O que faz falta …


Escutámos na canção, e com a melodia espalhou-se a mensagem. Ainda que por razões outras, o grito cantava a receita para sair de um marasmo que, como todos os marasmos e ignorâncias, atava o destino a um desatino que a todos pisava.


Anos mais tarde, num desenho colado nas paredes que soava alto como a canção, quem não se lembra de outro sopro ao ouvido abanando em seu pasmo uma maioria silenciosa que era chamada ao passo em frente? E porque chamamos ao mundo do Falcão e suas asas tão longínquas mas tão presentes estes pedaços da vida do povo que é o nosso? Porque, senhores e senhoras, o que faz falta neste caso, desta feita numa luta que haverá também de triunfar, é avisar a malta de tantos e outros ídolos de milhões de portugueses que vivem e sobrevivem para além de um campo de futebol ou de um emblema na camisola. Permitam-me que vos conte um curiosíssimo episódio que me aconteceu há meia dúzia de anos. Estando por Barcelona em passeio, e chegada a hora de almoço, resolvi entrar por um dos muitos espaços que ofereciam um sem-número de opções culinárias e respetiva bebida para equilibrar o repasto. Ao passar por esplanada cheia, provável sinónimo de cardápio chamativo, resolvi entrar porta adentro. Não tinha ainda metido os dois pés na sala e escuto um bruaá unânime e avassalador que de imediato me fez pensar que cometera algum pecadilho, que porventura violara espaço sagrado, quiçá não me achariam bom vento. Que nada.

A multidão, ignorando-me como se eu fora transparente, dividia-se por entre expressões de espanto e desânimo, não querendo crer no que os olhos lhe mostravam: um piloto espanhol saindo pista fora, deslizando e rebolando, nem mais nem menos que um Dani Pedrosa (cujo nome eu apenas conhecia vagamente), situação que percebi ser o suficiente para encher de cor ou pintar de negrura o fim de semana de uma sala apinhada de aficionados. E eu ali especado e esquecido em minha pequenez a ver uns e outros, ora cabisbaixos ora sorridentes, consoante fossem de Marc ou de Pol, de Jorge ou de Dani, quem sabe de Aleix, de Álvaro ou ainda de Hector. Caramba, que panóplia, que cardápio por onde escolher, mas que raio deu nestes nossos vizinhos para brotarem ídolos em cada esquina ou janela? Acaso seriam melhores que nós nisto? Todos sabemos a resposta. Permitam-me ainda chamar aqui quem, parecendo que não, poderá ajudar a explicar a coisa: a pescadinha. Não uma qualquer, mas a de rabo na boca. Sem público, não há patrocinadores; sem estes, não há dinheiro; e sem dinheiro, não há provas nem ases. Ora não havendo ídolos, não há público. E como bem sabemos, sem público… Chegámos então onde pretendíamos, senhores e senhoras da maioria silenciosa, o que faz falta é… avisar a malta. Longe de pretender dar lições seja do que for ou a quem for, pego em mim e chego de baraço ao pescoço, confessando minha santa ignorância por estes e outros cavaleiros de tantos cavalos antes daquela minha redenção num simples restaurante de tapas y bocadillos. E se a epifania catalã iria levar-me a conhecer um Miguel e uma Mahindra, daí seguindo atento e esperançoso a cada fim de semana, porque não imaginar, desejar e proporcionar que a outros possa acontecer semelhante desiderato – esplanadas à parte, bem se vê. Pois na semana passada acabei de passear nas 44 curvas que em livro nos contam o Next Level do Falcão, e se na anterior pude apreciar uma jornada da Oliveira Cup, já este fim de semana segui as curvas, travagens e acelerações de um Kiko Maria que vai ganhando seu espaço e mundo de seguidores, aprendendo a ser grande num mundo para grandes. Mas, e como estavam as bancadas do autódromo? Vazias, vazias demais.


O que faz falta …


Escutámos na canção, e com a melodia espalhou-se a mensagem. Ainda que por razões outras, o grito cantava a receita para sair de um marasmo que, como todos os marasmos e ignorâncias, atava o destino a um desatino que a todos pisava.


Anos mais tarde, num desenho colado nas paredes que soava alto como a canção, quem não se lembra de outro sopro ao ouvido abanando em seu pasmo uma maioria silenciosa que era chamada ao passo em frente? E porque chamamos ao mundo do Falcão e suas asas tão longínquas mas tão presentes estes pedaços da vida do povo que é o nosso? Porque, senhores e senhoras, o que faz falta neste caso, desta feita numa luta que haverá também de triunfar, é avisar a malta de tantos e outros ídolos de milhões de portugueses que vivem e sobrevivem para além de um campo de futebol ou de um emblema na camisola. Permitam-me que vos conte um curiosíssimo episódio que me aconteceu há meia dúzia de anos. Estando por Barcelona em passeio, e chegada a hora de almoço, resolvi entrar por um dos muitos espaços que ofereciam um sem-número de opções culinárias e respetiva bebida para equilibrar o repasto. Ao passar por esplanada cheia, provável sinónimo de cardápio chamativo, resolvi entrar porta adentro. Não tinha ainda metido os dois pés na sala e escuto um bruaá unânime e avassalador que de imediato me fez pensar que cometera algum pecadilho, que porventura violara espaço sagrado, quiçá não me achariam bom vento. Que nada.

A multidão, ignorando-me como se eu fora transparente, dividia-se por entre expressões de espanto e desânimo, não querendo crer no que os olhos lhe mostravam: um piloto espanhol saindo pista fora, deslizando e rebolando, nem mais nem menos que um Dani Pedrosa (cujo nome eu apenas conhecia vagamente), situação que percebi ser o suficiente para encher de cor ou pintar de negrura o fim de semana de uma sala apinhada de aficionados. E eu ali especado e esquecido em minha pequenez a ver uns e outros, ora cabisbaixos ora sorridentes, consoante fossem de Marc ou de Pol, de Jorge ou de Dani, quem sabe de Aleix, de Álvaro ou ainda de Hector. Caramba, que panóplia, que cardápio por onde escolher, mas que raio deu nestes nossos vizinhos para brotarem ídolos em cada esquina ou janela? Acaso seriam melhores que nós nisto? Todos sabemos a resposta. Permitam-me ainda chamar aqui quem, parecendo que não, poderá ajudar a explicar a coisa: a pescadinha. Não uma qualquer, mas a de rabo na boca. Sem público, não há patrocinadores; sem estes, não há dinheiro; e sem dinheiro, não há provas nem ases. Ora não havendo ídolos, não há público. E como bem sabemos, sem público… Chegámos então onde pretendíamos, senhores e senhoras da maioria silenciosa, o que faz falta é… avisar a malta. Longe de pretender dar lições seja do que for ou a quem for, pego em mim e chego de baraço ao pescoço, confessando minha santa ignorância por estes e outros cavaleiros de tantos cavalos antes daquela minha redenção num simples restaurante de tapas y bocadillos. E se a epifania catalã iria levar-me a conhecer um Miguel e uma Mahindra, daí seguindo atento e esperançoso a cada fim de semana, porque não imaginar, desejar e proporcionar que a outros possa acontecer semelhante desiderato – esplanadas à parte, bem se vê. Pois na semana passada acabei de passear nas 44 curvas que em livro nos contam o Next Level do Falcão, e se na anterior pude apreciar uma jornada da Oliveira Cup, já este fim de semana segui as curvas, travagens e acelerações de um Kiko Maria que vai ganhando seu espaço e mundo de seguidores, aprendendo a ser grande num mundo para grandes. Mas, e como estavam as bancadas do autódromo? Vazias, vazias demais.