Nesta semana que passou há vários temas que merecem algumas notas de destaque no âmbito da nossa política e dos nossos políticos.
Numa primeira referência rápida e actual e no exacto momento em que escrevo esta crónica fica-se a saber pelas notícias que, em princípio, o Governo irá reforçar os serviços mínimos nas cidades de Lisboa e Porto com o fito de garantir e/ou reforçar, nestes dois núcleos populacionais, o abastecimento de combustíveis.
Não é de hoje que a preferência do Governo por alguns portugueses em detrimento de outros se faz sentir sem o devido e muito merecido alarme (social e político).
Não podemos deixar de referir que, depois de ter mandado todos os portugueses pagar os desconto sobre os passes sociais de que só alguns precisam e para uma rede a que muito poucos têm acesso, agora e por cima, decidiu ainda que na distribuição das prebendas, também é de deixar de fora a gasolina para quem não se apresente munido do bilhete de transportes públicos devidamente subsidiado.
Ou seja, o interior, de onde chegam notícias da escassez de combustíveis, e onde a rede de transportes públicos não existe (apesar das performances serem parecidas, ou melhores, que as das descapitalizadas empresas públicas entregues aos sindicatos depois das reversões em que se sustenta a geringonça) continua o Governo a não ver qualquer necessidade de mínimos de equidade entre os portugueses, sejam das grandes cidades ou do interior.
Com aquela visão estratégica do mundo e do país que nos trouxe desde inícios de Abril e até agora sem uma ideia sobre esta questão, o Governo enerva-se com a falta de combustíveis para os cidadãos que têm transportes públicos, e neste momento com escassez generalizada de combustíveis pelo país fora, certamente, ainda não perdeu um segundo a pensar em quem não os tem, mas sobretudo e se calhar mais importante, nos sectores que trabalham com matérias perigosas sem serem combustíveis e cuja greve implica cortes graves de abastecimento, prováveis interrupções de laboração e gravíssimos prejuízos generalizados decorrentes da greve e seus efeitos colaterais.
É, outra vez, a impreparação absoluta daquele grupo de parentes e afins que se reúne lá para Campo de Ourique a quem o país, de vez em quando, incomoda com estas suas trivialidades.
Estamos, pois, em várias frentes: a provar num tom diferente a tal paz social que a geringonça garantiu e que Marcelo atestou; a treinar o interior na tal resiliência que Costa exigiu; e sobretudo a assistir a um movimento sindical inorgânico que foge à CGTP e ao BE, e também à UGT, e que demonstra que, fora da greve meramente política e para meninos de coro, que os Mários Nogueiras da vida decidem em conluio com o Comité Central, sem risco de falência do patrão ou da perda do trabalho, está o sector privado que cria riqueza e ganha muito menos que as clientelas da Função Pública, a revoltar-se contra a perpetuação desta assimetria que os geringonços eternizam para garantir os seus votos, criando carreiras de primeira e de segunda entre os Portugueses, pagas pelos impostos (do confisco fiscal) de todos para benefício de alguns.
Aproveitando esta nota sobre reversões parece oportuna outra ideia.
Ao que parece – ainda que pareça forçado falar-se em campanha do PS de apoio a Pedro Marques – teria havido um discurso do primeiro-ministro aos seus apoiantes onde este referiu que o PSD estava focado num “assalto ao poder” para fazer “reversões das políticas” desta legislatura.
É natural que Costa, que não ganhou as eleições e se socorreu de um acordo de revogação de medidas do Governo anterior para garantir o seu próprio assalto ao poder não tenha grande dificuldade em perceber esse tipo de manobra em que se diz ser useiro e vezeiro e que agora diz que o PSD estará a tentar.
Será mais estranho, porém, ou talvez não, que encontre todas estas alegadamente perigosas movimentações que imputa ao PSD e os perigos associados às mesmas, no quadro das eleições europeias! Aliás, quem já se tenha cruzado com um cartaz do ex-ministro da execução orçamental zero, pode bem pasmar com os claims da sua candidatura que relativamente à Europa (?) onde promete “mais emprego”, “mais igualdade” e “contas certas”!
É que, dificilmente, a não ser por um mero acaso e improvável coincidência um deputado ao Parlamento Europeu pode de alguma forma ser eleito, em razão desse seu cargo, primeiro-ministro de Portugal ou, sequer, legislar contra as alegadas reformas que Costa refere ou ter políticas que afetem, desde Bruxelas, o emprego a igualdade e as contas por cá, ou fazer reversões de políticas internas passadas!
Notar também, ainda que já desmentido pela assessoria da casa de morada de família (local anteriormente conhecido por lá ter funcionado o Conselho de Ministros), pairam no ar notícias de que Costa, depois de ter aberto a caixa de pandora das reposições para assaltar o poder, convertendo a sua derrota em vitória, ameaça fazer cair o Governo se a sua proposta para os professores for revertida, facto que, note-se, não deixa de ser uma notável ironia do destino.
Outra última e final nota para a perplexidade causada pela demissão sucessiva de alguns parentes de governantes nos últimos dias, num quadro em que Costa, desde o princípio, disse que a legalidade deste Executivo e suas escolhas é total, e que, porventura, a lei teria de ser mudada. A ser assim, Sr. PM, porquê então estas demissões??? Sobre este tema, ainda uma última perplexidade, esta, relativamente à ideia da separação de poderes. É mesmo verdade que o PR se permitiu enviar ao Governo a sua própria proposta de lei sobre este assunto? Esta usurpação não comove ninguém para lá do silêncio basbaque?
Há muitas maneiras de chegar ao pântano, Guterres, Sócrates e também Costa já lá chegaram com os resultados que sabemos! Será sempre a maneira como se sai dele que distingue os politiqueiros habilidosos dos estadistas.
No primeiro round ganhou o pântano…
Avizinham-se dias interessantes.
Advogado na norma8advogados
pf@norma8.pt
Escreve à quinta-feira