É, muito provavelmente, um daqueles temas que nunca irão reunir consenso, além de ser capaz, aliás, de espoletar grandes polémicas – falamos dos casos de jogadores naturalizados que são chamados a representar a seleção portuguesa de futebol. Dyego Sousa é o último exemplo da lista, depois de o nome do ponta-de-lança do Sp. Braga ter sido uma das principais novidades na convocatória de Fernando Santos para os dois primeiros jogos da fase de qualificação para o Campeonato da Europa 2020 – frente à Ucrânia e à Sérvia, nos dias 22 e 25 de março, respetivamente.
Nascido em São José de Ribamar, no Brasil, o futebolista de 29 anos veio para Portugal ainda menor de idade. A dois meses de completar 18 anos, o jogador mudou-se dos brasileiros do Palmeiras para cumprir parte da sua formação nos juniores do Nacional. Depois da aventura pelo emblema madeirense (2007/08 e 2008/09), Dyego Sousa ainda regressou à terra natal, mas por pouco tempo. Desde a época 2010/11 que o percurso do ponta–de-lança tem sido feito em solo português, com exceção da sua passagem pelos angolanos do Inter Luanda (de julho de 2011 a julho de 2012).
Em Portugal, Dyego Sousa estreou-se pelo Leixões (2010/11), seguindo-se a passagem pelo Tondela (2012/13 e 2013/14) e pelo Portimonense (2013/14 e 2014/15) – sempre nas épocas em que os clubes militavam na 2.a Liga.
Aliás, só em julho de 2014, quando se transfere do clube algarvio para o Marítimo, é que Dyego Sousa chega ao principal escalão do futebol português.
Neste regresso à Madeira permaneceu durante três anos, até 2017/18, altura em que o Braga desembolsou cerca de 300 mil euros para garantir a sua contratação. A representar o emblema minhoto desde a época transata, o luso-brasileiro tem sido, de resto, o protagonista deste plantel. Com 14 golos nas 26 jornadas já disputadas na Liga portuguesa, Dyego Sousa é o terceiro melhor marcador da prova, com o mesmo número de golos que Bas Dost (Sporting) e a apenas um do suíço Seferovic (15), que lidera a lista.
Dyego Sousa cumpre requisitos exigidos pelo selecionador
Aos 29 anos foi chamado pela primeira vez à seleção nacional, algo que apanhou até o próprio jogador de surpresa: “Eu estava no balneário, com o Ricardo Horta, o Sequeira e o João Novais. Até estávamos a ver no telemóvel do Horta. Quando ouvi o meu nome, o último da lista, foi primeiro uma alegria, depois chorei, liguei para a minha família…” “Na realidade, eu estava à espera da convocatória de outro, nunca esperei que pudesse ser convocado. Queria, e todos sabiam que poderia ter essa possibilidade, mas não tive uma mensagem, não tive nada… Não tinha esperança. Fui então apanhado de surpresa. Foi bom”, continuou.
Desde setembro de 2014, altura em que assumiu o cargo de selecionador, que Fernando Santos deixou clara a sua posição em relação a convocar jogadores naturalizados: apesar de não ser fã da prática, sempre defendeu a ideia de que cada caso é um caso e que há jogadores que, embora não tenham nascido em Portugal, já criaram raízes e uma ligação inegável ao país.
Como tal, Dyego Sousa parece estar dentro dos requisitos exigidos pelo selecionador nacional, que até usou, à data desta explicação, o exemplo de Deco – já lá vamos.
“Estou cá para ajudar, já me sinto um português. Amo este país, este povo que me acolheu de braços abertos. É um povo muito bom, a minha esposa é portuguesa e a minha filha também. Só tenho de agradecer e retribuir dentro de campo todo o carinho e dar alegrias através da seleção, com a minha garra e determinação”, confirmou Sousa após o anúncio da inédita chamada à equipa das quinas.
Dyego Sousa é já o sétimo da lista
Contas feitas, o atacante do Sp. Braga tornou-se o sétimo jogador nascido no Brasil que optou por representar Portugal.
Antes de Dyego Sousa, o último caso havia acontecido há uma década, quando Liedson foi convocado por Carlos Queiroz para a fase de qualificação do Mundial 2010, disputado na África do Sul. Na altura, o antigo avançado leonino tinha acabado de obter a dupla nacionalidade, que conseguiu após cinco anos em solo português – o “levezinho” tinha, recorde-se, chegado a Alvalade no verão de 2003. Além do ex-avançado do Sporting, que alinhou em 15 jogos e fez quatro golos pela seleção A, há ainda outros casos sonantes: o de Deco e o de Pepe.
Corria o ano de 2003 quando Deco foi convocado pela primeira vez, poucos dias depois de concluir o processo de naturalização.
À data, a chamada do médio provocou várias reações polémicas, entre elas as de dois pesos-pesados do plantel da seleção, Luís Figo e Rui Costa, que sempre se mostraram contra a política de convocar jogadores naturalizados.
Indiferente à posição dos dois jogadores permaneceu o selecionador nacional… Luiz Felipe Scolari.
Deco começaria desde logo por se estrear com um golo frente ao país de origem, num jogo particular (março de 2003) que Portugal venceu e que acabou por ficar marcado pelo abraço final entre o “maestro” dos encarnados e o “mágico” do dragão.
O resto da história já se sabe: entre 2003 e 2010, Deco somou 75 internacionalizações, cinco golos e quatro fases finais (Europeus 2004 e 2008 e Mundiais 2006 e 2010), numa caminhada em que foi sempre titular indiscutível.
À semelhança do médio, também Pepe foi chamado pela primeira vez à seleção nacional por “Felipão”, desta feita para o apuramento para o Euro 2008.
Até ao momento conta com 103 internacionalizações (e 7 golos) numa caminhada que ainda não teve o seu fim e que já conta com o inédito título europeu conquistado em França. Pepe, recorde-se, chegou a Portugal no verão de 2001 para representar o Marítimo B e é um dos nomes que integram a última convocatória de Fernando Santos.
É preciso, porém, recuar quase 60 anos para encontrar os primeiros casos, que pertencem aos brasileiros Lúcio (cinco jogos na década de 1960) e Celso (três jogos na década de 1970) e ao sul-africano David Júlio (quatro jogos na década de 1960).
Gabriel também pode ser chamado a representar a equipa das quinas
Nascido no Rio de Janeiro, no Brasil, Gabriel, de 25 anos, tem dupla nacionalidade, que se justifica pelos laços familiares, mais concretamente pelo facto de ter uma avó que viveu na cidade do Porto.
O médio, que chegou no verão passado ao Benfica, tem revelado cada vez mais ser uma peça-chave no plantel de Bruno Lage, algo que pode abrir as portas a uma chamada para a seleção nacional.
De acordo com a imprensa brasileira, os representantes do médio foram contactados, “ainda na primeira semana de fevereiro”, no sentido de saber se este estaria disposto a entrar nas contas de Fernando Santos – algo que acabou por não se verificar. A notícia foi adiantada pelo UOL Esporte e diz ainda que a possibilidade de Gabriel representar a seleção brasileira é outra hipótese a ser estudada, já que a canarinha procura um jogador com os requisitos de Casemiro (médio brasileiro do Real Madrid).
Antes de chegar ao clube da Luz, Gabriel fez parte da sua formação na Juventus, tendo sido posteriormente emprestado a vários emblemas italianos.
Já em 2016/17, o Leganés decidiu comprar o passe do jogador (um milhão de euros), depois de este ter chegado na época anterior por empréstimo.
Entretanto, já no arranque desta época, o Benfica garantiu a contratação do médio, por quem pagou oito milhões de euros ao clube da Liga espanhola.
Em 2018/19, Gabriel soma 32 jogos e um golo – com especial destaque para o rendimento que o luso-brasileiro tem apresentado desde que Lage rendeu Rui Vitória no comando técnico das águias.