Mick Jagger. Não podemos ter tudo o queremos. Às vezes é preciso parar

Mick Jagger. Não podemos ter tudo o queremos. Às vezes é preciso parar


Mick Jagger vai ser operado ao coração esta sexta-feira, o que obrigou os Rolling Stones a adiarem a digressão pela América do Norte, que deveria arrancar no próximo dia 20. O vocalista de 75 anos – e 59 de carreira – deverá regressar aos palcos no verão


Todos querem ter ‘moves’ como Jagger. Ter a sua vitalidade e energia, o seu estilo e a sua ‘pinta’. Todos querem chegar aos 75 anos como o vocalista dos Rollings Stones. Mas ninguém é de ferro e às vezes o corpo obriga-nos a parar.

Segundo o site Drudge Report, Mick Jagger será operado ao coração na próxima sexta-feira, em Nova Iorque, para substituir uma válvula. De acordo com a mesma publicação, os médicos dizem que este é um procedimento normal, mas que implica um longo período de repouso. Os representantes de Mick Jagger ainda não confirmaram nem desmentiram estas informações.

Esta situação levou a que os Rolling Stones fossem obrigados a adiar a sua digressão pela América do Norte, que deveria arrancar a 20 de abril e terminar a 29 de julho. Quando o adiamento foi anunciado, os representantes da banda deram uma explicação vaga: “Os médicos aconselharam Mick Jagger a não fazer a digressão nesta altura pois precisa de assistência médica. Os especialistas disseram-lhe que é esperada uma recuperação total e que poderá regressar aos palcos assim que for possível”, refere a nota oficial, citada pela revista Rolling Stone.

 “Lamento desapontar-vos. Estou devastado por ter de adiar a digressão, mas irei esforçar-me muito para regressar aos palcos o quanto antes”, escreveu Mick Jagger no Twitter. De acordo com o Drudge Report, é esperado que o vocalista dos Rolling Stones regresse aos concertos durante o verão.

Filho de professor sabe cantar Ninguém diria que Michael Philip, um jovem nascido em Dartford, em 1943, filho de um professor e uma cabeleireira, se tornaria num músico rebelde, responsável por quebrar com os padrões rítmicos e melódicos impostos até ali. Os pais queriam que Jagger seguisse a carreira de professor – que era também a do seu avô -, mas a verdade é que Mick sempre foi cantor. “Canto desde criança. Era um daqueles miúdos que gostava de cantar. Alguns cantam no coro, outros gostam de o fazer frente ao espelho. Eu estava no coro da igreja e adorava ouvir os cantores na rádio ou vê-los na televisão ou nos filmes”, recordou Mick Jagger, no livro According to the Rolling Stones.

Jagger conheceu Keith Richards em 1950, na escola primária, mas perderam o contacto quando Mick foi para a Dartford Grammar School. Em 1960, encontraram-se por acaso na estação de comboios de Dartford e voltaram a estabelecer uma relação de amizade. Foi nessa altura que perceberam que partilhavam o gosto pelo Blues. Em 1961, deixaram a escola e foram viver juntos para um apartamento em Chelsea, juntamente com o guitarrista Brian Jones. Richards and Jones começaram a apostar numa carreira musical, mas Jagger continuou os estudos na área de gestão – o objetivo era ser jornalista ou político.

Mas como surgiu uma das maiores bandas de todos os tempos? Jones começou a trabalhar num pub e, nos tempos livres, juntava-se a Richards e perdiam horas em jam sessions. Jagger começou aos poucos a participar nestas sessões de improviso, até que acabou mesmo por tornar-se no vocalista do grupo, dando assim origem à mítica banda.

O primeiro concerto da banda com o nome Rolling Stones, inspirado numa das suas músicas preferidas de Muddy Waters, foi num clube de Jazz chamado Marquee Club, no dia 12 de julho de 1962. A Jones, Jagger e Richards juntaram-se naquela noite Ian Stewart nas teclas, Dick Taylor no baixo e Tony Chapman na bateria.

A banda começa a ganhar notoriedade no Reino Unido e a apostar em temas originais. É nessa altura que surgem canções como As Tears Go By, You Can’t Always Get What You Want e (I Can’t Get No) Satisfaction. Temas como estes colocaram os Rolling Stones do lado oposto dos Beatles: os Stones eram os mal-comportados, os FabFour os meninos bonitos. “Naquela altura, o meu objetivo não era ser rebelde. Estava apenas a ser eu próprio. Não estava a tentar quebrar barreiras ou algo do género. Estava só a ser eu, um tipo normal ds subúrbios que canta numa banda. Mas as pessoas mais velhas se calharam acharam que eu era impostor, uma pessoa terrível. ‘Se isto é música, o que será o futuro?!’… Mas, na verdade, todas as músicas que tocávamos eram inofensivas. As pessoas não achavam isso, mas era a forma como eu as via”, contou Mick Jagger à Vanity Fair, em 1992.

Sexo, drogas e rock’n’roll Com a carreira musical a crescer de uma forma exponencial, surgiu também o lado negro da fama: uma vida sexual ativa e sem preconceitos, o consumo de estupefacientes e a ingestão sem controlo de bebidas alcoólicas começaram a pesar na vida dos Stones – Mick Jagger e Keith Richards chegaram mesmo a ser detidos e condenados a penas de prisão pelo crime de consumo de drogas, mas saíram em liberdade condicional, sem terem de cumprir a pena atrás das grades. Ao fim de tantos anos nos palcos, o cantor conseguiu deixar os vícios e aprender a dedicar-se à música e à vida pessoal sem depender do que fosse: “Começas a entrar no mundo do rock’n’roll para teres sexo e drogas, mas acabas por consumir drogas para conseguires tocar rock’n’roll e fazer sexo”, disse Mick Jagger no programa de David Letterman.

A vida amorosa também teve os seus altos e baixos: apesar de ter sido casado apenas uma vez, Jagger teve muitos relacionamentos. Os mais conhecidos foram com a cantora e atriz Marianne Faithfull, Bianca De Macias (a única com quem casou), a modelo Jerry Hall e a ex-primeira-dama francesa Carla Bruni. Desde 2014 que mantém uma relação com a bailarina Melanie Hamrick. Jagger tem oito filhos – a mais velha nasceu em 1970 e o mais novo em 2016 -, cinco netos e um bisneto, nascido em 2014.

A pedra que mudou a música Mas não era só com as mulheres que Jagger tinha problemas: ao fim de quase 70 anos, o cantor e Keith Richards continuam a formar uma das duplas mais fortes do mundo da música, mas a sua amizade é descrita pelos media como uma relação de amor/ódio. Jagger chegou a recusar-se a fazer digressões para promover um disco novo por estar de relações cortadas com Richards e o guitarrista descreveu o vocalista na sua autobiografia como alguém “insuportável”. Em 2015, numa entrevista à revista GQ, Richards foi mais simpático e disse que Jagger era apenas um “snob”. “Continuo a adorá-lo… Os teus amigos não têm de ser perfeitos”, defendeu.

Estas guerras constantes com o guitarrista terão sido um dos motivos que levaram Jagger a apostar também numa carreira a solo – entre 1985 e 2001 lançou quatro álbuns de originais. Mas a verdade é que os Rolling Stones continuam aí para as curvas: com 30 álbuns de estúdio, 23 ao vivo, 25 compilações e 120 singles, a banda liderada por Jagger – que já teve vários membros, mas que hoje conta apenas com o vocalista, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts – já vendeu mais de 240 milhões de discos em todo o mundo e realizou 48 digressões, incluindo três das mais rentáveis de sempre. E com Jagger sempre atrás do microfone. É por isso que o Telegraph o descreve como “a pedra rolante que mudou a música”.