma subida de 15%. Segue-se o distrito de Bragança, com 148 nascimentos em 2018 e 169 este ano, uma subida de 14% que também se verifica no distrito de Viseu (nasceram 564 crianças, mais 70 do que em 2018). No distrito de Leiria, os testes do pezinho realizados aumentaram 9%, passando-se de 687 nascimentos para 752. No distrito de Setúbal, a subida foi de 8%, enquanto em Braga o número de recém-nascidos é exatamente igual ao dos primeiros três meses de 2018 (1562). Já em Viana do Castelo também houve um aumento de 8% nos nascimentos.
Se a tendência geral é positiva, há distritos em que o número de crianças diminuiu face ao ano passado. É o caso de Santarém, Vila Real, Portalegre e Guarda, surgindo a quebra mais acentuada no número de nascimentos no distrito de Castelo Branco, onde nos primeiros três meses do ano nasceram menos 60 crianças do que em 2018. Na análise das regiões autónomas, nos Açores continuam a nascer mais bebés do que na Madeira, mas no arquipélago açoriano estão a diminuir os nascimentos e no madeirense aumentaram.
Há dez anos com saldo natural negativo De acordo com o último balanço feito pelo INE, há dez anos que o número de nascimentos no país não supera o número de mortes. O saldo natural agravou-se em 2018 para menos 25 982 pessoas no país, número que não tem em conta o fenómeno da emigração. De acordo com os dados disponibilizados em fevereiro pelo INE, em 2018 registaram-se 87 325 nados-vivos e 113 477 óbitos em território nacional. Mesmo que a tendência de aumento dos nascimentos se mantenha até ao final do ano, será difícil voltar a um cenário de crescimento da população.