São Miguel que se prepare, vem aí mais um Tremor

São Miguel que se prepare, vem aí mais um Tremor


Com um espetáculo a juntar Ondamarela, a Escola de Música de Rabo de Peixe, a Associação de Surdos da Ilha de São Miguel e músicos locais (e os passes gerais esgotados), arranca hoje em Ponta Delgada a sexta edição do Tremor. Até sábado e a estender-se por toda a ilha, com os sempre surpreendentes tremores…


Bulimundo

Fundado em Cabo Verde em 1978, o conjunto Bulimundo chega aos dias de hoje (e ao Tremor) como um dos nomes mais relevantes do funaná da atualidade, depois de terem sido capazes de levar o género marcado pelo acordeão diatónico e o ferro-gaita ao centro da cidade. Após uma pausa de quase uma década, estão agora de regresso, com a promessa de um novo disco e – o que verdadeiramente importa aqui – aos palcos. À sexta edição do Tremor, na noite de sábado, a partir das 21h30, será deles o palco do Teatro Micaelense.

Hailu Mergia

Chamam-lhe “a lenda do jazz da Etiópia”. Lenda do jazz que, ao longo de 30 anos, conduziu táxis, num exílio forçado por um regime hostil para com os artistas. Trinta anos provavelmente já sem esperança de que, um dia, a vida mudasse. Até que mudou: em 2013, a Awesome Tapes from Africa recuperou a sua primeira obra, num gesto que determinou o seu regresso. Lala Belu, de 2017, é o seu mais recente disco. Mas é com toda a obra que faz uma “lenda” que Hailu Mergia chega aos Açores, para uma atuação certamente imperdível. No sábado, às 19h45, no Teatro Micaelense, antecipando Bulimundo.

Pop Dell’Arte

Atendendo a como se foi fazendo o Tremor no presente, mas também às melhores heranças do passado, vem quase como expetável a confirmação dos Pop Dell’Arte para esta sexta edição do festival (quinta-feira, às 23h, no Ateneu Comercial de Ponta Delgada), que os recebe com uma “vénia”. Pela forma como, ao fim de “mais de 30 anos de carreira”, agora com uma formação renovada, “continuam a alimentar o imaginário de uma música que se quer investida na vanguarda e inimiga do formalismo”.

Odete

Na cena queer continental, Odete é já bem mais do que um nome conhecido, ou reconhecido: é nome a fazer-se referência. No cruzamento entre a música, a performance, a escrita e as artes visuais, Odete desafia os limites entre o pessoal e o político de um lugar em que o autobiográfico serve como matéria para a construção de uma narrativa de transição a partir da sua própria experiência. Antes da atuação de quarta-feira à noite (das 00h30 às 3h, no Arco 8), Odete protagoniza com Instytut B81 e Maria João Gouveia, às 13h, no Neat Hotel, uma das Conversas Tremor desta edição, moderada por Paulo Simões.

Haley Heynderickx

Apresentado como o concerto que poderia não estar a acontecer (explicado por todas as dificuldades encontradas no processo de gravação de I Need to Start a Garden), que, tanto quanto se espera agora, tremor nenhum será capaz de deitar por terra num arquipélago feito deles. Com esse seu disco de estreia que integrou algumas das listas de discos do ano na bagagem, Haley Heynderickx viaja até aos Açores para atuar, às 18h15, no último dia do festival, num local a que chamar especial talvez soe a pouco: a Igreja do Colégio.

Chupame El Dedo

Eblis Álvarez (dos Meridian Brothers) e Pedro Ojeda (Romperayo, Los Pirañas e Ondatrópica) são os dois homens que Detlef Diederichsen, diretor do festival Evil Music, de Berlim, juntou num desafio: a criação de uma banda de death metal de influência tropical. Eles responderam com um nome – Chupame El Dedo, que de si já diz muito – e uma mistura do que era mais ou menos suposto. De um lado, grindcore, speed e black metal; do outro salsa, rumba, currulao e reggaeton. É aparecer sexta-feira no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande para ver (e ouvir) no que isto dá. Sexta-feira, às 23h.

Lieven Martens

Foram várias as temporadas passadas nos Açores por Lieven Martens (ex-Dolphins Into The Future) sem que tenha, contudo, alguma vez atuado no arquipélago. Nesse tempo, que foram anos, fez recolhas sonoras que lhe viriam a servir discos como Canto Arquipélago, “poema sonoro sobre a diversidade açoriana”. Agora, regressou, mas a convite do Tremor, para uma residência artística de recriação de The Cow Herder, que poderá ser descrito como um “retrato sonoro da vida de um guardador de vacas da ilha do Corvo”, cujo resultado será apresentado, com vídeos e textos de sua autoria, em sala e “num ponto exterior da ilha a revelar”.

Lafawndah

Entre a pop e a eletrónica, e influenciada por mulheres como Nina Simone, Grace Jones, Missy Elliott ou Kate Bush, Yasmine Dubois (conhecida como Lafawndah) tem captado atenções pela forma “futurística” com que chega a esses géneros, aliados às heranças do Médio Oriente – ou não estivessem as suas origens metade no Irão, metade no Egito -, mas também às “rainhas das pistas de dança e da disco”. Sobre o resultado disto, respondeu a própria, ao Guardian: “Quando estiverem a ouvir a minha música, o que quero é controlar o vosso corpo”.

Colin Stetson

Falar em Tom Waits, Arcade Fire, Lou Reed, Bon Iver, Feist, David Byrne, The National não é coisa pouca. Mas o que os liga? Pelo menos este nome: Colin Stetson. Saxofonista e compositor norte--americano que, entre São Francisco e Brookl yn, colaborou tanto ao vivo como em estúdio com esta lista de artistas. Movendo--se entre o jazz avant-garde e a eletrónica minimalista contemporânea, regressa a Portugal para um concerto marcado já para hoje (21h30, Auditório Luís de Camões) em que apresenta o seu último disco: All This I Do For Glory.

Teto Preto

Dos Teto Preto importa, antes de tudo, dizer onde nasceram: na festa Mamba Negra, que revolucionou a cena eletrónica em São Paulo. A uma edição com um programa que, a fazer--se também político, não deixou esquecido o Brasil, não poderia faltar a homenagem devida à luta pela sobrevivência da cultura eletrónica de vanguarda no Brasil – com o universo “inclusivo, feminista e hedonista” deste coletivo que assume a sua inspiração no techno e house, mas também no jazz. E na disco brasileira dos anos 70.