Quase quatro anos depois, está de volta a fase de qualificação para um Campeonato da Europa de futebol. Estão quase a cumprir-se 60 anos desde o primeiro apuramento, de antecâmara para o Europeu inaugural (1960), tendo Portugal chegado pela primeira vez a uma fase final apenas em 1984. Desta feita, porém, a seleção nacional arranca a qualificação com um estatuto especial – e inédito: é a campeã europeia em título, fruto da glória alcançada no verão de 2016, em França.
“É óbvio que não é a mesma coisa começar uma qualificação sendo o detentor do título”, salientava ontem Rúben Neves, um dos destaques da seleção na Liga das Nações, a competição disputada logo após o Mundial, onde Portugal venceu o seu grupo e garantiu presença nas meias-finais, a disputar em junho em solo luso. Uma prova, refira-se, que nada tem a ver com esta fase de apuramento para o Euro 2020 – embora as duas acabem por ficar interligadas mais tarde.
Mas lá chegaremos. Por agora, falamos de iniciar mesmo tudo do zero: hoje, já haverá dez jogos (ver quadro à direita), com Portugal a entrar em campo amanhã, a partir das 19h45, no Estádio da Luz. Pela frente, os comandados de Fernando Santos terão um adversário de má memória: a Ucrânia, carrasco luso no apuramento para o Mundial 98 – a última grande competição que Portugal falhou. Então, a seleção orientada por Artur Jorge perdeu por 2-1 em território ucraniano, vencendo na segunda volta por 1-0 no velhinho Estádio das Antas, mas terminou o apuramento no terceiro lugar do grupo 9, com… um ponto a menos que os ucranianos – que, curiosamente, também acabariam por falhar o Mundial de França, pois caíram perante a Croácia no playoff.
Agora, porém, o estatuto de Portugal é muito diferente. A seleção nacional soma dez presenças consecutivas em grandes competições (seis em Europeus), no que é um recorde histórico, e tem executantes nos melhores clubes do mundo – com Cristiano Ronaldo, obviamente, à cabeça. A Ucrânia, por seu lado, procura reerguer-se após ter ficado de fora do último Mundial, apresentando como grandes figuras o defesa/médio Zinchenko, colega de Bernardo Silva no Manchester City, e o extremo Konoplyanka, que atua no Schalke 04. Além de Júnior Moraes, o “Dyego Sousa ucraniano”: nascido no Brasil, o avançado (irmão de Bruno Moraes, campeão europeu no FC Porto de José Mourinho) é o máximo goleador do campeonato ucraniano, com 16 golos em 21 jogos pelo Shakhtar Donetsk, onde é orientado por Paulo Fonseca, e viu o processo de naturalização concluído esta segunda-feira. Deverá, por isso, já defrontar Portugal amanhã, apresentando-se como a maior arma da equipa comandada pelo lendário Andriy Shevchenko.
Melhorar as entradas Portugal, já se sabe, apresentou três estreias nos convocados: além do avançado do Braga, salientam-se ainda as chamadas de Diogo Jota, uma das figuras do sensacional Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, e João Félix, o prodígio que despontou esta época no Benfica. À partida, nenhum dos três deverá ser titular na partida com a Ucrânia, em que a seleção nacional tentará contrariar o registo negativo que costuma apresentar nos arranques das fases de apuramento: não ganha na primeira jornada desde a qualificação para o Euro… 2000.
Isento do apuramento para o Euro 2004 por ter o estatuto de anfitrião, Portugal entrou na qualificação para o Euro 2008 com um empate (1-1 na Finlândia), repetindo o feito quatro anos depois, então em Guimarães (um insólito empate 4-4 contra a modesta seleção de Chipre). Pior ainda foi o arranque para o Euro 2016: a equipa das quinas perdeu em Aveiro por 1-0 com a Albânia, num desaire que precipitou a saída de Paulo Bento do comando técnico e a chegada de Fernando Santos.
A Ucrânia apresenta-se como um dos mais fortes opositores de Portugal nesta campanha, a par da Sérvia – que visitará o Estádio da Luz na segunda-feira. O grupo B é ainda constituído por Luxemburgo e Lituânia, teoricamente adversários bem mais acessíveis e que dificilmente entrarão na luta pelo apuramento – recorde-se que os dois primeiros classificados de cada um dos dez grupos ficam automaticamente apurados para o Euro 2020, o primeiro da história a jogar-se em 12 cidades de 12 países diferentes.
“Vamos jogar como sempre fizemos, a tentar ganhar todos os jogos, e acho que podemos ser candidatos a revalidar o título”, dizia ontem Rúben Neves. Ainda é cedo – muito cedo – para fazer tamanhas conjeturas, mas não deixa de ser positivo que os atletas entrem em competição com tanta confiança.
Por agora, e exceção feita à dispensa de Bruno Fernandes na terça-feira – o médio do Sporting apresentou queixas na perna direita – e a Gonçalo Guedes, que falhou o treino de ontem por estar com gripe, Fernando Santos tem todos os convocados à sua disposição. Havia a dúvida sobre a situação de Danilo, expulso no Portugal-Polónia que fechou a fase de grupos da Liga das Nações, mas a UEFA já esclareceu a Federação Portuguesa de Futebol (FPF): o médio do FC Porto terá de cumprir castigo na mesma prova, pelo que estará disponível para atuar amanhã, caso o selecionador assim o decida. Pelo contrário, não poderá defrontar a Suíça nas meias-finais da Liga das Nações, a 5 de junho.
Ucrânia vem cheia de confiança Já Shevchenko não pode dizer o mesmo. O antigo avançado de clubes como AC Milan ou Chelsea, hoje ao comando da seleção do seu país, ficou ontem privado do contributo de Viktor Kovalenko, médio de 23 anos que atua no Shakhtar Donetsk. O jogador está a contas com um estiramento que requer uma paragem de uma semana, pelo que não poderá defrontar Portugal.
Também ontem, ao site da Federação de Futebol da Ucrânia (FFU), Artem Kravets deixou a garantia de que a seleção ucraniana acredita num bom resultado na Luz, frente ao campeão europeu em título. “Porque não? Não diria que os portugueses são invencíveis. O futebol que a Ucrânia já demonstrou na Liga das Nações deixa-nos mais otimistas”, realçou o atacante, colega de Tiago Lopes e Silvestre Varela nos turcos do Kayserispor. Na mesma ocasião, Kravets reservou rasgados elogios para um português em especial: “Cristiano Ronaldo é um exemplo de dedicação profissional. Numa frase: é o melhor jogador do mundo”.