1. É mais uma prova irrefutável de que o jornalismo livre e independente está morto (ou, pelo menos, em coma severo) em Portugal: sempre que há uma iniciativa do Partido Democrata, nos EUA, contra Donald Trump, os nossos jornalistas apresentam-na como mais uma iniciativa patriótica de defesa dos direitos humanos. Pode ser uma audição de Michael Cohen no Congresso, um protesto qualquer nas ruas ou uma declaração de Rosie O’Donnell – tudo merece um amplo destaque na comunicação social pátria. Sem contextualização, sem cuidarem de saber do que efetivamente se trata, escondendo a informação que julgam contrária à narrativa que pretendem impor ao povo português: se é contra Donald Trump (o presidente dos EUA, o líder do mundo livre, eleito nos termos constitucionais pelo povo norte-americano), só pode ser magnífico. Até poderia ser um atentado terrorista na Casa Branca – se o autor do atentado fosse um membro da extrema- -esquerda declaradamente anti-presidente Trump, então o atentado passaria a ser legitimado pelos fins políticos superiores que visava prosseguir.
2. Se o presidente Trump defende um maior reforço das fronteiras dos EUA como medida idónea para incrementar a segurança dos cidadãos norte-americanos, a nossa comunicação social conclui que Trump é racista. Se o presidente Trump afirma que fazer gestos obscenos ou ajoelhar-se durante o hino nacional ou perante a bandeira dos EUA é – embora legal e constitucionalmente conforme, como já decidiu o Supremo Tribunal dos EUA – de mau gosto, a nossa comunicação social conclui que Donald Trump é xenófobo. Se o presidente Trump negoceia e firma um acordo de comércio mais justo, Trump só pode ser fascista ou nazi. Mesmo que os mexicanos até considerem o novo acordo globalmente mais favorável para os seus interesses, ao ponto de condecorarem Jared Kushner e Robert Lighthizer (o US Trade Representative, escolhido pelo presidente Trump), a comunicação social está sempre pronta para desenhar um bigodinho – barbaramente ridículo e ridiculamente bárbaro – na face de Donald Trump. E enquanto os jornalistas e os políticos portugueses (e, já agora, europeus) se divertem com as palhaçadas da “caça ao Trump” , jogando uma espécie de “Angry Trump Birds”, eis que a esquerda americana continua o seu caminho de radicalização fanática e disseminação do discurso de ódio.
3. Qual é o alvo? As vítimas que a História nos ensina que são o carrasco preferido dos “justiceiros sociais”, venham eles de onde vierem : os judeus. Já aqui escrevemos que, em Portugal, o Bloco de Esquerda é o representante natural do KKK e Catarina Martins a personificação mais exata de David Duke: se compararmos os tweets do líder da extrema-direita americana com alguns textos publicados no Esquerda.Net, constataremos semelhanças notórias e deveras elucidativas. E chocantes. Ora, nos EUA – facto tristemente histórico – temos uma representante no Congresso que ultrapassa Catarina Martins pela extrema-esquerda: o seu nome é Ilhan Omar, eleita pelo 5.o distrito congressional do estado do Minnesota, e assume–se abertamente como antissemita, que o mesmo é dizer como defensora do discurso de ódio contra os judeus. Ao ouvir e ler as ideias de Omar, somos reportados para um déjà-vu que pretendemos evitar – e do qual lutamos para sair imediatamente: o regresso da filosofia política do nacional-socialismo. Só falta mesmo aos neonazis encontrarem um líder natural que os comande: Ilhan Omar pode ser a personalidade política por quem os saudosos de Adolf Hitler tanto aguardavam (não por acaso, enquanto escrevemos estas linhas, somos informados que David Duke, o líder do KKK, acaba de considerar a política da esquerda radical americana como a nova “heroína política internacional”) – em último caso, sempre poderão os “neonazis” recrutar os seus dirigentes nas fileiras do Bloco de Esquerda português.
4. De facto, Ilhan Omar parece ter estudado com particular atenção as passagens de Adolf Hitler sobre o povo judeu inscritas no “Mein Kampf” : para Omar, tal como para Hitler, o povo judeu é autor de uma conspiração global para conquistar o mundo e tornar todos os demais seus servos; para Omar, tal como para Hitler, os judeus são os responsáveis pelas práticas criminosas do sistema bancário e pela perpetuação das desigualdades sociais – se não fosse a ganância dos judeus, o mundo seria mais “puro, livre e igual”; para Omar, tal como para Hitler, os judeus são todos “benjamins”, que é a forma moderna de associar os judeus a “parasitas”, como faziam os nacional-socialistas. Acresce que Ilhan Omar é – a própria não faz questão de esconder – uma representante do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que visa a aniquilação total do Estado de Israel, através do seu isolamento internacional. Este movimento, que funciona como lóbi secreto, oculto, imune (ainda) à regulação dos Estados, dispõe de vastos recursos financeiros (cuja origem coincide com a dos principais patrocinadores do terrorismo islâmico radical) que aloca à disseminação de teorias da conspiração contra os judeus. Porque o BDS percebe – ao contrário dos democratas na Europa e nos EUA – que o antissionismo (isto é, a objeção de fundo e por princípio à criação de um Estado judeu) é um antissemitismo. Alimentar o ódio contra os judeus é, por conseguinte, fragilizar o Estado de Israel. Mais: hostilizar os judeus na Europa e nos EUA é o caminho mais eficaz para destruir Israel – isto porque fragilizar Israel globalmente significará um enfraquecimento das capacidades do Estado israelita para se defender regionalmente, deixando-o à mercê dos seus vizinhos inimigos.
5. Donde a eleição de Ilhan Omar para o Congresso dos EUA – para além do facto notável de ser a primeira mulher islâmica a ser eleita para o órgão representativo do povo norte-americano – é um facto histórico cujas consequências só estaremos aptos a apreciar devidamente no futuro: pela primeira vez, temos uma representante declarada e não escondida do BDS, assumidamente antissemita, e que está granjeando o beneplácito de uma parte não despicienda da comunicação social e do próprio Partido Democrata (Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e de um setor do establishment do partido). Eis, pois, mais um retrato – elucidativo e preocupante – da hipocrisia da comunicação social do sistema e dos políticos que servem: andam a repetir longuíssimas e inconsequentes lucubrações sobre a democracia, sobre os direitos humanos, sobre a decência na política; mas depois, na prática, abraçam o ódio político no estado mais puro, disseminam ideias que mancharam a Europa de sangue no século passado e ajudam objetivamente a vender a agenda política dos “inimigos da liberdade”, designadamente daqueles que pretendem matar europeus e americanos em prol de conceções de terror.
joaolemosesteves@gmail.com
Escreve à terça-feira