Ficámos ontem a saber que a Associação Sindical de Juízes decidiu celebrar o Dia Mundial da Mulher – criado para comemorar a luta feminista – organizando um workshop de maquilhagem. Isto na mesma semana em que uma senhora do CDS escreveu um artigo brilhante no “Observador” em que retrata a mulher com uma bela fada do lar, parideira e que gosta de se subjugar ao marido para que possa orgulhar-se do sucesso profissional do seu macho. Semana esta onde também o juiz Neto de Moura voltou a ser notícia por mais um acórdão polémico em que volta a maltratar uma mulher.
É escusado dizer que não há machismo em Portugal. É claro que existe e que está presente nas mais diversas áreas: da política às finanças, passando pelos tribunais, pelas televisões e até pelos jornais. É óbvio que existe um problema grave de violência doméstica no nosso país e que é o machismo o principal responsável pelo mesmo. Por fim, é ainda mais claro que grande parte deste machismo, como comprova o texto da senhora do “Observador”, é fruto do preconceito de algumas mulheres.
Sempre contratei muito mais mulheres do que homens, adoro trabalhar com mulheres e tenho a sorte de, na minha família e na minha empresa, estar rodeado de mulheres trabalhadoras e de sucesso. Mas sou o primeiro a apontar o dedo à mulher que acha que é sempre ela e não o marido que deve cuidar do filho quando fica doente para “ser boa mãe”, ou tratar sozinha das tarefas domésticas porque “ele não tem jeito”, ou cozinhar todos os dias porque a “mãe o habituou a não fazer nada”, ou não ter muitos namorados para “não parecer uma porca”, ou deixar de sair à noite porque “ele tem ciúmes”, ou prejudicar a carreira porque “ele não gosta que fique até tarde na empresa”, e por aí em diante.
O feminismo não precisa de quotas na política e nas empresas. Precisa, antes do mais, de mulheres que batam com o punho, todos os dias, em todas casas e em todas as empresas. Está nas mãos das mulheres a mudança das mentalidades.
Atitudes e palavras como as de Neto de Moura, da Associação Sindical de Juízes e da senhora do “Observador” não são admissíveis em pleno séc. xxi mas, infelizmente, ainda são o espelho de um Portugal de espírito medieval. Se não denunciarmos estes casos, estaremos a ser cúmplices destas ideias e, pior do que isso, estaremos a construir um Portugal atrasado e pouco tolerante. É este o país que queremos deixar aos nossos filhos?
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