Açores. Rangel não terá apoio de dirigentes mas não desiste de ir lá fazer campanha

Açores. Rangel não terá apoio de dirigentes mas não desiste de ir lá fazer campanha


Alexandre Gaudêncio acusa Rui Rio de ter quebrado “tradição de 30 anos” ao não colocar um representante do PSD/Açores em lugar elegível. Campanha da estrutura regional só mesmo contra a abstenção.


A rutura foi anunciada há uma semana com a aprovação da lista às eleições europeias do PSD. O antigo presidente do Parlamento Mota Amaral não ficou colocado nos primeiros cinco lugares da equipa. A direção nacional só lhe ofereceu o oitavo lugar, considerado inelegível dentro do partido e o PSD/Açores oficializou a ideia de não fazer campanha eleitoral nas eleições de 26 de maio.

“Não estaremos disponíveis para acompanhar qualquer candidato que venha aos Açores durante esta campanha eleitoral”, assegurou ontem ao i o presidente dos sociais-democratas açorianos, Alexandre Gaudêncio. Campanha mesmo só contra a abstenção nas urnas, garantiu o dirigente social-democrata.

Ora, confrontado com tal cenário, o cabeça de lista do PSD às europeias, Paulo Rangel, garantiu que irá aos Açores em campanha. “Com certeza que faremos campanha nos Açores e que o faremos sempre em diálogo com os nossos militantes açorianos. Como fundador da autonomia regional, o PSD, no país e na Europa, nunca falhou, não falha e não falhará na representação do interesse específico dos açorianos e dos Açores”, afirmou ao i o eurodeputado social-democrata.

O caso está encerrado para a direção de Rui Rio, o presidente do partido, e será essa a palavra de ordem até 26 de maio.

Neste ponto também Mota Amaral concorda: “O caso está encerrado”, conforme disse ao i, depois de ter escrito um duro artigo de opinião no Diário dos Açores onde assumiu que o líder do PSD, Rui Rio, ficou com a sua credibilidade política “debilitada perante os militantes, simpatizantes e potenciais eleitores do PSD na Região Autónoma dos Açores”. Em causa estava um compromisso, assumido nas eleições diretas internas do PSD, em manter um candidato dos Açores em lugar elegível.

A quebra da promessa ditou um braço de ferro, porque a tradição tem 30 anos. A ideia foi repetida por duas vezes pelo dirigente Alexandre Gaudêncio.

“Estamos a assumir essa posição de força, porque não vimos os nossos interesses salvaguardados e estamos a falar de uma tradição com mais de 30 anos, que o PSD nacional tinha para com as autonomias”.

Gaudêncio sinalizou, desta forma, que não tinha outra saída senão colocar o PSD dos Açores fora da campanha oficial. Mais, os açorianos sociais-democratas prescindiram de indicar um nome para o oitavo lugar, o único que Rui Rio disponibilizou ao arquipélago. Dias mais tarde, após a aprovação da lista para as Europeias, o presidente laranja chegou a dizer aos jornalistas “que os Açores até vão ter um problema, porque, se calhar, o oitavo até vai mesmo entrar”, disse, citado pela Lusa. Na terça-feira, Rio quis mesmo arrumar o assunto e explicou que iria deixar de fazer comentários sobre o caso dos Açores: “Agora há um momento em que eu tenho de pôr um ponto final nisto e eu vou fazer um ponto final, vou deixar de fazer mais comentários sobre essa questão, é uma questão encerrada”, limitou-se a dizer Rio à saída de uma audiência com o Presidente da República. Isto depois de insistir que tinha “admiração” por Mota Amaral.

Apelo cívico contra a abstenção Nos Açores, as palavras de apaziguamento foram ouvidas, mas não surtiram qualquer efeito. A única campanha em que os sociais-democratas se envolverão é a do combate à abstenção, numa campanha física a apelar ao voto”, Nada mais. Gaudêncio não se revê “nesta lista que foi apresentada por Rui Rio”, mas prefere deixar para mais tarde qualquer decisão para as eleições de 6 de outubro. “Nas legislativas, a seu tempo, iremos decidir”, limitou-se a afirmar o dirigente regional, que assumiu um braço de ferro, sem precedentes, com o PSD nacional.

Na conferência de imprensa, a anunciar a decisão de não fazer campanha para as Europeias, a secretária-geral do PSD/Açores, Sabrina Furtado, chegou a admitir que possam ocorrer processos disciplinares contra o PSD/Açores. Nesse caso terão de ser para todos os militantes que apoiam esta decisão. Contudo, o líder regional, Alexandre Gaudêncio, confidenciou ao i não ter qualquer dado objetivo de algum processo contra a sua estrutura regional.

Mota Amaral, que não quis comentar a decisão, mas considerou também que “parece ridículo falar de processos disciplinares”. Contactada pelo i, a antiga líder do PSD/Açores, Berta Cabral, preferiu não emitir qualquer comentário à decisão da estrutura a que já presidiu.

Para já, o PSD/Açores vai apresentar uma proposta – que implica uma revisão constitucional – para que seja criado um círculo eleitoral para os Açores nas Europeias.