Tuberculose. Quanto tempo faltará até ser uma “doença do passado”?

Tuberculose. Quanto tempo faltará até ser uma “doença do passado”?


Em antecipação do Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala no próximo fim de semana, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças pede uma maior mobilização, até para evitar cenário de maior resistência a tratamentos. Ainda há 30 casos diagnosticados por hora na Europa. Portugal ainda não atingiu meta de sucesso nos tratamentos


“É tempo de fazer da tuberculose uma doença do passado”. O alerta é do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla em inglês), que publica esta terça-feira um ponto de situação sobre a tuberculose na Europa com base nos dados reportados pelos diferentes países em 2017. A incidência tem estado a baixar, mas ainda são diagnosticados 30 casos de tuberculose por hora. Um desafio que se mantém quando a meta internacional é erradicar a doença até 2030 e há novas ameaças como pano de fundo. “Se não agirmos de forma rápida e decisiva, as formas resistentes a medicamentos vão aumentar a sua influência na Europa”, disse, em comunicado, Zsuzsanna Jakab, diretora regional da Europa da Organização Mundial de Saúde.

O relatório, a que o i teve acesso antecipado, revela o que continua a ser um mapa europeu com realidades muito distintas. A taxa de notificação de novos diagnósticos e recaídas na União Europeia/Espaço Económico Europeu varia entre 2,6 casos por 100 mil habitantes no Liechtenstein ou 4.1 casos na Islândia a 66,2 casos na Roménia.

Portugal foi dos países que mais melhorou os indicadores. Historicamente esteve sempre na cauda da Europa ocidental no combate a esta doença (nos anos 60 registavam-se 194 casos por 100 mil habitantes) e surge no quadro do ECDC com uma taxa de notificação de 17,5 casos por 100 mil habitantes em 2017, a mais baixa de sempre. Ainda assim, continua acima da média de 10,7 casos por 100 mil habitantes notificados anualmente na UE. Portugal aparece ainda ao lado de Estónia e Letónia no grupo de países com maior taxa de co-infeção com o vírus da sida, dado que a tuberculose além de ser uma doença associada à pobreza afeta sobretudo pessoas com as defesas mais em baixo, sendo uma infeção oportunista associada ao VIH/sida.

O problema das resistências aos tratamentos com antibióticos acaba também por ser bastante diverso no espaço europeu e está muito associado à adesão aos tratamentos (quando os antibióticos não são tomados de forma adequada, aumenta o risco).

Em 30 682 casos casos confirmados laboratorialmente na Europa em 2017, 11% eram resistentes pelo menos a um dos medicamentos normalmente usados para tratar a tuberculose e 4% eram multirresistentes. Em Portugal, o problema das multirresistências não é muito expressivo, com apenas 1,5% dos casos a apresentarem resistências ao leque de antibióticos disponíveis. Na Lituânia e na Estónia mais de um quinto dos casos apresentam dificuldades de tratamento.

“O diagnóstico adequado e rápido da tuberculose é essencial. Quanto mais cedo um doente for diagnosticado, mais rápido o tratamento pode começar, aliviando o sofrimento e prevenindo a futura transmissão da doença”, alerta o ECDC, dando conta de que, apesar das melhorias, apenas metade dos novos casos notificados em 2017 foram detetados através dos testes rápidos recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Retrato em que Portugal não sai bem: foram confirmados 259 casos através deste tipo de testes moleculares, apenas 23,3% do total de casos confirmados em 2017.

O relatório salienta ainda que a taxa de sucesso dos tratamentos da tuberculose tanto nos quadros normais como nos casos resistentes continua abaixo das metas definidas a nível internacional. Pretendia-se que até 2025, 85% dos casos notificados fossem tratados com sucesso e a taxa de sucesso a nível europeu ronda ainda os 70,7%.

No casos multirresistentes, apenas 44,8% dos doentes foram tratados com sucesso. Apenas 15 países atingiram a meta dos 85% nos doentes diagnosticados em 2016 e outros 13 ficaram perto desse marco. Portugal ainda está longe desse pelotão, embora não surja entre os países com piores indicadores. Dos 1936 casos notificados em Portugal em 2016 – o ano usado para avaliar este indicador já que se trata de analisar o desfecho dos tratamentos em 2017 – 69,7% dos doentes ficaram curados.

Mais casos em crianças Se Portugal tem assistido à diminuição da incidência de tuberculose em todas as faixas etárias ao longo dos últimos anos, os dados de 2017, que coincidem com o fim da cobertura universal com a vacina BCG, revelaram um aumento nos diagnósticos em crianças com menos de 15 anos. Foram reportados 43 casos, mais sete do que no ano anterior. Depois da saída da vacina do Programa Nacional de Vacinação, foram selecionadas bolsas do país com maior risco onde continua a ser oferecida a vacina aos recém-nascidos.

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