O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, admitiu a hipótese de sair da liderança do partido em 2020, ano de congresso estatutário. Numa entrevista à Lusa, o dirigente comunista acabou por lançar o tema que estava esquecido desde 2015, ano em que surgiram dúvidas sobre a sua permanência à frente dos destinos comunistas.
“Inevitavelmente – é da lei da vida –, acabarei por ter responsabilidades no partido diferentes, alteradas, embora com um sentimento: não vou calçar as pantufas, vou continuar como militante, como a pessoa que sou, a ajudar o meu partido. Continuarei a ser comunista”, afirmou na mesma entrevista, quando questionado sobre o seu futuro. Jerónimo de Sousa avisou ainda que “não vai calçar as pantufas”, tal como já o tinha dito em 2018, numa entrevista ao “Público” e à Renascença. Porém, o secretário-geral comunista fez um discurso em jeito de balanço, a realçar que sairá do cargo como entrou “em termos materiais”. A menos de um mês de completar 72 anos, Jerónimo acrescentou que tem a consciência de ter dado seu melhor, “ não sendo o suprassumo da batata”. Em 2015, na campanha para as Legislativas, o secretário-geral fez-se à estrada, acusando algum cansaço. No ano seguinte, o PCP tinha congresso e, por isso, foram aventados cenários para a sua sucessão, nunca confirmados pela realidade. Assim, Jerónimo de Sousa não só não saiu, como ficou reforçado em 2016, com a escolha unânime do Comité Central. Mais, chegou a ser noticiada a hipótese de vir a existir um secretário-geral adjunto, mas o cenário não se colocou naquele congresso. Na altura, a solução foi a de continuidade, mas também a da estabilidade interna. Além disso, o PCP tinha um ano de acordo com o PS – a posição conjunta como lhe preferem chamar os comunistas – e o tema da sucessão não entrou no debate do congresso.
Agora, a possibilidade de saída é colocada pelo próprio, que tem quase quinze anos de liderança dos comunistas.
Os nomes cogitados na fase pré-geringonça
No PCP, a sucessão de Jerónimo de Sousa não é, para já, tema entre os comunistas mas, em 2015 e 2016, as hipóteses que chegaram a ser cogitadas traduziram-se em quatro nomes: Francisco Lopes, o deputado a quem é apontado bastante peso político junto do aparelho, o líder parlamentar, João Oliveira, pelo seu papel de destaque na bancada comunista, mas também o do autarca, Bernardino Soares. Contudo, o presidente da Câmara de Loures tem enfrentado várias polémicas por causa dos ajustes diretos – noticiados pela TVI – com o genro do líder comunista. Facto que o tem colocado na mira da oposição na autarquia.
João Ferreira, biólogo de profissão, é vereador na câmara de Lisboa e também eurodeputado. O Comité Central escolheu-o novamente para cabeça de lista nas eleições europeias de 26 de maio, tendo a difícil missão de tentar manter ou aumentar o voto dos comunistas na Europa. “É uma batalha naturalmente difícil”, chegou a reconhecer Jerónimo de Sousa.