Numa ida ao médico de família espera-se que sejam receitados medicamentos ou exames, mas a verdade é que os problemas podem não ser só do foro clínico. É neste contexto que surge a “prescrição social”, quando a receita tem de ir além da medicina ou enfermagem. O método vê hoje assinalado o primeiro dia em sua homenagem, batizado como Dia Internacional da Prescrição Social.
Em Portugal, a ideia está ainda a dar os primeiros passos. O conceito foi implementado em setembro do ano passado na Unidade de Saúde Familiar da Baixa (USF Baixa), em Lisboa, numa iniciativa pioneira em todo o país.
Ao i, o coordenador do projeto, Cristiano Figueiredo, explica o que está em causa: “A prescrição social é um método que permite ligar os utentes dos cuidados de saúde primários com os recursos de apoio existentes na comunidade e procura facilitar a resposta aos problemas e necessidades sociais dos utentes”.
Subjacente está o objetivo de, “por um lado, melhorar a sua saúde e o bem-estar, e por outro de otimizar a utilização dos serviços de saúde”.
De acordo com o médico, a filosofia por detrás da prescrição social dita que, perante um problema social, se direcione o utente para o serviço social, uma vez que o serviço médico por si só não é a melhor resposta. Outra variável da equação é o facto de, se esse problema social não for resolvido, acabar por vir a desencadear problemas de saúde a longo prazo.
Os passos dados pela USF da Baixa vão agora ser replicados noutros serviços, revelou ao i o coordenador da iniciativa. A partir de abril está prevista a implementação na USF Almirante.
Na USF da Baixa, que funciona no Martim Moniz, o método passava por, numa consulta com um médico ou enfermeiro, os profissionais de saúde auscultarem não só o estado de saúde do utente, mas também problemas que prejudiquem o seu bem-estar – isolamento, desemprego ou necessidades de formação são algumas das hipóteses.
No entanto, a partir de hoje – não só para assinalar a data, mas também para destacar cada vez mais o método e demonstrar a sua importância – será possível aos utentes recorrerem à USF Baixa para marcarem por si uma consulta de prescrição social com um assistente social, não tendo assim necessariamente de depender de uma consulta de saúde e do encaminhamento de um médico ou enfermeiro.
A prescrição social, de resto, tem origens britânicas. Este ano, contextualiza Cristiano Figueiredo, o método ganhou novas proporções, com o governo inglês a “alocar um grande financiamento para este projeto a longo prazo, havendo mesmo uma tentativa governamental de difundir a prescrição social em todo o Serviço Nacional de Saúde britânico”.