Marcelo envia recado para o Governo: “Não me apareçam com mais nomes”

Marcelo envia recado para o Governo: “Não me apareçam com mais nomes”


Marcelo conhece bem os riscos que o nepotismo pode representar na imagem dos sistemas partidários


O Presidente da República tem sido sempre comedido nos seus comentários à polémica das relações familiares no Governo de António Costa, mas algo parece ter mudado recentemente.

Numa entrevista ao Expresso, esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que “não é bom misturar família com política” e deixou um recado para o primeiro-ministro: “Não me apareçam com mais nomes”.

Para o Presidente, a regra de não misturar o âmbito familiar com o profissional dever ser tanto aplicada aos cargos no Governo como a outras estruturas do Estado.

O chefe de Estado conhece bem os riscos que o nepotismo pode representar na imagem dos sistemas partidários, não fosse o seu pai Baltazar Rebelo de Sousa, que ocupou vários cargos governativos no regime do Estado Novo, e o seu padrinho Marcello Caetano, sucessor de António Oliveira Salazar na Presidência do Conselho de Ministros.

“Pessoalmente fiquei marcado na infância e nestas questões eu levo o rigor a um ponto que às vezes peco por excesso”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, recordando um episódio da sua infância.

Marcelo tinha apenas seis anos quando o pai tomou posse como subsecretário de Estado da Educação, foram juntos a um evento oficial de hipismo em Cascais, onde estava também Craveiro Lopes.

"Recorde uma coisa, filho de subsecretário de Estado não é secretário de Estado. O menino vai para outro sítio", disse-lhe na altura o Presidente.

Foi talvez este episódio da infância do chefe de Estado que inspirou o comentário: "Família de Presidente não é Presidente", que proferiu na terça-feira sobre a polémica, que continua a crescer. Esta quinta-feira, voltaram ser noticiadas outras relações familiares em cargos próximos do Executivo.

Mas os comentários do Presidente não serviram só para relativizar a questão, a ‘invocação’ do nome do seu antecessor foi entendida por alguns como um gesto à Pôncio Pilatos, ou seja um lavar de mãos quanto à responsabilidade dos nomes que constituem o Governo de António Costa. Parte-se do “princípio de que o Presidente Cavaco Silva, ao nomear aqueles governantes, tinha ponderado a qualidade das carreiras e o mérito para o exercício das funções”, afirmou Marcelo.

Cavaco Silva acusou o toque e respondeu: “Não há comparação possível em relação ao Governo que dei posse em 2015”, referindo-se à entrada de governantes depois das remodelações governamentais.

Marcelo veio depois explicar que só lembrou Cavaco Silva por entender que o seu antecessor é “insuspeito”.

O chefe de Estado fez ainda questão de sublinhar que a si nunca o poderão acusar de nepotismo, é antes um “pecador por excesso” que nunca levou qualquer familiar ao Palácio de Belém.

Quando o seu filho Nuno, que é vice-presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, foi convidado para discursar numa cerimónia de homenagem ao Presidente português no Brasil, Marcelo recusou.