Reduzir velocidade na Segunda Circular? Só com obras, diz presidente da Prevenção Rodoviária

Reduzir velocidade na Segunda Circular? Só com obras, diz presidente da Prevenção Rodoviária


A ideia não é nova e já esteve em cima da mesa em 2015. José Miguel Trigoso diz ser necessário perceber que não basta reduzir a velocidade, são precisas obras e “reduzir o número de faixas”.


Reduzir a velocidade na Segunda Circular não chega, é preciso perceber o que se quer daquele eixo. Em reação à notícia de que a autarquia pondera fixar a velocidade máxima nos 60km/h, José Miguel Trigoso, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, explica ao i, que isso não é possível sem obras e uma redefinição daquela via: “Só é possível através de obras na infraestrutura, tornando aquela via mais uma rua”.

Os problemas estão à vista de todos, mas esta solução parece não ser consensual. Quem vive em Lisboa assiste todos os dias ao mesmo cenário: trânsito intenso na Segunda Circular. Para chegar ao trabalho a horas é preciso fazer contas que nunca podem excluir o fator trânsito – que se intensifica com o cada vez maior número de acidentes. 

O limite de velocidade na Segunda Circular é de 80 quilómetros por hora e nos últimos dias ficou a saber-se que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) está a ponderar reduzir para 60 km/h. A hipótese foi avançada por Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade da capital, em entrevista à Lusa, mas a ideia não é nova. Em 2015, o município discutiu um projeto ambicioso para reduzir a velocidade na Segunda Circular – um investimento de dez milhões de euros e obras que durariam dez meses. Há quatro anos, Fernando Medina, presidente da CML, já queria alterar a situação, revelando que a estrada precisava um “intervenção profunda”. As obras não avançaram e, em 2019, o assunto volta a ser discutido. 

Reduzir o trânsito e diminuir o número de acidentes desta estrada têm sido apontados como o objetivo desta alteração. 

No entanto, ao i, José Miguel Trigoso diz ter muitas dúvidas sobre a eficácia da redução da velocidade máxima se nada mais for feito. Até, porque “com aquela largura de faixas e profundidade, só se consegue que as pessoas, efetivamente, circulem a 50, se houver um controlo apertadíssimo cheio de radares”, diz, lembrando: “Com aquelas características físicas, não se consegue que, com trânsito fluido normal, se circule à velocidade de 50 km/h. Não vale a pena pensar nisso, porque não é possível”. 

Se a proposta para reduzir a velocidade em todo o troço for para a frente, a solução, diz, está na elaboração de obras de modo a reduzir o número de faixas – existem atualmente três faixas em cada sentido ao longo dos 10,1 quilómetros que compõem a Segunda Circular. Além disso, seria também necessário reduzir o número de vias de aceleração e desaceleração, caso contrário “transmite-se uma ideia e uma sensação subjetiva de segurança”. 

A Segunda Circular liga o IC 19 – onde a velocidade máxima permitida é de 100 km/h – à A1 – com máximo de 120 quilómetros por hora. Passar de um troço com características de autoestrada para uma zona onde o limite é 50 km/h exige um “efeito de portão muito significativo, com obras”, pelo que “não basta chegar e pôr um sinal de 50 km/h, a não ser que encham a estrada de radares e, mesmo assim, não é fácil”. 

Reduzir velocidade traduz-se em menos trânsito? Nas palavras do responsável pela pasta da Mobilidade na Câmara de Lisboa diminuir a velocidade é sinónimo de diminuição do trânsito. “Não só é mais seguro, como a Segunda Circular a 60 km/hora consegue fazer escoar mais carros do que a 80 km/hora […] e perde-se menos tempo nas horas de ponta”, disse Miguel Gaspar na mesma entrevista.  

Ora, o trânsito resulta da procura pela Segunda Circular e, diz José Miguel Trigoso, “isso não tem nada a ver com a velocidade praticada lá”. “Com a redução da velocidade espera-se reduzir o trânsito? Só se se pretende que as pessoas tenham medo de andar ali e então atiram-nas para outras vias paralelas, onde vão andar mais depressa”, explica. E acrescenta ainda o especialista que esta opção só transfere o risco para zonas com menos capacidade de suportar velocidades maiores.

Quanto aos acidentes, naturalmente que a redução da velocidade se traduz em menos acidentes, mas então regressa a questão inicial: para isso, afirma, são necessárias obras na insfraestrutura. 

Opção: várias velocidades A primeira hipótese apontada por Miguel Gaspar passa por diminuir a velocidade entre o nó da Buraca e o Fonte Nova e, a partir desta zona, passa a velocidade para os habituais 80 quilómetros por hora. Para José Miguel Trigoso, a questão da diminuição da velocidade depende apenas do objetivo da Câmara Municipal de Lisboa. 

No Eixo Norte-Sul, por exemplo, existem várias velocidades máximas permitidas. No entanto, nenhuma é de 50 km/h. Para a Segunda Circular, o especialista considera mais viável uma variação da velocidade consoante as horas do dia, “através de sinalizações em pórticos em que, sem trânsito se permita a velocidade de oitenta e, consoante o aumento da intensidade do trânsito, se vá reduzindo a velocidade para evitar as colisões pela retaguarda”. 

“Se me perguntar se à meia noite é muito arriscado circular a 80, não é, e pôr uma pessoa a circular a 50 durante aqueles não sei quantos quilómetros sem trânsito nenhum, parece-me uma tortura que não tem justificação”, explica o presidente da Segurança Rodoviária Portuguesa. Defende, por isso, que fazer uma gestão da velocidade de acordo com o volume de trânsito parece ser a hipótese mais viável. No entanto, reitera, se a opção for “manter uma velocidade fixa permanente, então tem de se fazer obras”.