Em 2017 os diagnósticos de tuberculose em Portugal em doentes nascidos fora do país representaram 19,5% do total, a proporção mais elevada dos últimos anos. O relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças assinala que esta tem sido a tendência em muitos países europeus à medida que diminui o peso dos chamados casos “nativos”.
“Em muitos países de baixa incidência de tuberculose, uma grande proporção dos casos são de origem estrangeira”, lê-se no relatório divulgado em antecipação do Dia Mundial da Tuberculose, que conclui que em dois terços dos países da região europeia os casos “nativos” representam já menos de metade dos diagnósticos. Por exemplo em França, 58,8% dos casos de tuberculose diagnosticado em 2017 diziam respeito a doentes de origem estrangeira. O ECDC recorda orientações publicadas recentemente nesta área que defendem que o rastreio de tuberculose latente ou ativa em imigrantes recém-chegados que sejam oriundos de países onde a tuberculose é endémica pode ser uma medida eficaz do ponto de vida da prevenção.
O último relatório da Direção Geral da Saúde sobre esta doença, que tem por base os dados de 2017, também tinha assinalado esta tendência, estimando que a a taxa de incidência de tuberculose na população estrangeira em 2017 tenha sido 5,4 vezes superior à incidência nacional. Ainda assim, em 2017 foram diagnosticados 351 casos de tuberculose em pessoas nascidas fora de Portugal, menos do que os 363 registados em 2016.
Martino Gliozzi, coordenador da Unidade de Saúde Familiar da Baixa, no Martim Moniz, conhece bem esta realidade. Entre os utentes desta USF contam-se mais de 20 nacionalidades. “Em 2018 tivemos menos casos de tuberculose mas entre 2015 e 2017 houve um aumento”, disse ao i o médico, defendendo um reforço das medidas de saúde pública mas também na área da habitação. “Pela experiência que temos, não são doenças que as pessoas trazem de fora mas sim que apanham ou desenvolvem cá muito pelas más condições de vida e alojamento que têm”, sublinha Martino Gliozzi, dando o exemplo da comunidade do Bangladesh.
Além dos imigrantes, o médico sublinha que esta é uma doença que afeta sobretudo a população mais vulnerável, pelo que também se verifica uma maior incidência na população sem-abrigo e trabalhadores do sexo.
Em termos de saúde pública, Gliozzi defende que seria útil uma maior articulação entre os Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP), para onde são enviados os doentes numa primeira fase, e os centros de saúde de origem, com mais meios para acompanhamento clínico e a nível social, até para melhorar a adesão aos tratamentos. “Temos pessoas a fazer medicação durante seis meses e que é suposto serem seguidas pelo enfermeiro, mas há casos que se perdem por não haver uma boa articulação com o CDP”, diz Gliozzi.
A interrupção do tratamento pode levar a recaídas e contribui para o aparecimento de resistências a antibióticos, outra tendência para a qual existem alertas a nível internacional.
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