Se, por um lado, comprar uma casa é quase impossível face aos valores astronómicos que são atualmente pedidos, arrendar um imóvel não é uma tarefa mais fácil. Os valores não param de subir e, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), aumentaram 9,3% no segundo semestre do ano passado face ao período homólogo. A média do país ronda os 4,80 euros por metro quadrado, mas a realidade nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, é bem diferente. Há freguesias na capital em que o preço ultrapassa os 14 euros.
A freguesia de Santo António – que engloba todas as zonas em torno da Av. da Liberdade – é um desses casos. Aqui, os preços por metro quadrado fixaram–se nos 14,10 euros e, apenas um ano, os valores dispararam 27,3%. Mas vamos a números: para arrendar uma casa com 100 metros quadrados nesta zona terá de pagar, no mínimo, 1410 euros por mês. E este valor tem apenas em conta o preço por metro quadrado da freguesia, pondo de lado outras questões, nomeadamente a especulação imobiliária.
As freguesias da Misericórdia – que abrange a Baixa lisboeta (por exemplo, as zonas do Cais do Sodré e do Bairro Alto) – e do Parque da Nações são a segunda e terceira mais caras para arrendar uma casa em Lisboa. Se, na primeira, o metro quadrado custa 13,38 euros, depois de ter registado uma valorização de 14,9%, na segunda, o valor situa-se nos 13,12 euros, uma subida de 12,1% face ao período homólogo. Feitas as contas, arrendar uma casa de 100 metros quadrados nestas freguesias custa mensalmente 1338 euros e 1312 euros, respetivamente.
O certo é que, no ano anterior, o Parque das Nações liderava o ranking de freguesia mais cara do município de Lisboa, altura em que o valor ficava nos 11,7 euros, enquanto a Misericórdia ocupava o segundo lugar da tabela, com o preço por metro quadrado a rondar os 11,64 euros.
Mas estes não são casos únicos. Também as freguesias da Estrela, Avenidas Novas, Campolide, São Vicente, Santa Maria Maior e Alvalade “registaram, simultaneamente, um valor das rendas em novos contratos acima do valor do município de Lisboa (11,16 euros ) e taxas de variação, face ao período homólogo, mais expressivas que a verificada no município de Lisboa (16,0%)”, diz o INE.
Do lado oposto, com os preços mais baixos, aparecem as freguesias dos Olivais, Marvila e Santa Clara, onde o preço por metro quadrado custa 10,9 e 8,31 euros, respetivamente. Ainda assim, a freguesia mais barata sofreu uma valorização de 21,8% face a igual período do ano passado.
A verdade é que o valor mais baixo do município de Lisboa se aproxima dos preços mais elevados registados no Porto. A União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde é a que lidera o ranking do preço por metro quadrado mais elevado ao fixar-se nos 8,86 euros. Ainda assim, nesta zona, arrendar uma casa de 100 metros quadrados fica bem longe dos preços cobrados em Lisboa, ao rondar os 886 euros por mês.
Logo a seguir surge a União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, onde o preço do metro quadrado se situa nos 8,49 euros, e a União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, com uma média de 8,43 euros.
Em contrapartida há freguesias onde o preço do metro quadrado não chega a atingir os oito euros. Exemplo disso é a freguesia de Ramalde (7,6 euros), Paranhos (7,42 euros) e Campanhã (6,19 euros). Feitas as contas, arrendar a mesma casa de 100 metros quadrados na freguesia mais barata do Porto custará 619 euros por mês.
Cenário diferente no resto do país Mas se, em Lisboa e no Porto, os preços disparam, no restante país, o cenário é bem diferente. Há concelhos como Portalegre e Bragança onde o preço por metro quadrado ronda os 2,79 euros e 2,49 euros, respetivamente. Também Vila Real (3,53 euros), Santarém (3,48 euros) e Viseu (3,65 euros) não ficam muito longe deste cenário. Isto significa que arrendar um imóvel na capital fica praticamente cinco vezes mais caro do que nestes concelhos.
Quem também está acima do valor mediano das rendas no país – que se situa nos 4,80 euros – é Faro. É nesta região, aliás, que está o concelho que registou o maior aumento percentual no ano passado: em Castro Marim, o valor das rendas disparou 28,4%.
Já com valores iguais ou superiores a 7 euros por metro quadrado destacam–se Cascais (9,71 euros), Oeiras (9,38 euros), Porto (7,85), Amadora (7,19) e Almada (7 euros).
Número de contratos desce De acordo com os mesmos dados do INE, o número de novos contratos de arrendamento registou um decréscimo de 7,9% no segundo semestre do ano passado.
A Área Metropolitana de Lisboa concentrou cerca de um terço dos novos contratos de arrendamento (25 916). Aliás, os novos contratos de arrendamento nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto representaram, em conjunto, cerca de 51% do número total de novos contratos do país, e o Algarve 5,7%. O Baixo Alentejo apresentou o menor número de novos contratos de arrendamento (399).
Ainda assim, os responsáveis do setor revelam que estes preços refletem o funcionamento do mercado. “O que há é um mercado a funcionar normalmente, regido pelas leis da oferta e da procura”, garante o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), acrescentando ainda que “a ausência de ativos no mercado, sobretudo nas principais cidades, faz com que os preços subam em determinadas zonas de Lisboa, do Porto e do Algarve”, mas lembra que o país tem de ser visto como um todo e não apenas através destas regiões.
O desafio, segundo Luís Lima, é repor o stock imobiliário nos centros das cidades, sobretudo no segmento médio e médio baixo, em que a oferta é cada vez escassa e, como tal, não dão resposta às necessidades de uma procura cada vez maior. Ainda assim, para o responsável, os preços nestas cidades ainda estão muito abaixo dos praticados na generalidade dos países europeus, o que torna o mercado português apetecível para o investimento estrangeiro. Mas deixa um recado: “Temos de ter em conta que o rendimento das famílias portuguesas não é equivalente aos rendimentos nestes países”.
Já para o presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), “a reabilitação urbana ainda não ganhou a dimensão necessária, o arrendamento quase não existe e os desequilíbrios entre a oferta e a procura, ao invés de se atenuarem, estão a aumentar. Em consequência, o mercado imobiliário ‘agita-se’, mas continua incapaz de colmatar as necessidades identificadas”.