Continuação da edição anterior
Quase um ano após a eliminação da Alemanha Democrática nos oitavos-de-final da primeira edição do campeonato da Europa, havia a consciência clara de que Portugal se preparava para defrontar uma das grandes potências do futebol europeu. No Mundial de 1958, a Jugoslávia tinha sido eliminada pela Alemanha Ocidental (0-1) nos quartos-de-final e vencera a França (3-2), que seria terceira classificada, na primeira fase. Além disso, os jugoslavos vinham de três finais consecutivas no Torneio de Futebol dos Jogos Olímpicos: 1948, Londres, Suécia (1-3); 1952, Helsínquia, Hungria (0-2); 1956, Melbourne, URSS (0-1). Venceria, em setembro seguinte, a final olímpica de Roma, frente à Dinamarca (3-1). Velhas glórias como o guarda-redes Beara, Boskov, Bobec ou Bora Milutinovic tinham dito adeus à seleção. O veterano Branko Zebec apadrinhava uma nova vaga de grandes jogadores entre os quais se destacavam Mujic, Kostic, Jerkovic e, sobretudo, o ainda muito jovem Dragoslav Sekuralac.
Na primeira mão, no Estádio Nacional, no dia 8 de maio de 1960, Portugal ganhou mas não deixou em campo grandes motivos para crer verdadeiramente que aguentaria a vantagem no encontro seguinte. Estava instalada a confusão no seio da seleção. O jogo de preparação em Ludwigshafen, com a Alemanha Ocidental, deixara feridas profundas. O resultado de 1-2, com Cavém a responder na segunda parte aos golos que Uwe Seeler e Rahn tinham marcado, foi muito lisonjeiro para uma exibição medíocre. “Os nossos jogadores foram piegas!”, acusava o dr. José Maria Antunes, selecionador. E castigou os piegas José Águas e José Augusto com a exclusão. Santana e Matateu levaram Portugal à vantagem relativamente confortável de dois golos mas, a sete minutos do final, Sekuralac deu a Kostic a hipótese de reduzir para 1-2.
O problema estava criado e não havia forma de o resolver. A questão tornara–se nacional e espalhara-se como fogo em palha seca pelas páginas dos jornais.
Confusão Consideravam os críticos que tirar os jogadores da equipa pelo que eles não haviam feito na Alemanha penalizava mais a equipa do que os jogadores. E que, a partir do momento em que eles não tinham sido imediatamente dispensados da convocatória na sua chegada a Lisboa, o selecionador e o treinador tinham caído num equívoco, enganando os adeptos e enganando-se a si próprios.
José Maria Antunes e Béla Guttmann mantiveram a sua teimosia em Belgrado. Hernâni e Santana, que tinham substituído José Águas e José Augusto, voltaram a ser titulares. O benfiquista Mário João estreou-se no lugar do seu companheiro de clube Ângelo.
Vinte minutos diabólicos dos jugoslavos deitaram por terra qualquer ténue esperança portuguesa. Durante a primeira parte, ainda fora possível disfarçar a superioridade do adversário. Sekularac fizera o 1-0, mas Cavém empatara de cabeça, na sequência de um canto. Um frango de Acúrsio, que não susteve uma bola chutada por Cebinac da linha de cabeceira, levou a Jugoslávia em vantagem para o intervalo. No segundo tempo, Kostic, Galic e novamente Kostic selaram uma vitória gorda (5-1). Portugal perdia o jogo e a cabeça: alguns jogadores entraram em lances de dureza excessiva e injustificável e saíram de campo sob um coro estridente de assobios. Depois de três vitórias consecutivas, a seleção deixava a primeira edição da Taça das Nações da Europa pela porta pequena.