Keith Flint.  O desaparecimento inesperado  de um “prodígio”

Keith Flint. O desaparecimento inesperado de um “prodígio”


Começou por ser carpinteiro, depois dançarino e, finalmente, vocalista dos Prodigy, uma das bandas responsáveis por impregnar a música eletrónica de punk nos anos 90. Dono de um visual icónico e conhecido por extravasar, quase à laia de fúria, energia nas suas atuações, Keith Flint morreu durante o fim de semana. Tinha 49 anos


A notícia começou a circular ontem ao final da manhã, adiantada pelo “Sun”: Keith Flint, vocalista dos The Prodigy, tinha sido encontrado em sua casa, em Dunmow, Essex, Inglaterra. A notícia rapidamente foi confirmada oficialmente pelos restantes membros da banda. “As notícias são verdadeiras. Não acredito que estou a dizer isto, mas o nosso irmão Keith tirou a sua própria vida durante o fim de semana. Estou chocado, zangado como o caraças, confuso e de coração partido”, escreveu Liam Howlett, teclista e cofundador dos Prodigy no Instagram oficial da banda. Keith Flint tinha 49 anos e estava a um ano de ver os Prodigy completarem três décadas de vida. Juntos, cunharam temas icónicos como “Firestarter”, “Breathe”, “Smack My Bitch Up” e “Voodoo People”.

Nascido em 1969, em Braintree, no condado de Essex, Flint sofria de uma grave dislexia e foi um jovem problemático, tendo sido expulso da escola aos 15 anos. Começou logo a trabalhar como carpinteiro e a frequentar raves. Foi numa dessas festas, em 1989, que conheceu Liam Howlett que, à data, era DJ. Ficaram amigos e daí a um ano arrancavam, também em Braintree, os The Prodigy, que juntariam na sua música várias influências: eletrónica, punk e rock. Nessa altura, Flint atuava como dançarino e, com a sua fúria juvenil, era o responsável por imprimir choques de energia no público – o vocalista era MC Maxime e Leeroy Thornhill era outro dos membros da formação. Aos rapazes juntou- -se ainda uma amiga de Flint, Sharky, cantora e dançarina, que acabaria por ficar na banda por apenas um par de anos.

O primeiro álbum, “Experience”, foi lançado em 1992, mas um ano antes já tinham libertado o primeiro single, “Charly”, sucesso quase instantâneo nas noites britânicas e que depressa saltou para as tabelas das rádios. Editaram ainda outros dois álbuns na década de 90: “Music For The Jitted Generation” (1994) e “The Fat of the Land (1997)”, que lhes trouxe a consagração definitiva.

Estávamos em 1996 quando lhe passaram o microfone para as mãos para interpretar “Firestarter”. O visual era outra das componentes exploradas por Keith para construir a sua identidade como frontman da banda e foi efetivamente no videoclipe deste tema que mostrou ao que vinha. O cabelo colorido, muitas vezes espetado, os piercings e a roupa influenciaram a geração dos jovens da década de 90 e materializaram o pináculo da cultura punk. Além de “Firestarter”, o êxito “Smack My Bitch Up” fez parangonas pelo mundo – o videoclipe, que mostrava até onde uma noite pode ir numa discoteca, era tão polémico que até a MTV, que premiou o single, só o emitia durante a madrugada. Polémicas à parte, a verdade é que a música dos Prodigy conseguiu extravasar as fronteiras da noite e chegar a muitos públicos – hoje, músicas como “Smack My Bitch Up” são trauteadas sem memória de quaisquer vetos.

Ao longo de quase 30 anos de existência, os Prodigy venderam mais de 20 milhões de discos. Em 2004, Flint não foi o vocalista do álbum “Always Outnumbered, Never Outgunned”, tendo sido substituído por outros artistas, entre os quais Liam e Noel Gallagher, dos Oasis. Mais tarde, Flint, que embora afastado nunca deixou os Prodigy, explicou que esse tinha sido um período negro da sua vida em que lutou contra o vício dos antidepressivos.

Voltou à formação e, nos últimos anos, continuaram sempre a tocar ao vivo. De acordo com o site Setlist FM, estiveram 13 vezes em Portugal. A última atuação em terras lusas aconteceu no ano passado, no Porto, durante o North Music Festival.

Para já, não se sabe qual será o próximo passo da banda. Em abril começariam a digressão do seu último álbum editado no ano passado, “No Tourists”, o que, sem uma parte do seu ADN, será praticamente impossível de cumprir.

“É com o mais profundo choque e a maior tristeza que confirmamos a morte do nosso irmão e melhor amigo Keith Flint. Um verdadeiro pioneiro, inovador e uma lenda. Vamos sentir a sua falta para sempre”