Cães dão novas pistas para o diagnóstico do cancro

Cães dão novas pistas para o diagnóstico do cancro


Startup norte-americana diz que cães conseguem detetar células cancerígenas com uma precisão de 97%.


Há mais de uma década que a hipótese tem estado em estudo e parece haver novos sinais de otimismo. Uma startup norte-americana que tem estado a aprofundar o potencial do faro dos cães para melhorar o diagnóstico do cancro apresentou esta semana resultados da sua experiência com quatro Beagles. Os animais foram confrontados com amostras de células cancerígenas do pulmão e amostras normais, tendo identificado de forma correta as células cancerígenas 96,7% das vezes.

O trabalho da BioScentDx foi apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular, que decorre até esta terça-feira em Orlando, na Florida. Em comunicado, a equipa relata que os recetores olfativos dos cães são 10 mil vezes mais precisos que os humanos. Heather Junqueira, co-fundadora desta startup sediada na Florida, diz que estão a seguir duas vias de desenvolvimento. Uma passa pelo uso desta habilidade canina diretamente no despiste de doença oncológica. A outra consiste em tentar determinar os componentes biológicos detetados pelos animais e posteriormente desenhar testes laboratoriais que assentem nessas moléculas. O comunicado adianta que a empresa começou em novembro um estudo em que procura perceber se é possível o despiste de cancro da mama através do hálito.

A pista canina tem estado a ser seguida por diferentes grupos de investigação. No Reino Unido, a Medical Detection Dogs tem sido uma das organizações mais ativas no estudo do potencial do faro canino na área da saúde. Um trabalho publicado em janeiro na revista científica_PLOS One, fruto de uma parceria entre a organização e investigadores da Universidade de Bristol, centrou-se no acompanhamento de diabéticos e concluiu que, após treino, 83% dos cães conseguiam alertar os donos para episódios de hipoglicemia com base em variações de odor. A Medical Detection Dogs tem em curso ensaios em torno do diagnóstico do cancro da próstata, da mama e tumores colorretais.

Em 2011, um trabalho publicado no European Respiratory Journal por investigadores alemães mostrou também resultados positivos no diagnóstico do cancro do pulmão. Neste estudo, os cães pareciam conseguir detetar diferenças no hálito de doentes, mas a equipa dizia que eram precisos mais estudos. “É provável que haja diferentes substâncias e o olfato aguçado dos cães consegue detetar essa diferença num estágio inicial da doença. É um grande passo em frente no diagnóstico do cancro do pulmão, mas precisamos de conseguir identificar com precisão os compostos. É pena que os cães não possam comunicar a bioquímica do odor do cancro”, disse na altura o autor do estudo, Thorsten Walles.