Desde esta segunda-feira, a delegação do IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes em Faro conta com mais dez funcionários – que na prática são oito, pois dois deles já se encontravam a trabalhar no estabelecimento no regime de Contrato Emprego- -Inserção (CdP). Foi esta a solução arranjada pelo organismo, através de um concurso com caráter de urgência – que já havia sido revelado ao i por fonte oficial do IMT –, para fazer face ao aumento de procura dos serviços que se tem verificado nos últimos meses na delegação de Faro (a única para todo o Algarve), mas também em Lisboa, com filas a começar à porta dos estabelecimentos e a estender-se por centenas de metros logo de madrugada.
Esta situação, como explicou ao nosso jornal a referida fonte oficial do IMT, é motivada principalmente pela urgência na troca de título de condução estrangeiro (maioritariamente por cidadãos britânicos preocupados com o Brexit), mas também pelos serviços de licenciamento e de certificação da atividade de transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica – as chamadas TVDE [como a Uber ou a Cabify].
As perspetivas, ainda assim, estão longe de ser animadoras, pelo menos no que respeita à realidade da capital de distrito algarvia. Foi essa a convicção transmitida ao i por fonte próxima da delegação do IMT de Faro. “Não vai resolver nada. Os balcões não aumentaram, continuam os mesmos seis, e quem entrou são, na maior parte dos casos, pessoas que trabalharam lá em situação precária até maio de 2017 (ou seja, há quase dois anos) e que não fizeram atendimento, pois quem trabalha ali no regime de CdP não tem acesso a todas as aplicações nem tem formação para estar no atendimento. Vão dar uma pequena ajuda, mas a maioria dos problemas vão manter-se: as filas de espera vão continuar iguais”, ressalva.
Na semana passada chegaram ao IMT de Faro alguns técnicos superiores para tentar ajudar a regularizar os processos mais urgentes, mas… nem tudo foi assim tão linear. “Uma delas não fazia atendimento há quatro anos! Andava, obviamente, ‘à pesca’! E essas pessoas só ficaram nessa semana, agora com a chegada dos tais oito novos funcionários já foram embora”, explica a referida fonte.
Simplex só complicou Esta situação tem vindo a agudizar- -se nos últimos meses, mas já se arrasta há algum tempo, particularmente desde que a Direção–Geral de Viação (DGV) deu lugar ao IMTT e, posteriormente, ao IMT, passando a haver uma convergência de serviços – o chamado Simplex. “Que, na verdade, torna tudo mais complexo. Agora, tudo tem de ser tratado no IMT, à exceção da renovação da carta de condução, que pode ser feita na Loja do Cidadão. A população residente na região é muito maior do que antigamente e os serviços não acompanharam essa evolução”, realça fonte da única delegação algarvia.
“Devia haver mais delegações no Algarve, e com autonomia para tratar de todos os processos que a direção regional trata. E dez pessoas? Tinham era de entrar 20, das quais dez só para o backoffice, para dar andamento aos processos. E antes de entrarem para o atendimento ao cliente, as pessoas tinham de fazer formações, nem que fosse de uma semana, para aprenderem a mexer na aplicação. Mas não há gente para parar e estar a ensinar, é um bocado o salve-se quem puder: mesmo que fizessem agora seis balcões num estalar de dedos, as pessoas iam andar às aranhas à mesma porque não têm formação para utilizar as aplicações”, completa.
Uma das razões para a morosidade da resolução dos processos prende-se precisamente com a falta de funcionários habilitados a trabalhar com o sistema. “Quem está no atendimento durante o horário normal de trabalho não consegue ir para o backoffice para dar andamento aos processos. Isto obriga a que as pessoas façam horas extra (que não são pagas). Às vezes, às dez da manhã já há cento e tal pessoas para atender e tem de se cancelar as senhas, caso contrário ficava-se ali até à meia–noite. E não há paragem para almoço: nesse período ficam apenas três balcões a atender – um nas cartas de condução, um nos veículos e um nos transportes”, clarifica.
O conceito de multifunções, de resto, é levado ao extremo no IMT de Faro. “A assistente técnica está também como escrivã nas contraordenações e tem de ajudar a despachar os processos relativos aos TVDE, que entram aos 60, 80, 100 por dia… Por exemplo: só havia duas pessoas nos transportes; uma saiu entretanto e a outra é essa secretária. Quando ela vai almoçar, o balcão dos transportes fecha! Porque não há mais ninguém que saiba fazer aquele trabalho”, revela fonte do estabelecimento ouvida pelo i, completando a descrição: “No serviço de expediente está uma pessoa, e quando ela, por algum motivo, não pode vir, outro colega deixa de fazer o que lhe pertence e tem de ir fazer esse serviço: inserir todo o expediente que dá entrada no sistema, que vem pelo correio, que vem por fax, por email… Uma pessoa! E entretanto ficam outras coisas paradas”.
Telefone? não se atende Uma das questões que vão merecendo mais críticas dos utentes, seja em Lisboa ou no Algarve, prende-se também com o facto de raramente conseguirem chegar à fala com algum funcionário quando ligam para o número de atendimento ao cliente que se pode encontrar nas páginas do IMT na internet. A resposta, pelo menos no que respeita à delegação de Faro, é, afinal, mais simples do que se possa pensar à primeira.
“O telefone está sempre fora do gancho! As pessoas podem telefonar para lá as vezes que quiserem que ninguém vai atender! E aquilo são chamadas umas atrás das outras! Era preciso uma sala com duas ou três pessoas só para atender telefones. E não há nenhuma! Não ponho as culpas em quem lá está, porque uma pessoa não consegue dar vazão a tanto acumular de tarefas, até porque, depois, também chegam inúmeros processos online”, salienta.
Outra situação ainda mais grave, no ponto de vista do próprio IMT de Faro, prende-se com a acumulação de processos que prescrevem e acabam por lesar gravemente a instituição em termos financeiros: “Há rios e rios de dinheiro, milhões de euros, que se perdem por processos que prescrevem, por exemplo, na área das contraordenações. Não há jurista: o IMT de Faro não tem jurista!” O cenário acaba por contribuir para o prolongar dessas situações de prevaricação. “Algumas empresas, que devem desconfiar ou mesmo saber disso, vão continuando a cometer as mesmas irregularidades – uma já ia em mil contraordenações! Porque sabem que os processos vão acabar por prescrever. E, mesmo assim, o IMT de Faro fatura! Mas poderia faturar muito mais”, garante.
A todos estes problemas, mais de caráter estrutural, há ainda a acrescentar outros de vertente mais funcional: trabalhadores e utentes estão… sem casa de banho – já para não falar da ausência de ar condicionado ou ventilação, que causa constrangimentos nomeadamente em dias de maior calor (algo, como se sabe, bastante comum na região algarvia). “A sala de atendimento não reúne condições. Quando está cheia, é um cheiro que não se pode! Não tem ar condicionado, não tem ventilação – só uma janela que fica entre os balcões, mas se a abrirem faz corrente de ar e os funcionários adoecem… e por isso não se abre! E a casa de banho para o público está avariada há mais de um mês, tal como a dos balcões: quem quiser fazer as suas necessidades vai ao primeiro andar ou tem de pedir a chave da sala do outro lado. E os utentes têm de ir ao café! É tudo assim”, sentencia fonte ligada ao IMT da delegação de Faro.