“Gangster  do sindicato” tenta  formar governo na Finlândia

“Gangster do sindicato” tenta formar governo na Finlândia


Antti Rinne deu uma vitória há muito desejada aos sociais-democratas finlandeses, mas por pouca margem. Terá de formar uma coligação.


O Partido Social Democrata finlandês (SDP, na sigla finlandesa) conseguiu uma vitória há duas décadas por si desejada nas eleições legislativas finlandesas deste domingo. Liderado por Antti Rinne, de 56 anos e conhecido por ‘gangster do sindicato’, o partido assumiu como principal narrativa a defesa do Estado Social com a subida de impostos, com muitos dos finlandeses a concordarem. Mas a sua vitória não foi expressiva: ficou-se por uns meros 0,2% (6 800 votos) de avanço perante o Partido dos Finlandeses, de extrema-direita, que por sua vez obteve 17,5% (39 deputados). O Parlamento está fragmentado e Rinne tentará formar uma coligação governativa.

O SDP possui mais um que o seu principal adversário e tudo indica que não deverão colaborar numa coligação governativa. “Os nossos valores estão bastante distantes neste momento”, disse ontem Rinne na televisão finlandesa MTV. “Acho que não podemos trabalhar com os Finlandeses por causa dessas diferenças”, disse o líder social-democrata à AFP. Rinne ficou conhecido por em tempos ter liderado greves que roçavam a ilegalidade, acabando por ficar com a ‘alcunha’ de ‘gangster do sindicato’ – a ligação aos sindicatos é uma forte imagem política sua.

As principais divergências entre o SDP e o Partido dos Finlandeses são a política de imigração, União Europeia, política económica e, inclusive, valores e costumes. O Partido dos Finlandeses, liderado por Jussi Halla-aho, considera a imigração a principal ameaça que o país enfrenta, defendendo a reversão do fluxo de imigração com a construção de muros e vedações para a impedir. Além disso, o partido de extrema-direita afirma que a imigração está a esgotar os serviços públicos nacionais e assume uma postura eurocética, posições amplamente recusadas pelo SDP. O facto de Halla-aho ter sido condenado pelo Supremo Tribunal, em 2012, por comentários em que relacionava o Islão à pedofilia também não ajuda na criação de pontes.

O resultado do partido de extrema-direita não deixou de surpreender, mas tudo indica que ficará de fora da próxima solução governativa. O Parlamento finlandês ficou ainda mais dividido e o SDP optará por uma coligação com partidos de esquerda e de centro-direita, como é o caso da Coligação Nacional (17% dos votos; 38 deputados), dos Verdes (11,5%; 20 eleitos) e do Partido Popular Sueco (4,5%; 9 deputados). Ontem, Rinne começou a contactar as várias forças políticas para uma futura coligação.

A grande dificuldade de Rinne na formação da coligação será o Estado Social, tema que dividiu o espetro político finlandês. Por um lado, a esquerda quer aumentar os impostos para o tornar sustentável, enquanto a direita não quer tocar na carga fiscal e cortar nos serviços públicos. Espera-se que os custos do Estado Social finlandês subam dos 18,7 mil milhões de euros em 2018 para os 26,5 mil milhões de euros em 2035, segundo a Reuters.

A vitória social-democrata insere-se numa tendência de avanço da esquerda nos países nórdicos. Os seus homólogos já governam na Suécia e na Islândia e na Dinamarca lideram as sondagens para as legislativas de 17 de junho deste ano.