Ministro do Turismo de Bolsonaro acusado de corrupção

Ministro do Turismo de Bolsonaro acusado de corrupção


Marcelo Álvaro Antônio é acusado de envolvimento num esquema de desvio de fundos públicos, através das chamadas “candidaturas laranjas”  


O atual ministro do Turismo do governo de Jair Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, foi acusado de estar pessoalmente envolvido no esquema das chamadas "candidaturas laranja". O escândalo derrubou ainda o mês passado o ex-ministro da Presidência, Gustavo Bebbiano, responsável pela candidatura à presidência de Bolsonaro, pelo Partido Social Liberal (PSL). Na altura já tinham sido implicados assessores do ministro do Turismo, que manteve o apoio do presidente brasileiro, tendo sido levantada a questão de porque é que Álvaro Antônio se mantinha no governo.

A denúncia foi feita ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais por Zuleide Oliveira, de 41 anos, candidata a deputada estadual. Zuleide garante, em entrevista à "Folha de São Paulo", que a sua candidatura "foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido [PSL]", e para desviar os fundos concedidos à cota de mulheres candidatas. Zuleide afirmou que os arranjos para a "candidatura laranja" foram feitos no gabinete do deputado Álvaro Antônio, a 11 de setembro, na companhia do marido e de um amigo da alegada "candidata laranja". A candidata diz ter sido instada pessoalmente por Álvaro Antônio a assinar o requerimento para pedido de verba, que foi endereçado ao então presidente do PSL, Gustavo Bebbiano.

"Ele [Álvaro Antônio] disse para mim assim: "Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é para vir o fundo partidário para você", descreve Zuleide, acrescentando que o agora ministro do Turismo lhe explicou: "Eu repasso a você 60 mil reais (cerca de 14 mil euros), e você tem de repassar para a gente 45 mil reais (cerca de 10,5 mil euros). Você vai ficar com 15 mil reais (cerca de 3,5 mil euros) para a sua campanha." Quando questionado pela equipa de reportagem da "Folha de São Paulo", o ministro do Turismo diz não ter memória da reunião. 

Os fundos públicos seriam alocados à campanha devido à cota mínima de fundos para mulheres candidatas. No entanto, o pedido de candidatura de Zuleide acabaria por ser indeferido pela justiça eleitoral, devido a uma condenação de 2016, por uma agressão a uma mulher, de que o PSL tinha sido informado por email em agosto. "Hoje eu sei que eles [PSL] sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer às eleições porque eu estava com os direitos políticos suspensos". Zuleide recebeu 25 mil panfletos, com o seu rosto e do atual ministro do Turismo, apesar de nem a secção regional do PSL nem a organização nacional terem declarado à justiça gastos com a candidatura.

Zuleide é a sexta "candidata laranja" revelada em investigações da "Folha de São Paulo", num total de pelo menos 384 mil reais (cerca de 90 mil euros) desviados dos fundos eleitorais destinados à cota de candidatos mulheres. O ministro do Turismo respondeu em comunicado de imprensa que a investigação está a "julgar, condenar, e atacar a honra do ministro", acusando os jornalistas de agir "de forma leviana", e garantindo que estes "estão sendo processados".