Cuspindo contra o vento…


Costuma dizer-se que ninguém é bom juiz em causa própria, mas… deambular pelas estradas minhotas, mesmo para um minhoto – como é o caso –, é sempre prazer renovado. 


Depois de um Inverno pouco frio e quase enxuto, a Primavera reverdeceu com mais vigor, e árvores, arbustos e canteiros desataram a florir um tanto desatinadamente, antecipando o festival de verdes coloridos. Já se vêem maciços de flores garridas, abundam as árvores pintalgadas de laranja e amarelo-limão, carregadinhas de frutos, e não há quintal minhoto que se preze onde não se aprumem as couves galegas – agora espigadas, com penachos de flores esbranquiçadas – e se erga a latada (de uvas). Mas nem só de costumeira tradição se vive por estas bandas.

Há cerca de uma semana, nos Arcos de Valdevez realizou-se a sessão de encerramento do Desencaminharte 2018, o projecto de arte pública do Alto Minho. Nos dez concelhos do território, diversos autores/artistas deram largas à criatividade, privilegiando espaços fora dos núcleos urbanos, dialogando e interpelando a paisagem, nela deixando marca e obra feita. Nem mais! Uma forma inteligente de apelar à visita e de romper o desconhecimento a que tantas vezes são votadas estas terras, sobretudo as mais interiores. E já agora, falando dos Arcos, por ali tem muito para ver, ou não fosse terra de pergaminhos no que à fundação da lusa nacionalidade diz respeito – anualmente é dramatizada a reconstituição histórica do famoso “Recontro de Valdevez”, antecedente do Tratado de Zamora. E no Paço de Giela – monumento nacional desde 1910 que, como tantos outros, esteve à beira da ruína, só há coisa de três anos é que está aberto à visita, e recomenda-se – pode ver-se um filme alusivo. Se a vila, rasgada a meio pelo rio Vez, tem os seus encantos, os arrabaldes deste concelho que vai Parque Nacional da Peneda-Gerês adentro são dignos de destaque e merecedores de visita. Tal como o Desencaminharte, este é um descaminho que se impõe, e não enfada.

Enfastiados que chegue já andamos, porque mais enfadonho que o folhetim inglês do Brexit é o português das “relações familiares”. É evidente que o PS se pôs a jeito ao entregar à parentela gabinetes ministeriais, o que, não sendo nada de novo, foi suficientemente escarrapachado para não passar despercebido, para mais em maré de (pré-)campanha eleitoral. É igualmente evidente que a oposição não ia desperdiçar este caso, já porque, à falta de melhor, se especializou em casos, já porque a exploração mediática do dito poderia causar mossa no governo e embaraçar mesmo os parceiros de governação. No meio da restolhada que se gerou, e que promete continuar mercê do intrigante projecto de lei apresentado pelo PS, tivemos direito a entremezes variados; o momento pícaro foi protagonizado por Cavaco Silva, que resolveu sair do cafofo para publicamente manifestar a sua repulsa perante o desaforo socialista. Porém, tendo culpa no cartório, como se provou, melhor fora estar quieto e calado. É o que faz cuspir contra o vento…

 

Gestora

Escreve quinzenalmente, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990